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A ficção, científica ou não, tem a grande vantagem de antecipar a realidade. David Walliams escreveu este livro, antes dos milionários deste mundo desatarem a viajar no espaço, a preços de outro mundo. Os protagonistas são dois hipopótamos. Um deles é muito rico e tem tudo: a começar por um nome mais comprido que um camião - o que é um anacronismo em tempos de conquista espacial. A outra (sim, é uma "hipopótama") tem amigos, imaginação e cocó. Sim, cocó. Não vou contar o fim da história, porque isso seria uma deselegância. Vou apenas dizer que o dinheiro não compra tudo, felizmente.
- António, ouve o que eu te digo, António!
- Estou a ouvir.
- Não sais daí, António, antes de acabares as tuas obrigações.
- Eu sei, fui eu que te disse que tinha trabalhos para fazer.
- Pois, António, mas eu sei como é que tu és...
- Não percebo.
- fazes tudo à pressa, só para saíres mais cedo.
- A sério!
- Ouve o que eu te digo, António, ficas aí até ao fim!
Não gosto de pessoas que vêm para aqui lavar roupa suja. Mas, enfim, eu ando com a autoestima em baixo.
- Pai, não vai perguntar como é que correram a aulas?
- Vou. Como é que correram?
- Correram bem, sobretudo a aula de xadrez.
- Que bom! - Não queres saber porquê?
- Claro que sim. Porquê
- Porque o professor faltou.
- Ahhh...
- Ai, credo, eu sou tão engraçado!
Nos tempos mais críticos da pandemia (que, convém lembrar, continua por aí) abusámos dos clichés: "eramos felizes e não sabíamos", "vai ficar tudo bem", "o novo normal", "vamos sair melhores da pandemia". O tempo limpa a memória e guardamos, invariavelmente, a parte melhor. Ouçamos "A mosca", que sintetiza o desejo de regressar à "vida normal" em, apenas, 30 segundos. Depois, como diria o escritor Mário de Carvalho, "Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto".
(para ouvir "A mosca" basta clicar na imagem)
Os meus amigos andavam doidos com o Sporting. Com os golos do Jordão e do Manuel Fernandes. Eu bem tentava, mas não conseguia partilhar o entusiasmo.
- Não gostavas de ir ao Estádio de Alvalade? - perguntava-me o João Manuel.
- Claro que sim - respondia.
Punha-me a pensar na viajem, longa; na cidade, esmagadora; no estádio, monumental. Uma aventura, que fazia com que o jogo, em si, me parecesse menos penoso. E, com um bocado de sorte, haveria tremoços e pevides.
- Se calhar, vou com o meu pai. E tu podes vir connosco.
- Uau, isso é que era!
Eu tentava mostrar entusiamo, quando fui surpreendido pelo anúncio: o Júlio Isidro ia trazer os Fischer-Z a Portugal, ao Estádio de Alvalade. Encontrei o João Manuel:
- Olá Jomané, como é que está aquilo de irmos ao Estádio?
- O meu pai diz que está à espera de um jogo que valha a pena.
- Achas que dava para irmos ver os Fischer-Z?
- Quem?
- É uma banda de rock.
- O meu pai gosta é do Jordão!
- Isso é porque nunca viu os Fischer-Z, ao vivo!
Acho que nunca chegou a ver. Nem eu. Mas fui ao Estádio de Alvalade, ver concertos de rock. E, vendo bem, não me importava de ter visto um golo do Jordão, ao vivo. Desde que houvesse tremoços e pevides.
Humor em tempos de guerra. Na redação.
- ... isso foi há quanto tempo?
- A guerra na Bósnia? Ui, vai fazer 30 anos!
- 30? Nessa altura, eu ainda andava de gatas!
- Este camarada, também. De gatas, a fugir das bombas.
- Fogo, eu acho que morria!
- Ele também achou. Mas, felizmente, ainda cá está.