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Hoje, mergulhei, a fundo, nos anos 90. Fui ao hipermercado, em calças de fato de treino. Comprei o jornal, em papel. Paguei, em dinheiro.
Se não fosse o senhor reformado, a jogar “online” com o vizinho do lado, e a avó modernaça, a falar alto no “whatsapp”, tinha sido uma experiência e pêras.
Bem, vamos lá regressar ao futuro. Enter.
Nuno Pacheco assinala a coincidência, hoje, no Público,: "no mesmo ano em que Manuel Alegre escrevia esta sua trova ['Trova do vento que passa'], 1963, era editada do outro lado do Atlântico mais uma canção a falar do vento, 'Blowin' in the wind'".
A coincidência é destacada no livro "Canções da Liberdade, a Política Cantada em Portugal e no Mundo (1964-1974)". Nuno Pacheco evoca, depois, outros livros que abordam o tema da canção política: entre eles o recente (e excelente) 'A Revolução antes da Revolução', de Luís de Freitas Branco.
Outra coincidência: este texto está nas costa de outro, também no Público, 'À volta da aparelhagem', onde Miguel Esteves Cardoso reflete sobre a falta de discussão dos mais jovens, à volta do prazer de ouvir música e ver televisão, em conjunto, lamentando que já ninguém o faça.
Terceira coincidência: escrevo este texto, enquanto tento adivinhar o que Capicua estará a conversar, no estúdio que fica debaixo dos meus pés, com o autor de um disco que se chama, precisamente, 'Coincidências': Sérgio Godinho.
Coincidências. Que as há, há. Felizmente.
De facto, estar de folga é muito desagradável. Ter de pagar para ler o jornal, num local desinteressante, que serve café mediano e pastéis de qualidade muito questionável. Enfim...
Paul Auster, a escrever sobre livros e jornais, no livro 4 3 2 1.
"O encanto dos jornais era completamente diferente do encanto dos livros. Os livros eram sólidos e permanentes, e os jornais eram efémeros e finos, descartados logo que tinham sido lidos, para serem substituídos por outros na manhã seguinte, todas as manhãs um jornal novo para o dia novo. Os livros avançavam numa linha reta do princípio ao fim, ao passo que os jornais estavam sempre em vários sítios ao mesmo tempo, uma miscelânea de simultaneidade e contradição, com múltiplas histórias a coexistirem na mesma página, cada uma expondo um aspeto diferente do mundo, cada uma a afirmar uma ideia ou um facto que nada tinha a ver com a que estava a seu lado, uma guerra à direita, uma corrida de ovo e colher à esquerda, um edifício a arder em cima, uma reunião de escuteiras em baixo, coisas grande e pequenas misturadas (...)".
Temos uma relação estranha, eu e o Portugal em Direto. Gostamos um do outro, mas vemo-nos pouco. Sou uma espécie de tio solteiro - desses que toda a gente tem, na família. Mando uns postais, de vez em quando. Faço uma visita, de vez em quando. Trago guloseimas, de vez em quando. Acho que o Portugal em Direto gosta de mim, apesar de eu não morar no estrangeiro, nem ter um descapotável, como alguns desses tios. Hoje, o Portugal em Direto trouxe-me companhia - a jornalista Teresa Silveira que, apesar de ter a vida inscrita na imprensa escrita, parece que nasceu para a rádio.
Pelé morreu. Na rádio, na televisão, nos jornais, lembram o epíteto: "rei". O rei Pelé. O meu coração republicano lembrou-se, no entanto e de imediato, que Pelé foi ministro do desporto, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Um homem negro, pouco escolarizado, vindo da pobreza, catapultado (pelo futebol) para o estrelato mundial, era, agora, ministro. Poucos anos depois, outro negro famoso tomou posse como ministro (desta vez, da cultura): Gilberto Gil. Não faço ideia se foram bons ministros, mas não posso deixar de pensar o quão inspirador terá sido, para tantos jovens negros e pobres, ver dois dos seus serem empossados no cargo de ministros. Aqui, os dois posam para a fotografia. Há um terceiro, na fotografia: Caetano Veloso. Um "negro quase branco", que nunca foi ministro, mas que, há muito, reina no meu coração republicano.