por Miguel Bastos, em 02.06.23
Não costumo gostar de títulos tão taxativos. Gosto mais que me apresentem prós e contras e razões e contexto para, depois, tirar as minhas próprias conclusões. Mas, Jorge Carrión vai direito ao assunto e diz que é "Contra a Amazon", apresentando sete razões que fundamentam a sua posição:
1. Porque faz fechar livrarias ("e a Amazon não é uma livraria, é um supermercado")
2. Porque transforma as pessoas em robôs ("a eficácia extrema que apenas é possível se formos máquinas")
3. Porque é amoral / imoral (suportada por uma "grande estrutura económica e política")
4. Porque é imperialista ("Pagamo-lo em dinheiro e em dados")
5. Porque nos espia ("se lermos no seu dispositivo, saberão tudo sobre as nossas leituras")
6. Porque defende a rapidez (quando "O desejo deve durar". "Há que ir à livraria" )
Mas, por fim, acaba por confessar que
7. Não é ingénuo ("Compro na Amazon", "Procuro informação no Google", "Ofereço dados ao Facebook")
Tudo isto é "despachado" em menos de 13 páginas. Depois, nos capítulos seguintes, o autor de "Livrarias" dedica-se àquilo que mais gosta: a visitar livrarias (e livros e autores). Releio o subtítulo ("E outros ensaios sobre a humanidade dos livros"), enquanto avanço no livro. Percebo que as restantes 225 páginas servem para explicar o título e, sobretudo, o subtítulo. É de humanidade que o autor fala. Aquela que só se encontra nas livrarias, nos livros e nos que amam os livros.