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Tempestade Kirk

por Miguel Bastos, em 09.10.24

spock.jpg 

Kirk. Parecia uma boa escolha para uma tempestade, mas não foi. Demasiada chuva e, sobretudo, demasiado vento. Deviam ter escolhido Spock, que sempre foi mais "cool". Para além disso, está sempre de orelhas em bico - uma característica importante numa altura em que "sopram ventos adversos".

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Alegria da pobreza

por Miguel Bastos, em 18.04.24

germano 2.JPG 

"Nem a alegria da pobreza", nem a elegia da riqueza. Germano Silva - o decano dos jornalistas - apresentou-se no programa "Primeira pessoa", de gola alta. Quando era criança, Germano queria ter uma camisola de gola alta. Pedia uma camisola de gola alta, ao menino Jesus. Mas, o menino Jesus nunca lhe trouxe uma camisola de gola alta. Germano achava que talvez fosse porque ele vivia numa casa muito, muito pobre. Não há alegria na pobreza. Pior, há um sentimento de culpa, que é triste. Muito triste. Porque os pobres - que já não bastava serem pobres - ainda tinham de pedir desculpa, por serem pobres, e carregar a culpa de serem pobres. Depois de ter sido várias coisas, Germano tornou-se jornalista e deixou de ser pobre, sem passar a ser rico. Germano tem dinheiro, para uma camisola de gola alta. "Agora tenho", diz ele, a atirar um sorriso à Fátima Campos Ferreira. Ao mesmo tempo, fala de "memórias gratificantes" da sua infância, pobre, em várias ilhas do Porto. Estive a rever o programa (que maravilha!). Fiquei mais rico.

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Offshorezinho

por Miguel Bastos, em 08.01.24

"Ai, queridos, estou tão triste. O meu Balsemãozinho vai-nos vender a todos!" A nossa camarada tinha todas as razões para estar triste. O último grande patrão dos media preparava-se, na altura, para vender todas as revistas do grupo Impresa. "Sabe-se lá, para quem é que vamos trabalhar..." Esse era, de facto, um grande problema. E continua a ser. Para o melhor e para o pior, sabia-se de quem eram as revistas. Quem era o "patrão". A quem é que se devia dirigir os elogios. A quem é que se podia fazer críticas, pedir responsabilidades e exigir explicações. Os grandes patrões dos media têm vindo a ser substituídos pela mão invisível do capitalismo financeiro. Sem rosto. Cada vez mais, os jornalistas, essenciais para o escrutínio da democracia, trabalham para organizações que são muito pouco escrutinadas e muito pouco escrutináveis. São fundos, que detêm empresas, que controlam outras empresas, que se dizem donos das empresas de media. O que poderão dizer, atualmente, os jornalistas com a vida em suspenso: "Ai, a minha "comparticipadazinha", com capitais de risco, vai-nos vender a todos" ou "Ai, o meu "offshorezinho" vai-me despedir"?

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TSF

por Miguel Bastos, em 02.01.24

Não sou da TSF. Nunca fui. Mas quis ser. E tentei. Depois de uns telefonemas, fui recebido por um jornalista, da velha guarda: afável, bonacheirão. "Portanto, gostavas de vir para cá trabalhar?", perguntou-me. "Sim", respondi "gostava muito". "Ouvi umas coisas tuas, vi o teu CV, mas temos um problema". "Ai, sim?", disse eu, a adivinhar a resposta. "É que nós não estamos a admitir pessoas, estamos a despedi-las". E, mais à frente, "Gostava de te dizer que isto é uma fase, mas acho que não é. Estes gajos não vão descansar, enquanto não acabarem com esta mer... Desculpa, não te devia estar a dizer estas coisas. És jovem, tens sonhos e tal... " Foi há mais de 20 anos. Tem sido assim, há mais de 20 anos, a pensar que "pior é impossível". Infelizmente, não é. É sempre possível. Só não é surpresa. Devia ser, mas não é.

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Rádio Titanic

por Miguel Bastos, em 30.12.23

O líder do PSD responde a uma pergunta. Depois, responde a uma segunda. E, finalmente, responde a uma terceira. Três perguntas feitas, inevitavelmente, por três jornalistas da televisão. Depois, o líder do PSD faz um movimento para trás, em direção ao microfone: "e um bom ano para todos". "Bom ano!", ouço alguém a responder. Reconheço-lhe a voz. É de um camarada da rádio. A rádio: um meio que a generalidade dos políticos teima em ignorar. Mesmo agora, numa altura em que uma delas se está a afundar, perante a estupefação de tantos. Claro que esta é a altura de arregaçar as mangas, pegar num balde e tirar a água do convés. Mas nada nos impede de pensar, como é que chegámos aqui.

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Livro e jornais

por Miguel Bastos, em 18.12.23

Paul Auster, a escrever sobre livros e jornais, no livro 4 3 2 1.

