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A jornalista Rita Colaço avisou-nos que a reportagem tinha sons que podiam impressionar (e impressionam, de facto). Mas, o meu maior receio não eram os sons. Era a respiração. A minha. Tinha medo de não conseguir respirar, porque sei bem o que isso é. E a minha respiração alterou-se, de imediato, com uma das primeiras palavras que ouvi na reportagem: "propofol". Cheguei, em desespero, a pedir propofol numa unidade de cuidados intensivos. Conheço o som dos ventiladores, invasivos e não invasivos, e das várias máquinas. Reconheço as vozes dos profissionais de saúde: o cansaço, a esperança, o profissionalismo, a humanidade. Está tudo nesta reportagem. Ao longo da reportagem, a minha respiração foi, no entanto, regressando ao normal. A Rita tem a capacidade de nos mostrar a realidade, com sobriedade, sem a exacerbar. Mas a abordagem é intensa. É intensiva.
Para ouvir, pode clicar na imagem ou aqui:
https://www.rtp.pt/noticias/pais/grande-reportagem-antena1-intensivos_a1294513
O telefone tocou. Do outro lado, a pergunta: "Sabes quem é que é o Luís Filipe Costa?" "Que Luís Filipe Costa?", perguntei, "O jornalista, o homem do comunicados do MFA?". "Esse mesmo", respondeu o meu chefe de então, "Preciso que me faças um perfil alargado, sobre ele, para um programa de homenagem que vamos fazer este fim de semana". "Mas, porque eu?", continuei a perguntar. "Porque, até agora, foste o único que soube logo de quem é que estamos a falar". Foi por essa altura, que fiquei a saber que o jornalista não foi "só" a voz da revolução na rádio, ele já tinha revolucionado a própria rádio. Luís Filipe Costa morreu, hoje, tinha 84 anos.
Manuel Campino (ouvinte de rádio): Até me esqueço que sou cego, com o entretenimento que a rádio me dá, desde a manhã até à noite.
Antonio Jorge (jornalista da Antena 1): Que coisa bonita de se dizer.
E é mesmo. Sobretudo, num dia como este: Dia da Rádio.
"Que nação queremos ser?", pergunta a jornalista no artigo. "Uma startup nation? Uma green nation? Ou uma innovative nation?” Uma nação, respondo eu, é isso que queremos ser. Eu sei que o conceito provoca comichão. Porque o nacionalismo volta a assustar. Porque o conceito tem vindo a mudar. Porque diferentes etnias ou religiões convivem, cada vez mais, numa nação. Mas há uma base comum: território, tradições, valores ou língua.
A ex-namorada de um ex-primeiro-ministro, acusou o seu "ex" de traição. Ex-traíram-se daí inúmeras ilações. Vários ex-dirigentes, ex-ministros, ex-jornalistas, falaram ex-tensamente sobre o assunto. Parece-me tudo muito ex-temporâneo. Que é para não dizer ex-túpido.
O novo filme de Spielberg, "The Post", passa-se na era Nixon. Mas, é inevitável vê-lo como uma reacção à era Trump. Não é, no entanto, um filme dos bons contra os maus. É melhor que isso. A história anda à volta de uma investigação, governamental, sobre o Vietname. Fica-se a saber que, afinal, a guerra do Vietname era uma história mal contada. Aliás, era uma história não contada. Porquê? Porque os presidentes anteriores (Kennedy e Johnson) eram do grupo dos bons. O grupo que os jornais gostavam. Com quem tinham cumplicidade. Eram farinha do mesmo saco. Um saco onde estava, desde logo, o Washington Post.
Os protagonistas são a dona do jornal (Meryl Streep) e o diretor (Tom Hanks). São eles que vão ter que colocar em causa a sobrevivência do jornal, em nome da liberdade da imprensa. Mas, tão ou mais importante, vão ter que se colocar em causa.
Nesse sentido, "The Post" é um filme sobre a perda da ingenuidade. Um postal de uma época e do que restou dela.
