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A Comic Con está de regresso a Portugal. A grande novidade, deste ano, é o uso obrigatório de máscara. Acho muito bem. Não deve ser um direito exclusivo dos super-heróis.
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden anunciou que o uso da máscara deixa de ser obrigatório, para quem já tomou as duas doses da vacina contra a COVID-19.
Máscara e óculos. Vejo tudo enevoado. Às vezes, fico muito irritado. Outras vezes, até gosto. Parece que estou em Londres. Em tempo de pandemia, usar óculos e máscara é o cosmopolitismo possível.
Esta manhã, fui ao estendal buscar uma máscara. Como muita gente passou o confinamento à lareira, cheirava a fumeiro. Acho que vou passar o dia a pensar em chouriça com grelos. Pensem nisto, senhores empreendedores: podem vender máscaras com aroma a enchidos. São saborosas e não fazem mal ao colesterol. Podem, até, vender aos pares. A outra deverá ter aroma a vinho tinto. Não precisam de agradecer.
Lembram-se quando "deixar cair a máscara" era, apenas, uma expressão idiomática? Ai, que saudades...
Primeiro, um piano minimalista. Poderia ser Philip Glass. Mas, 5 segundos depois, chega a voz de Rufus. Aos 30 segundos, chega, também, um violino. A tensão vai subindo, com a entrada da bateria e um som electrónico que lembra Kraftwerk. Pouco depois, explode o refrão: com os metais a juntarem-se às cordas e a um coro de vozes femininas. E é, então, que nos lembramos que Rufus é um compositor apaixonado por musicais; e ópera; e música sinfónica. E cantou Judy Garland; e escreveu duas óperas; e musicou poemas de Shakespeare. Pouco depois do minuto 2, uma pausa dramática serve, sobretudo, para relançar a tensão. A voz de Rufus sobe de tom, depois arrisca o falsete, e as vozes femininas começam a fundir-se com a eletrónica e os sons orquestrais, lembrando os ABBA em fim de carreira. E eu quase que não consigo respirar, e tento retirar a máscara. E, depois, reparo que não tenho máscara. É mesmo da música: de cortar a respiração. Que grande canção, Rufus Wainwright, que grande regresso.