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10 de Junho

por Miguel Bastos, em 11.06.25

Uma cerimónia de família afastou-me, ontem, da cerimónia do 10 de Junho. Ouvi, com atraso, o discurso do "aqui ninguém tem sangue puro", de Lídia Jorge. Belíssimo discurso. Infelizmente, a seguir, tive de ouvir o "vai para a tua terra", na cerimónia aos antigos combatentes - com direito a saudação nazi - e a notícia da agressão ao ator Adérito Lopes, à porta do teatro A Barraca, por um grupo de "portuguezes" com z. "Ninguém tem sangue puro". Ninguém. Muito menos quem tem sangue nas mãos.

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PPD! PPD! PPD!

por Miguel Bastos, em 06.06.25

sá carneiro.jpg 

"Miguel, como é que é?", perguntava a amiga da minha mãe. E eu saía para a rua, braços do ar, dedos em "V", de vitória: "PPD! PPD! PPD!". Toda a gente sorria. Naquele tempo, o PPD era muito popular na mercearia da minha mãe. As senhoras elogiavam o Sá Carneiro e comparavam com outros políticos. Era muito melhor que o "bochechas" e infinitamente melhor do que o "cavalo branco". Uns "estes" e uns "aqueles". "Não viu n' O Diabo o que eles fizeram, desta vez?" "A Vera Lagoa é que os topa a todos." "Miguel, como é que é?" Na minha cabeça, o "bochechas" e o "cavalo branco" misturavam-se com o Major Alvega, o Zé Gato, a Gabriela ou a Lina. A Lina era filha da dona Alzira. Mas, apesar de morar lá na rua, parecia saída de um filme americano. Era alta, de sapatos altos, "como os do Sá Carneiro". "Não me diga que nunca reparou nos tacões?!" E era loira. "A do Sá Carneiro, também". E tinha o cabelo escorrido, a cair pelas costas abaixo. A Lina. Usava cigarro, na mão direita, e namorado, no braço esquerdo: o Zé Nando. O Zé Nando tinha um ar amalucado e mais cabelo do que ela: na cabeça, sim, mas, também, na cara e no peito. Casaram-se, no civil: os dois, de ganga e cigarro na mão. Nunca tal se tinha visto. Foi tema de falatório. A Gabriela, também era: meia despida e completamente descalça. A Lina, ao menos, usa sapatos. A Gabriela, não. Sempre a recusar os sapatos do Seu Nacib. Mas, aí, é a fingir, é na televisão, é no Brasil. "Aqui é diferente". A Lina, nem um vestido, como deve ser. Nem um véu, nem uma grinalda. Nem um homem, como deve ser. O pai morreu, "ui, há muitos anos!". O Zé Nando é um rapazolas, de jardineiras. Só ganga, para ele e para ela. Credo, valha-nos o Sá Carneiro. "PPD! PPD! PPD!" O Sá Carneiro, que nem precisa de escrever os discursos. Diz tudo de cor. Diz tudo o que tem que ser dito. Sem papas na língua. O Sá Carneiro.

Antes de conhecer a social-democracia. Antes, muito antes, eu conheci a social-mercearia.

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15 anos depois

por Miguel Bastos, em 04.06.25

CURA.jpg 

Passaram mais de 15 anos, desde o último disco, e quase 35, desde "Desintegration" - o último disco relevante dos The Cure. Depois de várias aventuras sonoras (umas mais bem sucedidas do que outras), o álbum "Desintegration" foi encarado, na altura, como um regresso à sonoridade de Faith (1981) e Pornography (1982) - com músicos mais competentes, em termos técnicos, e arranjos mais sofisticados. Por sua vez, o novo disco dos The Cure ("Songs of a Lost World ") tem sido comparado a "Desintegration". Desta vez, porém, a maior diferença está no quase alheamento da estrutura tradicional da canção pop. Neste disco, não há canções que se aproximem de "Lullaby", "Pictures Of You" ou "Lovesong". Em compensação, os temas são muito bem cuidados, em termos instrumentais, podem estender-se para lá dos 10 minutos e parecem condensar o melhor dos The Cure, ao longo dos anos, e dos grupos ao seu redor. As letras sobre perda e abandono remetem para os Joy Division; a tensão e raiva, para Siouxie and The Banshees; a sonoridade melancólica para os Cocteau Twins ou Durutti Column. "This is the end", canta Robert Smith no início do disco - que termina com "It's all gone" (...) "Left alone with nothing". Sim, “tudo isto é triste", "tudo isto existe" e, até, parece fado. Bem bonito, este "Songs of a Lost World".


Vá lá, meninos, ponham-se aí… um chorozinho para a fotografia. Já está, obrigado.

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Delícias do Mar

por Miguel Bastos, em 30.05.25

gobern.jpg

"As delícias do mar levam caranguejo?!", perguntei intrigado. Devolveram-me um "Sim", irónico, e uma contra pergunta: "Porquê, achavas que eram feitas com lavagante?". "Não", confessei, "achava que eram 100% artificiais". Pensei nesta conversa, porque o João Gobern tem um novo livro, sobre a indústria musical. O João traça - com rigor, mas, também, com uma certa mágoa - o retrato da decadência desta indústria, marcada pela perda de importância do disco - uma consequência do "download" e do "streaming". No entanto, acabei o livro (em dia de reflexão nacional) com algum otimismo: "Com que então, ainda há indústria... ". Nada mau. Ah, e o livro é (naturalmente) uma delícia.

