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Hoje, vim para o trabalho a ouvir a voz e a guitarra mágica de Tom Verlaine, nos Television. Ouvi o disco "Marquee Moon" e repeti a sensação de frescura e familiaridade que tive, quando o ouvi pela primeira vez. Cheguei aos Television, pela mão dos seus descendentes - um pouco à semelhança do que tinha acontecido com os Velvet Underground. Ouvi "Marquee Moon", com a voz de Verlaine (aguda e repleta de vibrato) e a guitarra rendilhada e virtuosa (mas isenta de virtuosismos estéreis) e pensei nas bandas que marcaram a minha adolescência: dos Felt aos Go-Beetweens, de Lloyd Cole and The Commotions a Siouxie and The Banshees, dos Echo and The Bunnymen aos Cocteau Twins. Pareciam que já estavam todos, ao mesmo tempo, em "Marquee Moon". O disco surgiu em 1977 - o ano seminal do punk. Não é, no entanto, uma herança datada. Quando ouvi, pela primeira vez, os Arcade Fire, senti que a herança dos Television estava lá. Tom Verlaine nunca alcançou a respeitabilidade de Lou Reed, nem foi tão inventivo como David Bowie (que o chegou a cantar), mas deixa um legado importante. Mesmo naqueles que nunca ouviram: nem o seu nome, nem a sua música.
Gosto de discos. De álbuns. Com princípio, meio e fim. Ou sem nada disso, se for essa a vontade dos artistas. Nos discos, nos bons discos, há tesouros escondidos: que não passam nas playlists das rádios; que não são sucessos de vendas e tops; mas que, muitas vezes, são relíquias, obras-primas. Por vezes, essas canções são sucessos póstumos. Outras vezes, permanecem esquecidas, mas preciosas. Esta canção, de Lloyd Cole and the Commotions, tem a voz maravilhosa de Tracey Thorn (dos Everything but the Girl) e o trompete mágico de Jon Hassell, que ontem morreu, aos 84 anos, discretamente, em surdina.
Levei mais de 30 anos para seguir o conselho de Lloyd Cole: "Read Norman Mailer", cantava ele em "Are you ready to be heartbroken". Convenhamos, o jovem Lloyd parecia uma enciclopédia. Debitava nomes e obras, à velocidade da luz: Arthur Lee, Simone de Beauvoir, Renata Adler, Eva Marie Saint. Tinha ali, num disco de música pop, matéria para ler, ver e ouvir até à idade da reforma.
No terceiro disco, Cole falou de Sean Penn e Madonna. "Sempre a descer", pensei eu. Mal. Entretanto, apaixonei-me pelos dois. Norman também, ao que parece. É famosa a sua entrevista a Madonna. Que eu li enquanto pensava: "Ainda não li Norman Mailer".
Demorei mais de 20 anos a comprar o livro "Os nus e os mortos". A primeira obra de Mailer comemorava , então, 60 anos. O autor tinha morrido no ano anterior. Depois, o livro ficou 10 anos a apanhar pó na prateleira. O livre é grande (mais de 700 páginas) e suspeitava que fosse denso. Não me enganei. É grande. É denso. E é uma obra-prima.
Mais de 30 anos depois, devia agradecer a Lloyd. Está velho, como o Norman quando era mais novo, mas bem vestido. Eu não. Serão precisos 30 anos para a próximo verso: "Get a new tailor"?