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Morreu Vargas Llosa

por Miguel Bastos, em 14.04.25

Vargas_Losa_Göteborg_Book_Fair_2011b.jpgRoger Casement partiu para o Congo Belga, cheio de sonhos. Só que - em vez do poder civilizador do rei Leopoldo II, que se vendia na imprensa internacional - deu de caras com a colonização mais selvagem de um país europeu, em África. Durante vários anos, Roger denunciou a política belga e mudou a opinião pública britânica e internacional. Ao regressar ao Reino Unido, foi armado cavaleiro. Mas, Roger era irlandês e começou a questionar se o império britânico não fazia com os irlandeses, como ele, o mesmo que o rei dos belgas fazia com os congoleses.

A questão colonial tornou-se uma questão identitária. Roger começou a estudar a história e a cultura da irlanda. Tentou aprender gaélico, mas nunca conseguiu dominar uma língua que devia ser a sua. O que o levou, também, a questionar que raio de irlandês era ele, que não conseguia falar a língua dos irlandeses e que sonhava em inglês - a língua do colonizador. E há, ainda, uma outra dimensão identitária que o aflige: a sua sexualidade - que vai transformar O sonho do celta, num pesadelo.

 
É um dos livro da minha vida. Lembrei-me dele, no dia em que o seu autor, Mario Vargas Llosa, se despediu da sua.

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A Bíblia

por Miguel Bastos, em 09.04.25

biblia.jpg 

- O que é que estás a fazer, filho?
- Estou, aqui, a ler este dicionário.
- Isso é a Bíblia, totó!
- Ou isso.
- "Ou isso?!" Não é bem a mesma coisa.
- Eu não sei ler, pai. Para mim, é tudo a mesma coisa.

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O teatro

por Miguel Bastos, em 27.03.25

TNSJ.jpg

"Uau! Então, isto é que é o teatro!", disse eu, a mim mesmo, sem abrir a boca, sem deixar de ouvir por fora, sem tirar os olhos do palco. Na boca de cena, Ruy de Carvalho enchia o palco e enchia-me de espanto. Até esse momento, tinha visto, apenas, teatro amador e universitário. E tinha gostado. Mas isto era outra coisa. Ele, Ruy de Carvalho, sozinho em palco, no olho do furacão. Nós, a procurar um porto de abrigo, no meio d' "A Tempestade", de Shakespeare. Ele, não só, mas tanto. Nós, tantos e tão sós, dentro de nós próprios.
Há poucos meses, estava no palco do Ruy e pensei nele. E em mim. Olhei para o camarote, do lado direito, e ainda vi os meus olhos a brilhar nesta direção. Viva o Teatro!

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Camilo: 200 anos

por Miguel Bastos, em 14.03.25

CAMILO 200 ANOS.jpgCamilo faz 200 anos e permanece moderno. A sua vida dava vários filmes. Escreveu-a, em mais de 140 livros.

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Primo Basílio

por Miguel Bastos, em 18.02.25

primo.jpg 

Presidenciais de 91. Depois de ter vencido Freitas do Amaral, Mário Soares voltava a enfrentar um nome histórico do CDS. Nessa noite, Basílio Horta iria fazer um comício na minha terra. Eu e o Carlos passámos pela casa do Afonso. "O Afonso não está", diz-nos o irmão, a sorrir, "foi ver o primo Basílio". Os dois irmãos eram muito diferentes. O Renato vivia com o pai e era todo "Soares é fixe!". O Afonso vivia com a mãe e tinha sido todo "Prá frente, Portugal!". Já o Carlos, ao meu lado, era todo "Quero lá saber!". Disse o Carlos: "É um tipo fixe, o Renato. Só não percebi a do primo Basílio". Tentei explicar-lhe que Basílio era o candidato às eleições presidenciais, mas ele interrompeu logo: "Ah, então é isso. Eu não tenho pachorra nenhuma para política". "Nota-se", respondi. "Mas porque é que ele disse 'primo'? Eles são primos?". "Por causa do livro do Eça de Queiroz", respondo. "Ah, não tenho pachorra para ler". "Também se nota", respondo. "Ai sim?" (de repente, o Carlos mostrou-se zangado) "Por acaso está escrito na minha cara?!". "Não. Mas, se estivesse, também não ias ler, pois não"?

