Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
No armazém, ao pé da minha casa, estavam pendurados 3 cartazes da AD, emoldurados como se fossem retratos a óleo: num, estava o Sá Carneiro; no outro, o Freitas do Amaral; no terceiro, um senhor mais velho. Na telenovela da noite, um dos protagonistas era jovem, tinha uma namorada bonita e era arquiteto paisagista. Na primeira excursão a Lisboa fomos à Gulbenkian: adorei (tanto) os jardins, que nem entrei no museu. Só mais tarde é que comecei a unir as coisas. Gonçalo Ribeiro Telles era, de facto, mais velho do que os outros, mas não era um velhinho. Os jardins da Gulbenkian dificultavam a entrada no Museu porque eram demasiado belos (acreditam que só à terceira tentativa é que resolvi entrar no CAM?). Ser arquiteto paisagista só é uma profissão jovem e moderna, por causa de pessoas como Gonçalo Ribeiro Telles, que criou um oásis de modernidade, no inverno salazarista. É por isso que, apesar de morrer aos 98 anos, ficamos com a sensação que foi demasiado cedo. Por isso, e, também, porque Portugal teima em chegar demasiado tarde. [Foto: Alfredo Cunha]
Ontem, tive uma experiência curiosa. Vi uma instalação video, em que nós estávamos sentados, rodeados de ecrãs que passavam as mesmas imagens do Rio de Janeiro em "loop", horas a fio. Algumas pessoas, que estavam comigo, não gostaram. Enfim, gente que nunca passou uma manhã na Gulbenkian, nem uma tarde em Serralves. Eu, que não percebo muito de videoarte, gostei muito. E o leitão também não estava mau.
Este texto andava perdido... nos arquivos da minha computadeira. Hoje, no dia em que Tchaikovsky morreu, retirei o verbete para publicação. Não vale a pena fazer RIP (já foi há 125 anos). Mas vale a pena ouvir a música de Tchaikovsky. Acho eu....
"Só não tenho paciência para as 'pimbalhices' do Tchaikovsky", disse o meu amigo. Ele vive numa dessas casas com "Sopa e gravatas e tudo", como dizia Solnado. E "tudo", neste caso, implica ter lugar cativo no São Carlos e na Gulbenkian. Ora eu que, dos luxos descritos só tenho a sopa, não percebi. De resto, demorei anos a perceber. Foi Jeremy Siepmann quem me explicou, depois de lhe comprar um livro sobre Tchaikovsky. Siepmann (músico, professor, divulgador) confessa que chegou tarde a Tchaikovsky, por snobismo. Para muita gente (como ele próprio) educada na escola musical germânica, Tchaikovsky é Hollywood. Ainda bem, digo eu. Devemos a Tchaikovsky alguma da melhor música escrita para cinema. E devemos a Hollywood a distribuição, à populaça, de alguma da melhor música da história.
Tchaikovsky invejava a forma como os italianos esbatiam as fronteiras entre a musica popular e erudita. Tentou fazer o mesmo e foi bem sucedido. Obras como o "Quebra-Nozes" e o "Lago dos Cisnes", ou as aberturas "1812" e "Romeu e Julieta" são incrivelmente populares. As suas sinfonias influenciaram Shostakovitch e Mahler. Mas também Bernstein e John Williams. Mas isso, (lá está!) é Hollywood e as sua "pimbalhices".