Ainda as chamas lavravam em Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra. Ainda as labaredas se alastravam em Góis e Pampilhosa da Serra. Ainda o fumo toldava a visão dos que trabalhavam no meio do fogo. E já havia quem exigisse fumo branco. Começou "O Pesadelo em Ar Condicionado", pensei, roubando o título de um livro de Henry Miller.
O pesadelo decorre, invariavelmente, no Monte Olimpo, com os clientes do costume. Uns permancem na frescura do ar condicionado. Outros, deslocam-se aos locais, em viaturas velozes e climatizadas, que replicam o Olimpo em quatro rodas. Chegados ao local (um qualquer, que só tem nome durante a desgraça), permanecem o tempo mínimo exigível e, depois, regressam ao Olimpo: o palco de todas as questões e discussões; de todas as conclusões e ilações.
É, por isso, que é tão importante o trabalho dos repórteres, que permanecem nas terras devastadas pelo fogo. Para que seja ali (e não, no Monte Olímpo) que se fale dos incêndios.. Fala-se com gente real e tangível; que troca os "bês" pelos "vês"; que falha na concordância entre sujeito e predicado. "E agora?", pergunta o repórter Nuno Amaral, na Antena 1. Agora, "é andar para a frente"... diz Lucinda. Ermelinda, sujeita com todos os predicados (nascida, batizada e casada em Alvares, no concelho de Góis), está em concordância com a primeira. Esta gente concorda no essencial, para não se perder nas discordâncias verbais do Monte Olimpo.
Sentado no lobby de um hotel de cinco estrelas, portátil no colo, fato e gravata - o jornalista foi surpreendido pela minha presença. Um problema de comunicação, entre profissionais de comunicação. Tentou disfarçar o incómodo e mostrar disponibilidade. À primeira pergunta responde-me que não entende a pergunta. À segunda pergunta responde com uma pergunta: “Só vai fazer perguntas gerais ou vai ser mais específico?”. Tento explicar-lhe que não trabalho para uma publicação especializada, mas para um público generalista. Propõe-me, então, falar sobre o tema da sua intervenção numa conferência.
“Bla, bla bla, o mercado global”; “bla, bla, bla o mercado competitivo”; “bla bla bla, inovar ou morrer”… Este homem fala como um homem de negócio, mas não é; fala como um empreendedor, mas não é; fala como um cientista, mas não é; fala como um político, mas não é. O homem, diz de si mesmo, que é jornalista, mas não consegue falar com outro jornalista.
O homem dorme em hotéis 5 estrelas; viaja em business class, come em restaurantes Michelin. Este homem é o jornalismo 5 estrelas: moderno, elegante, sofisticado, cosmopolita, globalizado. Resta saber se é jornalismo.
“Nunca tinha visto tantos jornalistas interessados em arte contemporânea”, brincou António Costa. Nessa altura, o primeiro ministro inaugurava um museu, de Siza Vieira, sob um manto ruidoso de vaias, assobios, palavras de ordem, bombos e apitos. Foi a primeira grande manifestação do movimento dos colégios privados. Protestava-se contra a decisão do governo de rever os contratos de associação.
Na sexta feira, António Costa voltou a inaugurar uma exposição, num espaço de arte contemporânea, com o dedo de Siza. Mas o cenário era muito diferente. Costa estava com Marcelo, Mariano Rajoy, o presidente da Câmara do Porto e o ministro da Cultura. Foi uma festa, cuidadosamente planeada, com Rui Moreira a anunciar que as obras de Miró ficavam no Porto. O ambiente era de regozijo. O fim de semana trouxe uma enchente a Serralves, com filas de espera para ver a famosa colecção que o governo decidiu que ficava em Portugal. Já agora, a colecção era de um banco que faliu e deu cabo das contas do Estado. O cartoonista Luís Afonso já brincou com o assunto, no Público: ainda vamos ficar gratos ao BPN. Parece que já estamos...