Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Recontar uma história

por Miguel Bastos, em 14.10.24

a volta do largo.jpg

Antigamente, vivia-se o tempo a contar histórias. Geralmente, eram contadas pelos mais velhos - mais sábios e mais experientes - à volta da lareira, "À Volta do Largo". Muitas vezes, as histórias também eram velhas. Quando eram novos, os mais velhos tinham-nas ouvido de outros velhos. Também, eles, tinham sido novos e assim sucessivamente. Muitas vezes, ao ouvir, de novo, uma história alguém dizia: "Essa já é velha". Normalmente, quem o dizia, também já não ia para novo.
 
Se as histórias não eram novas é porque já tinham sido contadas. E, assim sendo, o contador de histórias devia ser chamado de "recontador". Porque estava a contar uma história, que já lhe tinha sido contada. Porque, muitas vezes, ele próprio voltava a contar uma história que já tinha contado previamente. E ainda bem. Porque é preciso que certas histórias se mantenham vivas. Porque, muitas vezes, o "recontador" conta a história melhor do que a história que tinha ouvido. Porque ele próprio, vai melhorando a sua história à mediada que a vai (re)contando.
 
Na sexta-feira passada, contei uma história sobre uma companhia libanesa que devia ter aberto o Festival de Marionetas do Porto, mas que não o pôde fazer. Porque há uma guerra no Líbano. Uma guerra que chega até aqui. O velho da aldeia (aqui é em sentido figurado, que ele é do mais jovem que há), Nuno Amaral, ouviu a história e resolveu recontá-la "À volta do Largo". E eu sentei-me, a ouvir. Obrigado, meu velho!

Autoria e outros dados (tags, etc)

25 de Abril, é só nosso?

por Miguel Bastos, em 27.04.23

maxwell.jpg

O 25 de Abril é "nosso", foi um dos argumentos utilizados para questionar ou, mesmo, repudiar a presença do presidente do Brasil, em Portugal. É "nosso", sim. Mas, será só nosso? Dei por mim a reler partes deste livro do historiador britânico Kenneth Maxwell (especialista em Portugal, Espanha e Brasil). O livro aborda "A construção da democracia em Portugal", centrando a sua análise no período entre 1974 e meados da década de 1980 - com a entrada na CEE, a eleição presidencial de Mário Soares e as maiorias absolutas de Cavaco Silva. Mas contextualiza este período, de pouco mais de 20 anos, com a história de Portugal: desde a sua fundação, até ao período do Estado Novo. O livro do historiador termina com Ciência Política, evocando a "terceira vaga de democratização", de Samuel Huntington. De acordo com esta teoria, o 25 de Abril foi o precursor da transição democrática nos países da América Latina e da Europa de Leste, na transição dos anos 80 para os anos 90. Fomos, portanto, uma inspiração para o mundo. Mas, pelos vistos, há quem prefira que sejamos os maiores da nossa aldeia.

Autoria e outros dados (tags, etc)

A filha da PIDE

por Miguel Bastos, em 21.09.22

annie.jpg

Annie era filha única, do último diretor da PIDE. José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz chamaram-lhe "A filha rebelde". Um exagero, decerto. Annie era, apenas, uma rapariga do seu tempo. Que não gostava assim lá muito dos chefes reacionários de Portugal. E que gostava um bocadinho lá muito dos chefes revolucionários de Cuba. Apaixonou-se, fugazmente, pelo guerrilheiro Che Guevara. Namorou, prolongadamente, com um ministro do Interior chamado Abrantes. Fora isso, tudo como dantes? Não. Porque, entretanto, também houve uma revolução em Portugal. E os filhos da revolução mandaram o pai, Silva Pais, para uma prisão que ele bem conhecia: Peniche. A vida de Annie dava um filme. Dava. Para já, deu um livro (um excelentíssimo livro!) e uma série (que começa, hoje, na RTP).

Autoria e outros dados (tags, etc)

Restauração

por Miguel Bastos, em 01.12.21

restauracao.jpg

Hoje, é Dia da Restauração da Independência de Portugal. Esta manhã, houve uma cerimónia com o presidente da República e o primeiro-ministro. Foi curta e sem discursos. Contávamos com a celebração de 1640. Comemorámos 1600 e quarentena.

