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No livro “A Cegueira do Rio”, um conjunto de personagens tenta evitar o início da guerra, a todo o custo. Mia Couto coloca-nos em 1914, mas sabemos que podia ser hoje: o mundo ou está em guerra, ou está à beira dela. Acabo de ler o livro, começa mais uma guerra e volto ao princípio. Escreve o autor: “Para os europeus, o Rovuma era uma fronteira separando a ‘África Oriental Portuguesa', da ‘África Oriental Alemã’. Para os africanos, o rio era uma mulher que engravidava com as grandes chuvas”.
Na rádio, não usamos legendas. Fazemos dobragens. É preciso gravar o original, selecionar, editar, escrever a tradução, gravar a voz, montar. Por vezes, o conjunto das várias tarefas é feito pela mesma pessoa. Outras vezes, (por exemplo, por questões de tempo) precisamos de envolver mais pessoas. É frequente pedirem-me para gravar uma tradução, de uma declaração de alguém que não faço ideia quem é. Sou, muitas vezes, surpreendido, em casa ou no carro, pela minha voz a fazer de comissário europeu, de escritor sul-americano, de presidente africano. Ontem, fiz de chefe humanitário das Nações Unidas. Sei-o, porque as palavras me arrepiaram e quis saber de quem eram.
"Há 14 mil bebés que vão morrer, nas próximas 48 horas - a menos que consigamos ajudá-los. Não é comida que o Hamas vá roubar. Vamos correr o risco de levar aquela comida às mães, que não conseguem alimentar os bebés. É arrepiante, absolutamente arrepiante, mas isto é o que nós fazemos. Vamos persistir, seremos impedidos de passar, correremos enormes riscos, mas não vejo outra solução que não seja levar esta comida de bebé às mães que não conseguem alimentar os próprios filhos."
O bloqueio israelita dura há mais de 11 semanas.
É dos Trovante, chama-se "Beirute". Não foi um grande sucesso, mas é uma grande canção. A dada altura, o refrão diz assim:
É mais quente que o ar do deserto!
É mais escuro que um buraco aberto
Na memória de uma terra ainda morna,
Que já não torna
A ser Beirute...
Já agora, esta canção faz parte do mesmo disco que tem "Timor" - canção tornada hino e que fala de um pequeno país esmagado pelos grandes interesses.
"A guerra na Ucrânia já acabou, não já?", atira-me o Alberto, com um sorriso irónico. Sabemos, os dois, que não. Mas sabemos, os dois, que cada guerra tem um tempo limitado de atenção. O holofote aponta, agora, na direção da Palestina - onde, nas últimas horas, morreram centenas de pessoas, depois de terem morrido milhares, desde o ataque de 7 de outubro. À semelhança de outras guerras, a guerra na Palestina vai "acabar", quando começar outra guerra, noutro sítio qualquer.
Pelo que percebi, o embaixador de Israel na ONU pediu a “demissão imediata” de António Guterres, porque percebeu que Guterres é (mesmo) Secretário-Geral das Nações Unidas. Não é Secretário-Geral de Israel, nem da Palestina, nem da NATO, nem da União Europeia, nem do G7, nem da Web Summit. É de todos.
Roubaram as sapatilhas a Fabrice. Caminhou seis horas, até à fronteira. Chegou à Polónia, descalço, com os pés inchados, com fome e sinais de hipotermia. Fábrice é congolês. Foi observado por Fernand, médico israelita. A história é contada por um português: Luís Peixoto, jornalista da Antena 1. A humanidade: no seu pior; e no seu melhor.
Obrigado Salvador: por nos mostrares que o mundo pode ser melhor.
Obrigado Eurovisão: por nos mostrares que o mundo é o que é.