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112 anos de Helena

por Miguel Bastos, em 26.05.25

HELENA SÁ E COSTA 112 ANOS.jpg112 é número de emergência. Mas, neste caso, é número de permanência. Se fosse viva, Helena Sá e Costa faria 112 anos. Permanece um dos nomes mais importantes da música clássica, em Portugal. Permanece, nas mãos dos pianistas - seus discípulos. Há poucos dias, conversei com um: António Pinho Vargas. Há poucos meses, conversei com outro: Pedro Burmester. Pedro vai tocar esta tarde, com Fausto Neves (outro discípulo), na casa da família. Juntos vão interpretar uma peça para dois pianos, que o pai de Helena escreveu e tocou com a filha. E vão tocar no piano do pai e no piano do avó de Helena. Mais intimidade é difícil.

Para ouvir, aqui:

https://www.rtp.pt/noticias/cultura/familia-da-pianista-helena-sa-e-costa-da-a-conhecer-sessao-musical-intima_a1657548

 

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João Gobern

por Miguel Bastos, em 15.05.25

gobern.jpg 

Para muita gente, o João Gobern é aquele "gajo gordo do Benfica, que agora é magro". Sim, é esse, o da televisão. Mas não é esse que eu conheço. Para mim, criança com pouco mais de um metro e pouco mais de 20 kg, o João Gobern era um nome com um texto grande e uma foto pequenina na Música e Som e no Se7e. Escrevia sobre os meus heróis da música e entrevistava alguns deles. E, ao fazê-lo, ele próprio tranformava-se num herói. Depois, já adolescente - com o meu corpo a resistir a ganhar peso e altura - continuei a seguir o Gobern: na rádio (Comercial, TSF, Antena 1); nas revistas (Visão, Focus, Sábado), nos jornais (Independente, DN). Há décadas que o João é um produto multimédia.
 
Entretanto, os meus olhos ganharam idade e miopia e passei ver o João no trabalho: no meu, no nosso. Escrevo este texto, com o João (de herói a "boy next door") a trabalhar num estúdio a dois metros de mim e a espreitar o novo livro do Gobern, que o João deixou na minha secretária. Chama-se "Tira o Disco e Toca ao Vivo" - uma variação sobre a expressão "Vira o disco e toca o mesmo". Fala sobre a indústria musical em Portugal, onde (à semelhança do resto do mundo) o disco tornou-se um objeto raro, usado para abrir portas ao mercado da música ao vivo. Ainda não li - o livro caiu-me agora no colo - mas já estou a gostar. Desde logo, pelo tema; depois, pelo nome dos capítulos (são nomes de canções portuguesas) e, finalmente, pela dedicatória que me fez: "Para o Miguel, com quem tenho o prazer de trocar umas bolas sobre (mais) esta paixão que nos aproxima - a da música."
 
Obrigado, João. Devia retribuir, mas não escrevi nenhum livro para a troca. Se calhar, devia-te comprar uma capa - daquelas, de super-herói.

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Os mortos dançam

por Miguel Bastos, em 12.05.25

dead can dance.jpg

Discos perdidos. Encontrei este disco. Estava perdido, no parapeito de um estúdio cá do meu rádio. Chama-se "Spiritchaser", é dos Dead Can Dance e data do ano da graça de 1996. Não foi de graça. Tem um autocolante, no verso, a dizer 3 mil e 900 escudos - o que quer dizer que não deve aceitar pagamento em euros, nem MB WAY, nem outras modernices. Mas, permanece moderno. E permanece antigo. E é gótico e celta e africano e oriental - é um disco único e indefinível. Tem outro autocolante, na capa, a dizer "Radiodifusão Portuguesa". Radiodifundi este disco, muitas vezes. Misturava-o com coisa tão diferentes como a Banda do Casaco e os Massive Attack; David Bowie e Cesária Évora; Frei Fado d'El Rei e Peter Gabriel.
 
"Spiritchaser" foi o último disco dos Dead Can Dance para a 4AD (a editora dos Cocteau Twins e dos This Mortal Coil) antes de uma pausa, que acabou por durar 15 anos. Pelo meio, os dois membros da banda dedicaram-se a outras aventuras - com destaque para Lisa Gerrard, que se afirmou na escrita para cinema e assinou a banda sonora de "O Gladiador", com Hans Zimmer, que foi distinguida com um Globo de Ouro.
 
Estou a ouvir "Spiritchaser", meio morto, depois de me ter levantado a meio da noite, para uma manhã na rádio. Confirmo: Dead Can Dance. Mal, mas dançam.

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Nheca nheca

por Miguel Bastos, em 06.05.25
"Um debate nada nheca nheca" foi o título escolhido para o primeiro jornal de campanha, da Antena 1.
Há onomatopeias que valem mais do que mil palavras.
O "zig-zag" soou requentado. Mas, o "nheca nheca" soou-me a "pumba".
 
"Vamos a votos"? Vamos. "Vrum, vrum".
 
Para ouvir, aqui:
 

 

 

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Cortesia

por Miguel Bastos, em 05.05.25
"Passa por cima, ó palhaço!"

"Deves ter tirado a carta por correspondência, pá!"

"Eu vi logo, que era uma mulher ao volante!"

Hoje, é Dia da Cortesia ao Volante. E, portanto, não devia estar, aqui, a escrever estas coisas.

Mas é, também, Dia da Língua Portuguesa. E é preciso celebrar a língua de Camões. Praticando-a.

"Percebeste? Ou queres que faça um desenho!"

"Estás a apitar, é? Isso é para mim?"

"Põe-te mas é a andar!"

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