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A medida presta-se à caricatura. As casas que apanham mais sol vão pagar mais IMI?! Sim, mas a medida não é nova. Foi introduzida no governo anterior. Este governo apenas alterou o peso de cada fator, no apuramento do IMI. E esta alteração veio, agora, chamar a atenção para os critérios absurdos usados. Faz sentido? Não, nada disto faz sentido.
Quando se decide que uma casa deve pagar mais, porque tem melhor exposição solar, está-se a dizer aos cidadãos para comprarem uma casa com muita sombra e humidade. Ignoram-se os custos energéticos e as condições de salubridade. Quando se penaliza alguém que mora ao pé de uma escola ou de um hospital, está-se a dizer para comprar uma casa nos subúrbios. Esquecendo o Estado que, depois, vai ter que construir a estrada de acesso e pagar os transportes, ou, até, o novo hospital. E entretanto, os centros das cidades vão-se esvaziando. Nada que um programa Pólis não resolva mais tarde. Gastando, uma vez mais, os recursos do Estado. Claro que, enquanto uns olharam para o copo meio vazio, outros olharam para o copo meio cheio. Algumas manchetes destacaram que as casas com vista para os cemitérios, ou para estações de tratamento, que vão pagar menos. É a compensação para os que pagam mais por terem vista para o mar, por exemplo.
Um lugar ao sol, não pode ser uma coisa má. Mas, parece que muita gente andou a apanhar demasiado sol na moleirinha.
Gostava de falar do caso dos documentos do Panamá. É um problema dos ricos, que são tão ricos, que não sabem o que fazer com o dinheiro. Não sabem onde o gastar. Nem como o gastar. É um problema grave que, a maioria de nós (felizmente!), não vai ter que enfrentar.
No dia a seguir ao escândalo ter rebentado, Rui Tavares perguntava no Público: “O que é que têm em comum Vladimir Putin e Petro Poroshenko?” e a resposta era “guardam o dinheiro no mesmo sítio”. Que é como quem diz, são adversários, mas não são parvos. São inimigos, mas não são parvos. São ricos, mas não são parvos.
Dinheiro é dinheiro. Pode ser ganho de forma legal ou ilegal; de forma legítima ou ilegítima; à custa de si próprio ou à custa dos outros; cometendo crimes ou sem cometer crimes; ou, mesmo, para cometer crimes. Podem ser democratas ou ditadores; de esquerda ou de direita; artistas ou estrelas do deporto; empresas ou empresários; polícias ou ladrões. É indiferente. O dinheiro, quando é muito, quando é mesmo muito, acaba no mesmo sítio.
O que é isso de ser VIP? Já vi muitas reportagens sobre o assunto: às vezes nas variantes “famosos”, “figuras públicas”, “jet set” ou “socialite”. Nestas categorias, encontramos membros da aristocracia ou da alta burguesia, alguns políticos, empresários, gestores, artistas, caras da televisão, profissionais do croquete, concorrentes de “reality shows”.
O VIP perdeu prestígio, mas ficou.
Há cartões VIP, entradas VIP, clientes VIP, tendas VIP, e agora, Contribuintes VIP. O que ganhamos quando estamos numa lista VIP de contribuintes? Um acesso especial nas finanças? Tem porta exclusiva, passadeira vermelha? Acumulam-se milhas? Atendem-nos mais depressa? Oferecem-nos vales de desconto? Tem flutes e canapés? Emprestam roupa de costureiro?
Uma lista VIP para os impostos é uma coisa bizarra. São VIP os que pagam muito, ou os que pagam pouco? Quem é que faz a lista? Onde é que se colocam os seguranças corpulentos?
Os Vistos Gold já davam um ar suficientemente pindérico do país. Não precisávamos de mais coisas VIP.