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Trânsito na VCI

por Miguel Bastos, em 21.10.24

Olá jovem, fresca e loura, que me apita na via rápida. Eu sei que a sua vida é sempre a abrir e que não tem um minuto a perder. Eu sei que acha que eu não devo andar a 80 km, na faixa da esquerda. Mas, não me leve a mal - jovem apitadora - você é que está lenta. Ainda está a acelerar e eu já estou a abrandar. O trânsito, diz a rádio, está lento no sentido Arrábida-Freixo e está parado no sentido contrário. Enfim, coisas que o seu "streaming" da treta não lhe diz, porque vive numa aldeia global e não liga ao trânsito local. Olhe, agora o trânsito também está parado deste lado. Vê? Parece que adivinhei! Mas você ainda não deve ter reparado, porque continua com a mão no "claxon". Ora aí está uma expressão que as pessoas mais lentas e antigas usavam: "carrega no claxon", "bota a mão no claxon". Já agora, não me leve a mal, mas essa música "pop-chula, pop-chula, yeah yeah!" é de fugir. Se quiser, posso-lhe cantar uma modinha antiga, que eu acabei de adaptar. Diz assim: "Tira a mãozinha daí, que a VCI não é p'ra ti". Vai ver que fica no ouvido! Se quiser, pode-lhe juntar uma batida moderna. E, da maneira como você conduz, vai arranjar uma batida rapidamente.

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Jovens rebeldes

por Miguel Bastos, em 07.03.24

"Ah, os jovens... são rebeldes, gostam de viver no limite..." Não é bem assim. Por exemplo: o jovem, que acaba de se atravessar à frente do meu carro, atravessa a estrada em diagonal e, sem tirar os olhos do telemóvel, vai ao encontro da passadeira. Faz bem. Isso de arriscar a vida é um bocado parvo. Se for para morrer, que seja em segurança.

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Nova geração

por Miguel Bastos, em 24.01.24

- Acho que é típico desta geração.
- Se calhar...
- São muito focados nos estudos, mas, depois, esquecem tudo o resto.
- Pois...
- São muito pouco desenrascados e faltam-lhes competências sociais.
- Tenho reparado nisso.
- A minha irmã, por exemplo, quando está a estudar, não faz mais nada. Percebe? Eu, quando era estudante, andava na Associação de Estudantes, saia à noite, fazia as coisas de casa... Não sei, no nosso tempo...
- No "nosso tempo"?!
- Bem, o Miguel deve ser um bocadinho mais velho do que eu.
- Só um bocadinho. Podia ser seu pai.
- Ah, agora é que estou a ver a sua idade, na ficha clínica. Desculpe.
- Ora essa, obrigado por me incluir "no seu tempo".

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Quem?

por Miguel Bastos, em 28.11.23

- Esta semana, vamos ter os GNR no programa.
- Quem?
- GNR. Sabes quem são?
- A Polícia de Segurança Pública?!
- Não. Eu estava a falar da banda. Não conheces?
- Não. Eu não sou muito de bandas.
 
Eu, pelos vistos, também não. Destas bandas, pelo menos.

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Não sejas criança

por Miguel Bastos, em 01.06.23

miguel.jpg 

As crianças não têm boa fama. Hoje, é o dia delas e, portanto, vamos ouvir coisas como: " Descobrir a criança que há em mim", "As crianças são o melhor do mundo" e "As crianças são o dia de amanhã". Mas, amanhã, vamos ouvir coisas como: "Não sejas criança", "Estás a ser infantil", "Não vamos infantilizar". Houve um tempo, em que as crianças não existiam. Eram, apenas, adultos incompletos. Depois, passaram a existir. Rapidamente, no entanto, foram substituídas por uma nova espécie: os jovens. Os jovens, sim, são "fixes": têm beleza e força física, inteligência e ousadia, coragem e frescura. Convenhamos, quando dizemos que somos muito jovens ou que a avó está muito jovem - assim, sem adjetivos nem conservantes - estamos a tecer elogios. Mas, quando dizemos que a avó está a ser uma criança, não soa a elogio. Pois não?! O culto da juventude arrasou a ideia de crescimento e desenvolvimento, ao longo da vida. As crianças querem crescer muito depressa, para serem jovens. Chegados à juventude (e é tão depressa) querem-se manter lá, a vida toda. Percebo as crianças. Quem nunca quis ser grande? Já os adultos... Bem, acho que os adultos, com esta mania de serem "bué" de jovens, a vida toda... Os adultos, dizia, estão a ser muito... muito (à falta de melhor termo)... muito infantis.