[Foto: LUSA]

Autoria e outros dados (tags, etc)

Ilhas da Ria

por Miguel Bastos, em 06.09.21

ilhas da ria.jpg

"Sabes que há quintas, abandonadas, nas Ilhas da Ria?", perguntava-me. "Sabes que há gado, a pastar, no meio da Ria", dizia-me no fim-de-semana seguinte. O António estava maravilhado com as descobertas que andava a fazer no barco de um amigo. Eu também, só de o ouvir contar. A Ria de Aveiro tem uma extensão de quase cinquenta quilómetros. É uma mancha recortada, com curvas e contracurvas, pontilhada de ilhas e penínsulas, com zonas traçadas a régua e esquadro para marinhas de sal e viveiros, com avenidas de águas profundas e correntes traiçoeiras, e recantos de sapal com pouco mais de um palmo de água. A Ria está lá dentro, misteriosa, a guardar os seus segredos. A maioria das pessoas, que vivem à volta dela, permanecem à margem: indiferentes ou curiosas; ignorantes, em qualquer dos casos. A Ria é uma casa de portas e janelas abertas, mas de cortinados corridos para evitar olhares indiscretos. Se é difícil espreitar, é, ainda, mais difícil conhecer.
Pequenino (mas precioso), o livro "Ilhas da Ria", da jornalista Maria José Santana, não nos torna íntimos lá de casa. Mas, pelo menos, já temos um colega, que é amigo de um familiar que ainda trabalhou para um senhor que tinha uma ilha, plantada no meio da laguna... que, nos anos 50, ainda produzia batatas, frutas e legumes, e que...

Autoria e outros dados (tags, etc)

Rápido

por Miguel Bastos, em 22.01.21

rapido.jpg

O jovem timoneiro começou a ficar ansioso. Descíamos, de barco, o grande rio. Uns atrás dos outros. Depois de lutarmos contra a violência de um rápido, perdemos o último barco de vista. "Moço, o que é que está acontecendo?" "Um momento, silêncio", responde o jovem , de ouvido atento e com um olhar de lince, a varrer o rio. "Moço, você está-me deixando nervoso". O timoneiro fez ouvidos de mercador. "Tudo à esquerda". "Moço, eu exijo saber o que está acontecendo". Segreda-me ao ouvido "Vou ter que te pedir uma coisa". "Eu exijo..." "Você não exige nada", diz o timoneiro, "Eu é sou responsável pela vossa segurança, eu é que exijo." Aponta para mim. "Ele toma conta do barco. Você fica quieta e fica calada." Pisca-me o olho e sai do barco, correndo ligeiro pela margem. Volta passado uns minutos. "Está tudo bem", diz ao entrar no barco, "eles vêm aí". "Ai, que susto, minino. Nunca pensei, que..." "Pois não, não pensou. Agora, peço-lhe, não volte a atrapalhar. E, sobretudo, não exija". Lembrei-me desta história, mas já nem sei bem porquê.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Fada do lar

por Miguel Bastos, em 06.12.20
Primeiro, foi um curso intensivo sobre Marquês de Pombal, com o autor da mais recente biografia de Sebastião José de Carvalho e Melo.

Depois, uma conversa com Adriana Calcanhoto, sobre poesia e música, a política brasileira e a realidade portuguesa.

E, ainda, a memória de Eduardo Lourenço, a análise ao congresso do PCP e a morte do antigo presidente francês, Valéry Giscard d'Estaing.

Tudo isto, enquanto fazia a lida da casa. Se continuar assim, acabo uma fada do lar: com uma pós-graduação em História, um mestrado em Políticas Culturais e um doutoramento em Relações Internacionais.

Preciso de um rádio, uma vassoura e pouco mais.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Corta Rentes

por Miguel Bastos, em 26.05.16

corta rentes.jpg

Gosto de livros avassaladores. Daqueles que geram leituras compulsivas. “Portugal, a Flor e a Foice” é um desses livros. Na ressaca do 25 de Abril (e a talhe de foice) Rentes de Carvalho faz uma radiografia de Portugal e dos Portugueses. E corta rente nas história e nos mitos que nos têm vendido, ao longo dos séculos. Só no primeiro capítulo (pouco mais de 20 páginas), Rentes corta Portugal, de alto a baixo. Aqui vai…

 

D. Afonso Henriques era ambiciosos e falso; D. Pedro, um sádico; Vasco da Gama um saqueador, D. Manuel, um novo rico, assassino de judeus; D. Sebastião, um fanfarrão; D. João IV, um fracote. E se os reis não foram coisa, a República não trouxe melhorias. Os primeiro homens da República eram ineptos. Já Salazar, consegue impor a sua vontade. Aos que o apoiam, deixa roubar. Aos que discordam, manda matar. Tudo, com a benção da igreja.

 

O povo também não sai bem na fotografia. Acolhe Filipe de Espanha, com a mesma alegria que irá acolher a ditadura de Salazar. Esbanja o ouro do Brasil, como ,mais tarde, irá esbanjar o volfrâmio. Louva Salazar; tolera Salazar; finge que combate Salazar. Parte, aos milhões, deixando o país vazio.

 

O mais surpreendente é que o texto foi escrito em 1975. Numa altura em Portugal ainda irradiava amanhãs que cantam. Há uma coisa em que os portugueses são bons. No pessimismo.

Autoria e outros dados (tags, etc)


Mais sobre mim

foto do autor


Calendário

Junho 2025

D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
2930

Pesquisar

  Pesquisar no Blog

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D