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No sábado, vai haver uma tainada na aldeia de Melo. Põem-se umas mesas, cá fora na rua, e come-se e bebe-se com os escritores. Vai ser uma festa. Parece que os escritores gostam tanto da terra de Vergílio Ferreira, que começam a chegar hoje.
Para ouvir, aqui:
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/festival-dedicado-ao-escritor-vergilio-ferreira_a1604065
Nuno Pacheco assinala a coincidência, hoje, no Público,: "no mesmo ano em que Manuel Alegre escrevia esta sua trova ['Trova do vento que passa'], 1963, era editada do outro lado do Atlântico mais uma canção a falar do vento, 'Blowin' in the wind'".
A coincidência é destacada no livro "Canções da Liberdade, a Política Cantada em Portugal e no Mundo (1964-1974)". Nuno Pacheco evoca, depois, outros livros que abordam o tema da canção política: entre eles o recente (e excelente) 'A Revolução antes da Revolução', de Luís de Freitas Branco.
Outra coincidência: este texto está nas costa de outro, também no Público, 'À volta da aparelhagem', onde Miguel Esteves Cardoso reflete sobre a falta de discussão dos mais jovens, à volta do prazer de ouvir música e ver televisão, em conjunto, lamentando que já ninguém o faça.
Terceira coincidência: escrevo este texto, enquanto tento adivinhar o que Capicua estará a conversar, no estúdio que fica debaixo dos meus pés, com o autor de um disco que se chama, precisamente, 'Coincidências': Sérgio Godinho.
Coincidências. Que as há, há. Felizmente.
- Ó pai, eu comecei a falar muito cedo, não foi?
- Sim.
- Lembras-te qual foi a primeira palavra que eu disse?
- Não tenho a certeza. Talvez, "etimologia".
- Isso quer dizer o quê, pai?
- Não sei. Tens de ir à origem da palavra.
- Ok, depois eu vou.
- Não queres ir já?
- Não. Primeiro tenho de ir lanchar.
Por norma, não gosto de sequelas. Mas desta gostei. O "Namoro II", dos Trovante, é uma sequela do "Namoro", do Fausto, que eu conhecia dos concertos, do Godinho. "Aí, Benjamim", gritávamos nós, da plateia, para que o Sérgio, no palco, nos ouvisse. Para perceber melhor a letra do "Namoro II", ouvi, vezes sem conta, o "Namoro" que o Godinho gravou (com o Fausto na guitarra, curiosamente) no álbum "De pequenino se torce o destino". Finalmente, 3 anos depois do "II", eis que Fausto grava, finalmente, o "seu Namoro", no álbum "A preto e branco" - o mais africano dos seus discos. Em vez de escolher um namoro, em vez de afirmar que não há amor como o primeiro, fico com os três. Fico com um tríptico, ao gosto de Fausto.
No dia da morte de Fausto, recupero este texto, com cerca de ano e meio.
"Não se deve confundir", diz a expressão, "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras". "Por este rio acima" é uma obra-prima e acaba de fazer 40 anos. Baseado nas viagens de Fernão Mendes Pinto, as letras do disco são um mergulho nas profundezas dos descobrimentos. Por vezes, o mergulho exige apneia: cheira a morte, a doença, a carne queimada e esventrada. Não há, aqui, qualquer exaltação ao lado bravo, guerreiro e conquistador - apenas, o lado escuro dos descobrimentos. A riqueza das letras é tão grande que acabou por secundarizar, involuntariamente, a riqueza das canções, dos arranjos, dos instrumentos. As percussões tradicionais portuguesas, mas também as tablas e as baterias; a guitarra portuguesa e o cavaquinho, tal como o alaúde e a viola de gamba; o piano acústico e os sintetizadores; as cordas e os instrumentos de sopro. Tantos instrumentos que acompanham a voz e a viola acústica de Fausto, omnipresentes, que, ora nos levam para paisagens exóticas e longínquas; ora nos trazem de volta a Portugal, com ritmos e melodias que nos são familiares. Obra-prima.
"Por este rio acima" é um álbum duplo, denso, conceptual, com um pequeno "libreto" ilustrado no interior. A viagem cresceu para trilogia, de forma tão avassaladora que (porventura) acabou por se sobrepor à obra integral de Fausto, que pode/deve ser (re)descoberta. Estamos perante um caso em que não se confundiu "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras", mas em que, por causa da obra-prima, se poderá ter deixado de reconhecer, devidamente, o mestre que a criou.
A coisa foi feia, com mortes que só podiam ser crimes e que estavam a minar a igreja, por dentro. Era preciso resolver o assunto. E foi, por isso, que chamaram William de Baskerville, que resolveu o mistério. A tragédia radicava, afinal, na comédia. O riso, defendeu o velho Jorge de Burgos - guardião da biblioteca e da moral - cria dúvidas e afasta o medo. E sem medo, não há temor a Deus. E sem temor a Deus, não há crença, nem religião.
Umberto Eco escreveu "O nome da Rosa", há 40 anos. Esta manhã, o Papa Francisco chamou humoristas de todo o mundo. Para lhes dizer que "quando vocês fazem alguém sorrir, Deus também sorri". Sem medo.
- Ólhó Luis Vás!
- Olá.
- Gostas-te da festa dontem?
- Isso está cheio de erros, sabias?
- Ya, "Erros meus, má fortuna" e coiso e tal...
- O que é que estás a fazer?
- Tou a chatear o Camões...