"O encanto dos jornais era completamente diferente do encanto dos livros. Os livros eram sólidos e permanentes, e os jornais eram efémeros e finos, descartados logo que tinham sido lidos, para serem substituídos por outros na manhã seguinte, todas as manhãs um jornal novo para o dia novo. Os livros avançavam numa linha reta do princípio ao fim, ao passo que os jornais estavam sempre em vários sítios ao mesmo tempo, uma miscelânea de simultaneidade e contradição, com múltiplas histórias a coexistirem na mesma página, cada uma expondo um aspeto diferente do mundo, cada uma a afirmar uma ideia ou um facto que nada tinha a ver com a que estava a seu lado, uma guerra à direita, uma corrida de ovo e colher à esquerda, um edifício a arder em cima, uma reunião de escuteiras em baixo, coisas grande e pequenas misturadas (...)".

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Jornalismo e jornalistas

por Miguel Bastos, em 10.10.23

ostras.jpg 

O livro "4 3 2 1", de Paul Auster, está cheio de referências ao jornalismo e aos jornalistas.
 
"Ser jornalista significava que nunca podíamos ser a pessoa que atirava pela janela o tijolo que começava a revolução. Podíamos ver o homem a atirar o tijolo, podíamos tentar perceber porque é que ele tinha atirado o tijolo, podíamos explicar aos outros a importância do tijolo no início da revolução, mas nós próprios nunca podíamos atirar o tijolo ou mesmo fazer parte da multidão que incitava o homem a atirá-lo. Por temperamento, Ferguson não era uma pessoa inclinada a atirar tijolos. Era, esperava ele, uma pessoa mais ou menos razoável, mas as agitações daquele tempo eram tais que os motivos para não atirar tijolos começavam a parecer cada vez menos razoáveis, e quando finalmente chegasse o momento de atirar o primeiro, a simpatia de Ferguson estaria com o tijolo e não com a janela."

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Outras fontes

por Miguel Bastos, em 02.03.23
- Sabes, acho que não estivemos bem no noticiário.

- Porquê?

- Algumas informações não estava corretas. Devíamos ter confirmado com outras fontes.

- Estás a pôr em causa o MEU trabalho?

- Estou a pôr em causa o NOSSO trabalho. Somos uma equipa.

- Escusas de ser politicamente correto. Estás a dizer mal do MEU trabalho....

- Pronto, se quiseres ver as coisas assim...

- ...e, ainda por cima, à minha frente!

- Claro! Como é que querias que...

- ... ao menos podias disfarçar e falavas mal de mim nas minhas costas, como as pessoas normais!

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Quase um ano de guerra

por Miguel Bastos, em 22.02.23

"O significa ser pró-russo?", quis saber o repórter Luís Peixoto, na região separatista do Donbass. E sintetizou: "Há os que nasceram na Rússia. Há os que sempre viveram na cultura russa. E os que, sentindo-se ucranianos, guardam mágoa ao país por bombardear o Donbass, há quase 9 anos".

Em Kiev e em Kharkiv, o repórter Nuno Amaral "pintou" a reportagem, com a melodia de uma canção que o ocidente conhece como "Hey, Hey, Rise Up!". A canção dos Pink Floyd (David Gilmour e Nick Mason), com o cantor ucraniano Andriy Khlyvnyuk. Quando saiu, a imprensa ocidental destacou que a canção "fez juntar os Pink Floyd em estúdio, pela primeira vez, em 28 anos". Mas, entretanto, Roger Waters (que foi o principal autor dos Pink Floyd) fez uma série de declarações que foram interpretadas como pró-russas. Depois, David Gilmour e Roger Waters trocaram palavras azedas, em público. Para todos os efeitos, a ideia que ficou foi que a guerra na Ucrânia dividiu os Pink Floyd.

A guerra divide sempre. Quando se fala em união, é, apenas, a união de uns contra os outros. A guerra na Ucrânia começou, há quase um ano. E nem na data, as pessoas conseguem estar de acordo.

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Vozes da rádio

por Miguel Bastos, em 16.02.23

jorge afonso.jpg 

 - Boa leitura, boa voz... Tem um belo timbre, sabia?
 - Obrigado.
 - Tem, apenas, um pequeno problema com as sibilantes.
 - Eu sei.
 - Já pensou em usar aparelho?  
O Marcos sorriu. O Marcos tem vários talentos. Sorrir é um deles.
 - Já percebi que está a tratar do assunto.
A professora continuou a serpentear pela sala, de ouvidos atentos. E foi fazendo reparos: "tem que melhorar a leitura", "tem que melhorar a articulação", "vamos ter que trabalhar o diafragma", "ai, essa voz de cabeça!", "precisa de respirar", "devia fumar menos". 
 - O Miguel não fuma.
 - Por acaso, fumo.
 - Mas não tem voz de fumador. Fuma muito?
 - 3 / 4 cigarros por dia.
 - O ideal era deixar de fumar. Mas, se conseguir manter essa média, não é grave.
Para além de ser toda ouvidos, a Maria Júlia tem uma bela voz. Continua a ter. Esta semana, conversou com o Jorge Afonso: sobre a voz, sobre a rádio, sobre a vida. Uma conversa "em forma de assim", com o Jorge a chamar "chefe" à minha professora.
 
https://www.rtp.pt/play/p10960/e672428/uma-noite-em-forma-de-assim

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