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Aula sobre democracia

por Miguel Bastos, em 24.04.23

cravos.jpg 

O presidente da República fez mais de 500 quilómetros para assinalar os quase 50 anos de democracia, em Portugal. Recorreu à sua vocação de professor e aos seus dotes de comunicador, para dar uma espécie de aula sobre democracia, num auditório repleto de jovens. O presidente foi recebido com grande entusiasmo. Os jovens bateram palmas e assobiaram, com a excitação reservada às celebridades. Depois, o presidente começou a falar e a juventude esmoreceu. Quando começou a distinguir a monarquia e a república, a Rita resolveu mergulhar no "Instagram". Quando abordou a guerra colonial, o João decidiu fazer uma guerra "online" com o colega do lado. A reflexão sobre a natureza dos partidos políticos foi ofuscada pelas imagens dos guerreiros de "wrestling" do telemóvel do Hugo. E a emergência do populismo não resistiu ao livro do Harry Potter (na realidade, o Harry Potter também não resistiu ao "TikTok" - pois não, Mafalda?"). Bem sei que estava na fila de trás (local onde se costumam sentar os jornalistas e os maus alunos). Bem sei que, nas filas da frente, havia alunos interessados e participativos. Mas, foi uma espécie de constatação "in loco" de algumas das assimetrias sublinhadas pelo presidente: na política ou na educação "há muito bom e há muito mau". O presidente exortou os jovens: "participem", "envolvam-se", "manifestem-se". Uma parte significativa não respondeu, porque estava demasiado ocupada, a bocejar, no ciberespaço. A dada altura, o presidente contou uma história para ilustrar a importância das pessoas se manterem independentes dos cargos políticos: "Eu tinha colegas meus, jovens, que tinham acabado de sair da faculdade e foram convidados para secretários de Estado. Quando saíram do governo não sabiam o que fazer. Achavam que, depois de terem sido secretários de Estado, só podiam ser ministros ou presidentes de um banco". "O que é que achas que eu devo fazer?", perguntavam-lhe. "Eh, pá! E se fosses trabalhar?", respondia-lhes. A resposta (como é evidente) não é válida, apenas, para ex-secretários de Estado. No final - de novo - as palmas e os assobios, reservados às celebridades. E uma selfie (claro!), para partilhar no ciberespaço.

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Não há planeta B

por Miguel Bastos, em 19.04.23

"Celebrar o quê? Não há planeta B!", disseram os jovens que mostraram as nádegas (bué original!) escritas com a palavra "ocupa". Ocupa, quem? Ocupa o quê? Ocupemo-nos da rima. Formalmente, é melhor do que a chamada rima pobre - com verbos, no infinitivo, a acabar em "ar" ou "ir". Mas não resiste à análise de conteúdo. "Celebrar o quê?", perguntam. "A democracia", respondemos. "Não há planeta B!", exclamam. "Nem democracia B", afirmamos. Em rima: "A alternativa existente, não dá bom ambiente" ou, ainda, "Calças para cima, em nome do bom clima". Não são rimas excecionais, mas é um começo...

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No cemitério

por Miguel Bastos, em 13.04.23

 

- Já não vinha a este cemitério, há imensos anos.
- Isso é bom sinal.
- Porquê?
- Então, é sinal que não te têm morrido pessoas próximas.
- Mas eu não vinha para funerais.
- Ai não?
- Não, vinha fazer introspeção, pensar nos males do mundo e mais não sei o quê.
- Ahhh.
- Foi a minha fase gótica, estás a ver?
- Compreendo.
- A sério? Eu não.
- Não?
- Se eu,agora,visse esse adolescente, deitado num banco de pedra, armado em existencialista da treta, acho que lhe dava um par de estalos.
- Não acredito.
- Dava, dava. Romantizar o sofrimento... que estupidez! Ele vem de qualquer forma, não é preciso procurá-lo.
- Estás a falar do teu pai?
- Estou. Era um tipo cheio de vida e eu, no cemitério, a ouvir música.
- The Cure e essas coisas?
- Sim, ainda me custa ouvi-los.

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À porta do liceu

por Miguel Bastos, em 04.04.23
- "Lo".

- Não, "lho".

- Cárálo.

- Não é "lo", o som é "lho", "lho".

- Nam cansigo.

- Tens que praticar.

Português para estrangeiros, à porta do liceu.

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Os Cinco

por Miguel Bastos, em 28.03.23

- Vamos brincar aos "Cinco"?
- Boa ideia.
- Eu sou o Zé.
- E eu?
- Tu podes ser o Júlio.
O meu irmão tinha lido o seu primeiro livro de "Os cinco". Eu ainda não, porque era analfabeto. Portanto, comecei pela prática. Brincávamos aos "Cinco", a partir da história que o meu irmão tinha lido e dos títulos que repousavam na estante. Uma das razões que me levavam a querer ler, o mais depressa possível, era conseguir mergulhar num mundo habitado de contrabandistas, casas abandonadas ou paisagens misteriosas. Depois, descobrimos coisas boas, como os lanches e as lanternas, e coisas más, como os colégios internos. Porém, antes de eu chegar aos livros, a série chegou à televisão.
- Leste bem o livro?
- Porquê?
- Acho que o "Zé" é uma rapariga.
- Então, passo a ser o Júlio.
- Não, não. Eu já era o Júlio.
- Mas deixas de ser, porque eu sou o mais velho.
Tantos sentimentos contraditórios, dentro de mim: o fascínio pelas história de "Os Cinco"; a injustiça de ser o mais novo; o desejo de vingança.
- Então, já não queres ser o "Zé"?
Ou
- Sabem, o meu irmão pensava que a Zé era um rapaz.
Para além da aventura e da leitura, "Os Cinco" foram, também, uma primeira introdução às questões de género.

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