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Portugal ao espelho?

por Miguel Bastos, em 12.03.24

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Antes, durante e depois da revolução. A saga de uma família, ou de um país? Ou de vários países, dentro de um mesmo país? Esse país, ainda existe?

"Revolução", de Hugo Gonçalves, conta a história de três filhos, muito diferentes entre si. A mais velha, militante do PCP, foi presa pela PIDE. Abandona o PCP, para se radicalizar, à esquerda. A irmã tem um perfil conservador, que parece conviver melhor com o salazarismo, do que com os tempos conturbados do PREC. O mais novo vive num mundo interior e hedonista, com contactos esporádicos com a irrealidade daqueles anos. Os três são filhos de uma mulher, aparentemente conservadora, outrora mãe solteira, que ascende socialmente pelo trabalho e pelo casamento com um homem de hábitos aristocratas e sobrenome estrangeiro. "Storm" é um nome que antecipa a tempestade perfeita, num país prestes a rebentar - pelas costuras e pelas bombas da extrema-esquerda, das Brigadas Revolucionárias, e da extrema-direita do ELP - Exército de Libertação de Portugal.

Confesso que, ao fim das primeiras páginas, dei por mim a desejar mais literatura e menos Hollywood. A linguagem, o ritmo, a estrutura narrativa - com vários coisas a acontecer ao mesmo tempo e "flashbacks" e "fast fowards" - começavam a irritar-me. Afinal, queria ler um livro. Não queria ver um filme, nem uma série. Acabei a ler um país: trágico, cómico, violento, complexo, contraditório. Um país que continuo a descobrir. Que permanece por descobrir.

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Revolução

por Miguel Bastos, em 06.03.24

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Revolução na lavandaria

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Empregado do dia

por Miguel Bastos, em 22.01.24

Momento empregado de mesa do dia.
- Bom dia!
- Bom dia! Como é que que se chama?
- Lia.
- Lia?
- Sim.
- Porquê, já não lê?

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Jornalismo e jornalistas

por Miguel Bastos, em 10.10.23

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O livro "4 3 2 1", de Paul Auster, está cheio de referências ao jornalismo e aos jornalistas.
 
"Ser jornalista significava que nunca podíamos ser a pessoa que atirava pela janela o tijolo que começava a revolução. Podíamos ver o homem a atirar o tijolo, podíamos tentar perceber porque é que ele tinha atirado o tijolo, podíamos explicar aos outros a importância do tijolo no início da revolução, mas nós próprios nunca podíamos atirar o tijolo ou mesmo fazer parte da multidão que incitava o homem a atirá-lo. Por temperamento, Ferguson não era uma pessoa inclinada a atirar tijolos. Era, esperava ele, uma pessoa mais ou menos razoável, mas as agitações daquele tempo eram tais que os motivos para não atirar tijolos começavam a parecer cada vez menos razoáveis, e quando finalmente chegasse o momento de atirar o primeiro, a simpatia de Ferguson estaria com o tijolo e não com a janela."

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Esquecimento

por Miguel Bastos, em 20.07.23

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Quando um escritor morre, tendemos a voltar à sua obra. A pensar nela e no seu autor. Faz parte de um certo processo de luto. No caso de Milan Kundera, quase toda a gente se lembrou de "A insustentável leveza do ser". Eu também. Acrescentei "A Valsa do Adeus", "A Imortalidade" e "Livro do Riso e do Esquecimento". Detive-me na palavra "esquecimento". Constatei que, para além dos títulos, não me lembrava dos livros de Kundera. Esquecimento. Abri, por acaso, "A Imortalidade".
 
"Estou na cama, mergulhado na doçura de um semi-sono. Às seis horas, depois de um primeiro e leve despertar, estendo a mão para o pequeno transístor poisado perto da minha almofada e carrego no botão. Ouço as notícias da manhã, quase a distinguir as palavras, e adormeço de novo, enquanto as frases que ouço se vão transformando em sonhos. É a fase mais bela do sono, o momento mais delicioso do dia: graças à rádio, saboreio os meus perpétuos despertares e adormecimentos, essa oscilação entre a vigília e o sono, esse movimento que por si só me livra do desgosto de ter nascido."
    
Com que então, rádio?! Como é que não me lembrava? Não sei. Avanço n' "A Imortalidade" e percebo que a rádio veio para ficar no romance. Eu também. Experimento "despertares e adormecimentos" em diferentes camas, sabendo que, daqui, não saio tão cedo.
 

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Contra a Amazon

por Miguel Bastos, em 02.06.23

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Não costumo gostar de títulos tão taxativos. Gosto mais que me apresentem prós e contras e razões e contexto para, depois, tirar as minhas próprias conclusões. Mas, Jorge Carrión vai direito ao assunto e diz que é "Contra a Amazon", apresentando sete razões que fundamentam a sua posição:
 
1. Porque faz fechar livrarias ("e a Amazon não é uma livraria, é um supermercado")
2. Porque transforma as pessoas em robôs ("a eficácia extrema que apenas é possível se formos máquinas")
3. Porque é amoral / imoral (suportada por uma "grande estrutura económica e política")
4. Porque é imperialista ("Pagamo-lo em dinheiro e em dados")
5. Porque nos espia ("se lermos no seu dispositivo, saberão tudo sobre as nossas leituras")
6. Porque defende a rapidez (quando "O desejo deve durar". "Há que ir à livraria" )
 
