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Primo Basílio

por Miguel Bastos, em 18.02.25

primo.jpg 

Presidenciais de 91. Depois de ter vencido Freitas do Amaral, Mário Soares voltava a enfrentar um nome histórico do CDS. Nessa noite, Basílio Horta iria fazer um comício na minha terra. Eu e o Carlos passámos pela casa do Afonso. "O Afonso não está", diz-nos o irmão, a sorrir, "foi ver o primo Basílio". Os dois irmãos eram muito diferentes. O Renato vivia com o pai e era todo "Soares é fixe!". O Afonso vivia com a mãe e tinha sido todo "Prá frente, Portugal!". Já o Carlos, ao meu lado, era todo "Quero lá saber!". Disse o Carlos: "É um tipo fixe, o Renato. Só não percebi a do primo Basílio". Tentei explicar-lhe que Basílio era o candidato às eleições presidenciais, mas ele interrompeu logo: "Ah, então é isso. Eu não tenho pachorra nenhuma para política". "Nota-se", respondi. "Mas porque é que ele disse 'primo'? Eles são primos?". "Por causa do livro do Eça de Queiroz", respondo. "Ah, não tenho pachorra para ler". "Também se nota", respondo. "Ai sim?" (de repente, o Carlos mostrou-se zangado) "Por acaso está escrito na minha cara?!". "Não. Mas, se estivesse, também não ias ler, pois não"?

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Soares: 100 anos

por Miguel Bastos, em 05.12.24

soares serralves.jpg

 
Nos 100 anos de Mário Soares, "O sal da democracia": uma exposição com livros autografados, primeiras edições, correspondência, pintura, escultura e muitas cumplicidades. Com destaque para a relação entre Mário Soares e Júlio Pomar. A partir de amanhã, em Serralves. 
 
Para ouvir, aqui.
 
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/mario-soares-em-exposicao-na-casa-de-serralves_a1619668

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25 de Abril, é só nosso?

por Miguel Bastos, em 27.04.23

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O 25 de Abril é "nosso", foi um dos argumentos utilizados para questionar ou, mesmo, repudiar a presença do presidente do Brasil, em Portugal. É "nosso", sim. Mas, será só nosso? Dei por mim a reler partes deste livro do historiador britânico Kenneth Maxwell (especialista em Portugal, Espanha e Brasil). O livro aborda "A construção da democracia em Portugal", centrando a sua análise no período entre 1974 e meados da década de 1980 - com a entrada na CEE, a eleição presidencial de Mário Soares e as maiorias absolutas de Cavaco Silva. Mas contextualiza este período, de pouco mais de 20 anos, com a história de Portugal: desde a sua fundação, até ao período do Estado Novo. O livro do historiador termina com Ciência Política, evocando a "terceira vaga de democratização", de Samuel Huntington. De acordo com esta teoria, o 25 de Abril foi o precursor da transição democrática nos países da América Latina e da Europa de Leste, na transição dos anos 80 para os anos 90. Fomos, portanto, uma inspiração para o mundo. Mas, pelos vistos, há quem prefira que sejamos os maiores da nossa aldeia.

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Comó Cavaco Silva

por Miguel Bastos, em 29.11.22

barroso soares cavaco.jpg 

A avó não parecia muito convencida.
- Então, mas ela não tinha acabado o curso?
- Já. Mas, agora, vai receber o diploma de doutoramento.
- Mas, ela não era doutora?
- Era. Quer dizer, mais ou menos. Era licenciada.
- Não percebo.
A avó não estava, mesmo, convencida.
- Quando as pessoas tiram o curso, são chamadas de doutora.
- Mas tinha acabado, ou não?
- Acabou. Mas, depois, tirou o mestrado e, de seguida, o doutoramento.
- Não percebo nada.
- Por exemplo, está a ver o Mário Soares?
- O que é que ele tem?
- Tem um curso, uma licenciatura. É, por isso, que dizemos "o doutor Mário Soares".
- Exato.
- Já o Cavaco Silva...
- Ele não fez o curso?
- Fez, mas fez mais do que isso. Depois de fazer o curso - como o Mário Soares - , foi estudar uns anos para o estrangeiro e tirou o doutoramento.
- Hum...
- Por isso, é que lhe chamam "Professor Cavaco Silva" ou, então, "Professor Doutor Cavaco Silva".
- Ahhh...
- Porque é doutor - como o outro - mas está um patamar acima. Para além de doutor, é professor.
Desta vez, a avó pareceu mais convencida. Uns dias depois, ouvi a conversa.
- Então a sua neta, está boa?
- Está. Sabe, ela agora é doutora...
- Sim, senhora. Parabéns!
- Mas não é "comó" Mário Soares, não.
- Ai, não?!
A avó, de peito inchado e dedo em riste.
- Não, ela, agora, é doutora "comó" Cavaco Silva!

