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Trovante

por Miguel Bastos, em 26.04.23

trovante chao.jpg

- Não me digas que gostas dos Trovante?
- Chegaram a ser das minhas bandas preferidas.
- Ai, não tenho paciência para aquela gente.
- Que gente?
- Os betos de camisa de marca, por fora das calças, e sapatos de vela e fios de cabedal...
- Pois, mas os Trovante não vieram daí.
- Não vieram da linha?
- Não, vieram da esquerda.
- A sério?
- Pensa no nome: "Trovante" é a junção de "trova" com "avante".
- Música de intervenção?
- Sim, politicamente empenhada. Misturavam música popular, com jazz e rock.
- Tens algum disco deles?
- Vários. Comprei o primeiro álbum deles numa discoteca...
- Na linha de Cascais!
- Não... numa loja onde a malta de esquerda se costumava juntar.
- Tenho que ouvir isso.
- Não tens, mas podes. E estás, sempre, a tempo.

Música aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=hml9ubcstRo

 

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Socialismo dentro de casa

por Miguel Bastos, em 15.04.23

mau maria.jpg 

"A tua vontade, justiça, igualdade / Não chega aqui dentro de casa", canta a Mariazinha, que se vai tornar Marta, numa das melhores criações de José Mário Branco. Sempre foi das minhas canções preferidas. Fala da mulher, dos direitos da mulher, esquecidos na agenda do homem que, por mais de esquerda que fosse, tinha outras preocupações e prioridades. "E fico à espera que me socializes", canta Maria (zinha), já em transformação para Marta. Lembro-me de ouvir a canção a pensar nas mulheres. Como é que é possível que alguém que se queixa do patrão, que luta pelos seus direitos, não se aperceba que, em casa, reproduz o que lhe fazem fora de casa? Sim, muitas vezes, o socialismo fica à porta de casa. Porque não sai de nós próprios, não sai para os outros, é um socialismo só para nós. O que é, obviamente, a negação do socialismo. Pensei, muitas vezes, nesta canção. Extrapolei-a, para pensar que todos nós, explorados, somos, tantas vezes, exploradores dos que nos rodeiam. Mas, hoje, apetece-me voltar a fechar o foco. Porque há um homem, visto como farol da esquerda, que está a enfrentar um processo de assédio sexual em praça pública. Não sei (não sabemos, ainda) se as suspeitas têm fundamento. Mas sei que, em 1972, José Mário Branco já escrevia sobre mulheres que se transformaram em Martas. Martas que cantam: "Sei aquilo que fui e que jamais serei".

Canção aqui: https://youtu.be/Av-bxaTtkYs

Letra aqui: https://genius.com/Jose-mario-branco-aqui-dentro-de-casa-lyrics?fbclid=IwAR1-c6nkKXxyhk6j2fIMKaV58dcoMmWFqYG8nGrDZs1G0HPwQ8V2aVug27E

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