Mas, por fim, acaba por confessar que
7. Não é ingénuo ("Compro na Amazon", "Procuro informação no Google", "Ofereço dados ao Facebook")
 
Tudo isto é "despachado" em menos de 13 páginas. Depois, nos capítulos seguintes, o autor de "Livrarias" dedica-se àquilo que mais gosta: a visitar livrarias (e livros e autores). Releio o subtítulo ("E outros ensaios sobre a humanidade dos livros"), enquanto avanço no livro. Percebo que as restantes 225 páginas servem para explicar o título e, sobretudo, o subtítulo. É de humanidade que o autor fala. Aquela que só se encontra nas livrarias, nos livros e nos que amam os livros.

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Feira do Livro

por Miguel Bastos, em 25.05.23

livro feira.JPG 

Portanto, as pessoas estão indignadas com o encerramento da Feira do Livro de Lisboa, por causa dos festejos do Benfica. Eu confesso que também fui apanhado de surpresa. Afinal, este é o país que tem três jornais diários sobre livros e literatura. Mas, a verdade é que já não tenho paciência para os programas de debate sobre livros. É sempre a mesma receita: um adepto do Lobo Antunes, outro do Saramago e outro do Rodrigues dos Santos, aos gritos. Aquilo não tem utilidade nenhuma: discute-se a extensão da frase ou do parágrafo, analisa-se a densidade dos personagens, contam-se as figuras de estilo... credo! E as antevisões da narrativa?! E o balanço das edições, na sala de imprensa?! Haja paciência! Para mim, um intervalo para futebol é uma lufada de ar fresco.

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Portugalex

por Miguel Bastos, em 08.05.23

https://antena1.rtp.pt/video/equipa-do-portugalex-festeja-aniversario-na-antena-1/

O Portugalex faz 17 anos. A minha primeira reação foi "Uau, incrível"! A segunda foi "Credo, para o ano faz 18 anos! Será que vai ganhar juízo?" Espero que não. Aqui estão eles a celebrar, com humor e inteligência. Mas, também, com uma inquietação: "Fizemos coisas, há 17 anos, que, hoje, não seriam possíveis", diz a Patrícia Castanheira. O riso continua a ser considerado perigoso, não é William de Baskerville?

Para ouvir aqui:

https://antena1.rtp.pt/video/equipa-do-portugalex-festeja-aniversario-na-antena-1/

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Teatro

por Miguel Bastos, em 21.04.23

©TUNA_TNSJ-longaJORNADApromoABR12_NET-5896.jpg

Ouço-me, nos arredores da cidade, com vista para um campo plantado com galinhas, sanitas e pneus. O encenador Ricardo Pais regressa ao Teatro Nacional de São João, casa que dirigiu durante 10 anos. O assunto é notícia. O trabalho de reportagem teve dois atos, com um longo interlúdio com o Presidente da República, no dia em que vetou a lei da eutanásia. Só retomei o trabalho sobre a peça de teatro, já cansado, ao final do dia. Daí a vontade de verificar, no dia seguinte. Será que ficou bem? Aparentemente, sim. No regresso a casa, puxo a emissão da Antena 2 atrás e ouço a voz de Ricardo Pais a abrir e, depois, a trespassar a manhã. Descanso, finalmente.

[Fotografia: Teatro Nacional de São João]

Para ouvir aqui (Reportagem aos 7'40''):

https://www.rtp.pt/noticias/noticiario-antena1/10h00-edicao-de-miguel-soares_a1_1480832?fbclid=IwAR1vnfpYx6tIMQYDve7hBSmyCDQoH4FLaBbFP-5eliQUQv13g89O1JHcZzM

 

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Os Cinco

por Miguel Bastos, em 28.03.23

- Vamos brincar aos "Cinco"?
- Boa ideia.
- Eu sou o Zé.
- E eu?
- Tu podes ser o Júlio.
O meu irmão tinha lido o seu primeiro livro de "Os cinco". Eu ainda não, porque era analfabeto. Portanto, comecei pela prática. Brincávamos aos "Cinco", a partir da história que o meu irmão tinha lido e dos títulos que repousavam na estante. Uma das razões que me levavam a querer ler, o mais depressa possível, era conseguir mergulhar num mundo habitado de contrabandistas, casas abandonadas ou paisagens misteriosas. Depois, descobrimos coisas boas, como os lanches e as lanternas, e coisas más, como os colégios internos. Porém, antes de eu chegar aos livros, a série chegou à televisão.
- Leste bem o livro?
- Porquê?
- Acho que o "Zé" é uma rapariga.
- Então, passo a ser o Júlio.
- Não, não. Eu já era o Júlio.
- Mas deixas de ser, porque eu sou o mais velho.
Tantos sentimentos contraditórios, dentro de mim: o fascínio pelas história de "Os Cinco"; a injustiça de ser o mais novo; o desejo de vingança.
- Então, já não queres ser o "Zé"?
Ou
- Sabem, o meu irmão pensava que a Zé era um rapaz.
Para além da aventura e da leitura, "Os Cinco" foram, também, uma primeira introdução às questões de género.

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