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Como é que se diz David Bowie, em português? Ah, já me lembrei: Catarina Furtado.
- Tira daí a mão!
- Como?
- Isso é da Joana, ou quê?!
- É.
- Nesse caso, está bem.
"Para Carlos Bunga", diz-nos a nossa interlocutora, "a casa é onde nós estamos. E essa casa devia moldar-se a quem vive dentro dela. Sabemos, no entanto, que nós é que temos que o fazer." Carlos Bunga é um artista plástico português. Tem origens africanas, viveu em bairros da lata onde as casas, precárias, são moldadas em função de quem lá vive. Esticam, quando nasce mais um filho ou se recebe uma tia. Encolhem, quando já não é necessário, libertando os materiais para quem deles precisa. Essa experiência terá marcado as obras artísticas de Carlos Bunga, que tem vindo a ocupar alguns dos maiores museus do mundo, com as suas estruturas de cartão e fita adesiva: o precário e descartável, dentro de estruturas solidas, que ambicionam a eternidade.
"Carlos Bunga", insiste a nossa interlocutora, "é um nómada. Faz questão de não ter casa fixa. A casa vai sempre com ele". Lembrei-me de Gonçalo Cadilhe, o escritor-viajante. A dada altura, perguntaram-lhe porque é que insistia em ter casa, se raramente lá estava. Respondeu que precisava de ter uma casa, para onde voltar. Era a casa que fazia dele um viajante. Caso contrário, seria um migrante.
É engraçado, como podemos ter noções e relações tão diferentes com o conceito de casa. O que é que muda? Talvez, a casa de partida.
[Fotografia: Pedro Jafuno]
Deve ser por causa do mundial e coiso, mas está-me a apetecer ler coisas sobre "o mais" isto e aquilo. É altura de "rankings", dos "mais" do mundo: o "mais caro", o "mais rápido", o "mais famoso". Neste caso, optei por o "mais rico". Não sei se é por causa dos relvados - lá da casa dele, em Lisboa - mas, sempre fui "à bola" com o senhor Calouste.
No armazém, ao pé da minha casa, estavam pendurados 3 cartazes da AD, emoldurados como se fossem retratos a óleo: num, estava o Sá Carneiro; no outro, o Freitas do Amaral; no terceiro, um senhor mais velho. Na telenovela da noite, um dos protagonistas era jovem, tinha uma namorada bonita e era arquiteto paisagista. Na primeira excursão a Lisboa fomos à Gulbenkian: adorei (tanto) os jardins, que nem entrei no museu. Só mais tarde é que comecei a unir as coisas. Gonçalo Ribeiro Telles era, de facto, mais velho do que os outros, mas não era um velhinho. Os jardins da Gulbenkian dificultavam a entrada no Museu porque eram demasiado belos (acreditam que só à terceira tentativa é que resolvi entrar no CAM?). Ser arquiteto paisagista só é uma profissão jovem e moderna, por causa de pessoas como Gonçalo Ribeiro Telles, que criou um oásis de modernidade, no inverno salazarista. É por isso que, apesar de morrer aos 98 anos, ficamos com a sensação que foi demasiado cedo. Por isso, e, também, porque Portugal teima em chegar demasiado tarde. [Foto: Alfredo Cunha]
Ontem, tive uma experiência curiosa. Vi uma instalação video, em que nós estávamos sentados, rodeados de ecrãs que passavam as mesmas imagens do Rio de Janeiro em "loop", horas a fio. Algumas pessoas, que estavam comigo, não gostaram. Enfim, gente que nunca passou uma manhã na Gulbenkian, nem uma tarde em Serralves. Eu, que não percebo muito de videoarte, gostei muito. E o leitão também não estava mau.
Este texto andava perdido... nos arquivos da minha computadeira. Hoje, no dia em que Tchaikovsky morreu, retirei o verbete para publicação. Não vale a pena fazer RIP (já foi há 125 anos). Mas vale a pena ouvir a música de Tchaikovsky. Acho eu....
"Só não tenho paciência para as 'pimbalhices' do Tchaikovsky", disse o meu amigo. Ele vive numa dessas casas com "Sopa e gravatas e tudo", como dizia Solnado. E "tudo", neste caso, implica ter lugar cativo no São Carlos e na Gulbenkian. Ora eu que, dos luxos descritos só tenho a sopa, não percebi. De resto, demorei anos a perceber. Foi Jeremy Siepmann quem me explicou, depois de lhe comprar um livro sobre Tchaikovsky. Siepmann (músico, professor, divulgador) confessa que chegou tarde a Tchaikovsky, por snobismo. Para muita gente (como ele próprio) educada na escola musical germânica, Tchaikovsky é Hollywood. Ainda bem, digo eu. Devemos a Tchaikovsky alguma da melhor música escrita para cinema. E devemos a Hollywood a distribuição, à populaça, de alguma da melhor música da história.
Tchaikovsky invejava a forma como os italianos esbatiam as fronteiras entre a musica popular e erudita. Tentou fazer o mesmo e foi bem sucedido. Obras como o "Quebra-Nozes" e o "Lago dos Cisnes", ou as aberturas "1812" e "Romeu e Julieta" são incrivelmente populares. As suas sinfonias influenciaram Shostakovitch e Mahler. Mas também Bernstein e John Williams. Mas isso, (lá está!) é Hollywood e as sua "pimbalhices".