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Um jogador de futebol apresentou-se, aos sócios e à imprensa, com uma t-shirt com a imagem de Franco. O ditador é espanhol, o clube também, o jogador é português. Mas o caso deu que falar nos jornais e nas redes sociais. Não gosto destas ondas de indignação politicamente correctas. Mas o caso, é lamentável.
Em comunicado, o jogador reagiu: “Peço desculpa por não conhecer a história de Espanha, mas de facto não fazia a mínima ideia de quem era esta pessoa... até agora!”. Desculpas aceites. A seguir acrescenta “Eu (…) não tenho ideais políticos e nunca votei na minha vida!”. Isso já é mais grave. Mas há pior.
Quando lhe perguntaram se ia deitar a t-shirt fora respondeu “Nem pensar, era só o que faltava!” Que é como que diz:
“Só porque o senhor fez uma guerra civil, com a ajuda de Hitler e Mussolini, que provocou a morte de um milhão de pessoas?”
“Só porque perseguir, torturou e matou milhares de pessoas durante a sua governação, de quase quarenta anos?”
“Só porque a ditadura durou até à morte de Franco?”
“Era só o que faltava! A t-shirt custou-me 30 euros”
O que é mais triste, é que a pobre criatura não aprendeu nada. Desculpa-se a ignorância. Já a estupidez…
Há um diálogo perturbador quase no final do filme Seven, de David Fincher. O jovem polícia (Brad Pitt) não consegue entender a crueldade do assassino (Kevin Spacey). Este responde que só cumpriu o seu trabalho. Quando o polícia lembra a violência do “seu trabalho”, o assassino lembra-lhe que ele, enquanto polícia, também faz uso da violência. O polícia responde que o criminoso tem um prazer sádico nas suas execuções. Este responde que não há nada de errado em retirar prazer do trabalho. Isso só o ajuda a ser melhor naquilo que faz. Obviamente, o assassino é um manipulador. Mas o seu discurso (quase) parece fazer sentido.
Lembrei-me deste diálogo, ao chegar ao fim das Memórias da Segunda Guerra Mundial, de Winston Churchill. O homem tinha muito gosto naquilo que fazia. E, provavelmente, isso foi uma das condições que o fez declarar e ganhar a guerra a Adolf Hitler e o regime nazi. Já sabia da força e determinação de Churchill. Mas surpreendeu-me a forma como, ao longo do livro, vai adjectivando a guerra, e o prazer que revela no seu trabalho. Porque a guerra não é um trabalho qualquer.