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- Cortaste o cabelo?
- Cortei.
- Não devias cortar tanto. Pareces mais velho.
- Ai, sim?
- Sim, notam-se mais os cabelos brancos.
- Certo.
- É engraçado, tu és o mais novo, mas és o que tem mais brancas.
- Obrigado, mãe, também gosto muito de ti.
8 mil milhões, hoje. Confirma-se, somos mais que as mães.
Coisas que se encontram no lar da minha mãe. Saúde e Lar. Saudinha é o que é preciso.
A mãe não gosta de deitar coisas fora. Nem gosta de ver coisas deitadas fora. No outro dia, viu um saco cheio de CD, ao lado do contentor. Resgatou-os.
- Mas, isto é tudo pirata, mãe!
- Como assim?
- Isto são discos copiados em casa - como as cassetes, antigamente.
- Pois, isso não sei.
Olhei para as capas. Muitas estavam escritas, à mão.
- Mas tu gostas desta música?
- Acho que não gostei de nada.
Pelos vistos, a mãe torceu o nariz às "house sessions", fez caretas aos "techno beats" e não se deixou encantar pelo "drum n' bass" (desculpa, LTJ Bukem).
Mexe a chávena do café, enquanto aponta, com o queixo, um CD.
- Acho que só gostei desse aí.
Olho para a capa do CD dos Portishead, numa impressão de má qualidade. Glória à mãe.
"Onde estás tu, papá?", canta Stromae em "Papaoutai". "Onde estás tu, papá? Onde é que te escondeste?", pergunta angustiado. A mãe tenta dar-lhe conforto: "Ele não está longe. Foi trabalhar. Sempre é melhor do que estar mal-acompanhado". É impossível não pensar na história do próprio Stromae / Paul Van Haver: filho de mãe belga, orfão do genocídio de 1994, no Ruanda. Mas é, também, difícil não pensar em tantas crianças que, por estes dias, estão a perder os pais (provisória ou definitivamente). "Toda a gente sabe como é que se fazem os bebés", diz Stromae, "Mas ninguém sabe como é que se fazem os papás". Não, não sabe. Desconfio, porém, que se fazem com filhos. Esses, que, agora, estão a separar dos pais.
Ontem, foi dia do pai. Fui jantar fora. O restaurante estava cheio. Mesmo cheio. A abarrotar, por dentro e por fora. Com filas à porta e carros em segunda fila. Confirma-se: os pais "são mais que as mães".