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A mocidade

por Miguel Bastos, em 14.02.22

zita.jpg

Vejam lá, como ela é moderna! Que nem precisa "de ver a RTP, a SIC, porque, com o Twitter, ficamos a par do que se está a passar, e com mais rigor do que quando é filtrado por alguém". Portanto, Zita Seabra só lê coisas à roda dos 140 carateres, mas gosta do expor o ego ao Sol, em 6 longas páginas. Um ego fresco e jovem, que anuncia a morte do PCP, do PSD e do CDS. E que exaspera com um Portugal envelhecido, que parece um museu. Zita sabe do que fala, porque ela também já foi muito velha. Lembro-me dela, em comícios e debates, com o seu ar de professora de liceu, de saquinho de cabedal a tiracolo, a apontar o dedo a jovens reformistas, como Mário Soares e Cavaco Silva. Mas, entretanto, Cavaco deu-lhe a mão e Zita aproveitou para fazer um "reset". E, depois, um "restyling" completo, com muito liberalismo e Vox e Chega e Salvini e os tweets de Donald Trump. Que bonita, a mocidade Zita!

Pode ler a entrevista aqui, ou na imagem

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Adeus, Jorge Sampaio

por Miguel Bastos, em 10.09.21

sampaio.jpg

"Gosto e reivindico a capacidade de me comover". Jorge Sampaio rejeitava, assim, a imagem que lhe colocavam do político palavroso, intelectual, frio e distante. A culpa, dizia o próprio, era da cor do cabelo, que não disfarçava a ascendência britânica. Jorge Sampaio teria características dessa herança familiar: metódico, polido, educado, disciplinado, assertivo. Mas era também latino: afetuoso, sentimental, empático, solidário. Esta manhã, na Antena 1, uma antiga assessora referia que o (então) Presidente da República avisava sempre: não lhe pedissem para ser algo que ele não era; nem para dizer coisas que ele não sentia, nem concordava. O que, em política, não costuma dar bons resultados: nem eleitorais, nem de popularidade. Quando José Sócrates chegou à liderança do PS, Mário Soares chamou-lhe o "anti-Guterres". Jorge Sampaio terá sido o "anti-Soares". Não tinha as características que todos os políticos "têm" de ter: porque não queria ter, nem fingir que as tinha. Colocou-se, como era, à disposição do escrutínio e do sufrágio públicos. Prontificou-se a perder - se fosse necessário. Por vezes, perdeu. E, desse modo, a democracia ganhou sempre. Adeus.

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Olhe que não, olhe que não!

por Miguel Bastos, em 17.08.21

cunhal.jpg

- Estou-lhe a dizer, dr. Cunhal, o Pai Natal existe!
- Olhe que não! Olhe que não!
- Existe, pois! Deu-me um livro e tudo!
- Olhe que não, olhe que não!
- Veja, está aqui.
- Não foi o Pai Natal...
- Ai, não?
- Foi a sua Mãe, no Natal!

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Amordaçado

por Miguel Bastos, em 08.03.21

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Depois do discurso sobre a "democracia amordaçada" e o "cinquentenário da Revolução de Abril", resolvi regressar às páginas deste livro de Cavaco Silva. É, sem dúvida, o seu livro mais interessante.

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Marcelo

por Miguel Bastos, em 25.01.21

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Marcelo Rebelo de Sousa teve um resultado histórico. Ganhou, com mais de 60% dos votos. Um resultado muito semelhante à primeira eleição de Ramalho Eanes, em 1976. Melhor, só a reeleição de Mário Soares, em 1991. Marcelo ganhou, em todos os concelhos de Portugal. Todos. O melhor resultado de sempre. Isto não pode, nem deve, ser desvalorizado. Chama-se democracia.

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