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Em Tormes

por Miguel Bastos, em 09.01.25

IMG_1362.jpeg

Em, apenas, dois anos, Francisco Mota Saraiva ganhou o prémio revelação Agustina Bessa-Luís, o prémio José Saramago e uma bolsa Eça de Queiroz - para passar um mês, a escrever em Tormes. Foi lá que nos encontrámos.

Para ouvir, aqui:

https://www.rtp.pt/noticias/cultura/escrever-para-manter-eca-de-queiroz-vivo_a1626126


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Os ossos de Eça

por Miguel Bastos, em 08.01.25

EÇA TORMES.jpg

Eça foi a Baião. Calhou-lhe na rifa uma herança da mulher, que teria que visitar. "Que maçada", terá lamentado. Se fosse um de nós, a historia acabava aqui. Mas, Eça era escritor e era genial. E em vez de acabar com a história, resolveu escreveu uma: "A Cidade e as Serras".

Há várias histórias intricadas, dentro e fora do livro. Eça de Queiroz visitou umas ruínas perdidas na região do Douro e inventou uma história sobre a recuperação da propriedade. Mais tarde, na vida real, a família recuperou a propriedade - a partir da história de Eça. A casa foi arranjada e mobilada com os móveis que vieram de Paris (onde Eça era diplomata e morreu). Existe um caminho de Jacinto (o protagonista do livro), uma casa do Silvério (o caseiro) e um restaurante, com o nome de Tormes (terra inventada por Eça)

Regressei ao livro, em trabalho, e fui a Tormes - para acompanhar a homenagem que lhe fizeram, antes da trasladação para o Panteão.

Não resisto a partilhar este extrato de "A Cidade e as Serras:

"(...) o meu Jacinto preparou então a cerimónia tão falada, tão meditada, a trasladação dos ossos dos velhos Jacintos - dos 'respeitáveis ossos' como murmurava, cumprimentando, o bom Silvério". E, mais à frente, "Naquela confusão, quando tudo desabou, não pudemos mais conhecer a quem pertenciam os ossos (...) senhores de todo o respeito, mas, se Vossa Excelência me permite, senhores já muito desfeitos... Depois veio o desastre, a mixórdia. E aqui está o que decidi, depois de pensar. Mandei arranjar tantos caixões de chumbo, quantas caveiras se apanharam lá em baixo na Carriça, entre o lixo e o pedregulho. Havia sete caveiras e meia. Quero dizer, sete caveiras e uma caveirinha pequena. Metemos cada caveira no seu caixão. Depois: Que quer Vossa Excelência? Não havia outro meio! E aqui o sr. Fernandes dirá se não procedemos com habilidade. A cada caveira juntámos uma certa porção de ossos, uma porção razoável... Não havia outro meio... Nem todos os ossos se acharam... Canelas, por exemplo, faltavam! E é bem possível que as costeletas de um daqueles senhores ficassem com a cabeça de outro... Mas quem podia saber? Só Deus."

Eça a rir-se de si próprio. Eça a fazer-nos rir. Eça a rir-se de nós. Como sempre. 

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Arroz com favas

por Miguel Bastos, em 07.01.25

canto eça.jpg 

Numa variação d' "A poesia é para comer", de Natália Correia, apresento-vos a receita do "arroz com favas", de Eça de Queiroz.
Não, ele nunca o fez. Só o comeu. Eu, nem, isso.
 
Para ouvir, aqui:

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Kafkiano

por Miguel Bastos, em 24.10.24

kafka processo filme.jpg 

Como colocar o génio de Kafka, numa peça de minuto e meio?
Tarefa difícil. Mesmo assim, resolvi complicar a receita. Juntei uma vice-reitora, um professor de direito, um jornalista, cinco encenadores e uma obra-prima do cinema. Mexi bem e servi. Kafkiano, dizem.
Para ouvir aqui:

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