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António Costa poderá vir a ser presidente do presindent. A hipótese está a causar uniões, mas, também, divisões e, sobretudo, equívocos. Para que não haja dúvidas: se António Costa for escolhido, não vamos ficar ricos. E a fome não vai acabar. Nem a inveja. Nem a mentira. Por favor, não confundam as coisas: ser presidente do Conselho Europeu é uma coisa; ser Miss Universo é outra.
- Eu percebi bem?
- O quê?
- Há um partido chamado "Se acabó la Siesta"?
- Não. Chama-se "Se acabó la Fiesta".
- Ah..
- É um partido de extrema-direita.
- Isso eu tinha percebido. Só que tinha ouvido "la Siesta".
- Não, "la Fiesta".
- Assim, faz sentido.
- Porquê?
- Porque a extrema-direita gosta mais de nós a dormir.
Escrever a esquerda, por linhas direitas.
Esta manhã, acordei com as palavras de Donald Trump: "este é o momento do nosso país se unir, sejam republicanos ou democratas". "Muito bem", pensei. Mas, logo a seguir, Trump classificou Joe Biden (democrata) como "o pior presidente de sempre" e retomou o habitual discurso anti-imigração: "o nosso país está a ser invadido por terroristas que vêm de prisões, de países que ninguém conhece".
Os líderes populistas têm esta capacidade, rara, de unir as pessoas.
Mesmo quando vêm de países que ninguém conhece. Os Trump vêm do Reino da Baviera (depois integrado no Império Alemão, atual Alemanha ou, por extenso, República Federal da Alemanha).
Mesmo quando casam com mulheres de países que ninguém conhece. A primeira mulher, Ivana Zelníčková, veio da Morávia (antiga Checoslováquia, depois República Checa, atual Chéquia). A terceira mulher, Melania Knauss, veio da Eslovénia (antiga Federação Jugoslávia, que juntava a Eslovénia com a Croácia, a Bósnia-Herzegovina, a Macedónia do Norte, a Sérvia e o Montenegro).
Ainda aí estão? É que isto dos "países que ninguém conhece" dá uma trabalheira!
Mesmo quando, eles próprios, lidam com acusações criminais, na justiça... americana.
A Argentina tem um novo Presidente. Javier Milei tem um ar de "Nouvelle Vague" francesa, mas é da velha guarda sul-americana.
É sempre assim. Quem se lixa é o Mexilhon. Nunca é o Cameron.
"E então", contou-me a minha amiga, "fomos para um hotel. Para uma daquelas coisas de cultura de empresa e liderança e espírito de equipa. Mas com aqueles termos em inglês, estás a ver?" Digo que sim, com a cabeça. "E diz-me a minha chefe: 'Tem alguma sugestão, para baixarmos os custos da empresa?' 'Tenho', disse-lhe eu, 'Que tal deixarmos de fazer estes encontros em hotéis de luxo?'. E ela 'Ai, ai, você é um ponto!'"
Arreganhei a taxa. Juro que não sei, porque é que me lembrei desta história. Juro.
A situação deste fim de semana foi, realmente, Prigoza ou foi, apenas, Prigozhinha?
"Tudo o que queres queres, meu doce, tu tens / Tudo o que precisas, filha, tu tens / A única coisa que eu te peço / É um pouco de respeito / Quando eu chego a casa". A canção de, Otis Reading, é de 1965. Fala de trabalho e do respeito por quem trabalha, mas talvez faça franzir o sobrolho quando o cantor diz à pessoa amada que é mais doce do que o mel, para lhe lembrar, logo de seguida, que que lhe dá todo o "seu" dinheiro e pede respeito "quando eu quero, quando eu preciso". Com quem então, uma canção machista?! Se não é, parece.
Otis morreu, dois anos depois. Não teve tempo para se aperceber do rumo que a canção tomou. Um furacão chamado Aretha Franklin gravou "Respect", nesse ano, e a canção tomou um sentido completamente diferente. Aretha começa por manter grande parte da letra, apenas com pequenas intervenções cirúrgicas: o "Tudo o que queres, meu doce, tu tens", passa a "eu tenho" e o "respeito" pedido/exigido Otis ora é suavizado, pelas manas Franklin no coro, com um "just a little bit/ só um bocadinho"; ora é enfantizado, por Aretha, quando soletra R-E-S-P-E-C-T e pergunta "Tenta perceber o que isso significa para mim". A partir daqui, o caldo está entornado: já em "fade" Aretha canta "Estou cansada / Pode ser que chegues a casa / E descubras que eu já me fui embora / Eu preciso de um bocadinho de respeito (só um bocadinho, só um bocadinho)".
Aretha transformou uma simples canção, num hino contra a discriminação racial e de género. RESPECT.
PS: Já agora, também nesse ano, Aretha Franklin gravou "You make me feel like a natural woman", de Carole King. Em 2015, a compositora foi homenageada no Kennedy Center e surpreendida por Aretha, no palco. Carole, em êxtase, ao lado do casal Obama. Para ver e ouvir aqui.
https://www.youtube.com/watch?v=pT4aRd-hCqQ
Vou chorar e já volto.