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É dos Trovante, chama-se "Beirute". Não foi um grande sucesso, mas é uma grande canção. A dada altura, o refrão diz assim:
É mais quente que o ar do deserto!
É mais escuro que um buraco aberto
Na memória de uma terra ainda morna,
Que já não torna
A ser Beirute...
Já agora, esta canção faz parte do mesmo disco que tem "Timor" - canção tornada hino e que fala de um pequeno país esmagado pelos grandes interesses.
"A guerra na Ucrânia já acabou, não já?", atira-me o Alberto, com um sorriso irónico. Sabemos, os dois, que não. Mas sabemos, os dois, que cada guerra tem um tempo limitado de atenção. O holofote aponta, agora, na direção da Palestina - onde, nas últimas horas, morreram centenas de pessoas, depois de terem morrido milhares, desde o ataque de 7 de outubro. À semelhança de outras guerras, a guerra na Palestina vai "acabar", quando começar outra guerra, noutro sítio qualquer.
A situação deste fim de semana foi, realmente, Prigoza ou foi, apenas, Prigozhinha?
"O significa ser pró-russo?", quis saber o repórter Luís Peixoto, na região separatista do Donbass. E sintetizou: "Há os que nasceram na Rússia. Há os que sempre viveram na cultura russa. E os que, sentindo-se ucranianos, guardam mágoa ao país por bombardear o Donbass, há quase 9 anos".
Em Kiev e em Kharkiv, o repórter Nuno Amaral "pintou" a reportagem, com a melodia de uma canção que o ocidente conhece como "Hey, Hey, Rise Up!". A canção dos Pink Floyd (David Gilmour e Nick Mason), com o cantor ucraniano Andriy Khlyvnyuk. Quando saiu, a imprensa ocidental destacou que a canção "fez juntar os Pink Floyd em estúdio, pela primeira vez, em 28 anos". Mas, entretanto, Roger Waters (que foi o principal autor dos Pink Floyd) fez uma série de declarações que foram interpretadas como pró-russas. Depois, David Gilmour e Roger Waters trocaram palavras azedas, em público. Para todos os efeitos, a ideia que ficou foi que a guerra na Ucrânia dividiu os Pink Floyd.
A guerra divide sempre. Quando se fala em união, é, apenas, a união de uns contra os outros. A guerra na Ucrânia começou, há quase um ano. E nem na data, as pessoas conseguem estar de acordo.
Para acabar, de vez, com a pandemia, a guerra na Ucrânia, a crise energética, a inflação, a fome, a mentira e a inveja.
Andei a dormir mal. Não posso alegar desconhecimento. Afinal, o autor tinha avisado: "Quanto menos soubermos, melhor dormimos". Mesmo assim, quis saber. Comecei a ler o livro (e a dormir mal). Resolvi parar. As férias estavam à porta, havia demasiado cansaço acumulado, e, se andava a dormir mal, passei a dormir pior. Mas, não dá para fechar os olhos, indefinidamente. Voltei ao livro de David Satter, com a queda da União Soviética e tudo o que se levantou a seguir. Nada bonito de se ver: o assalto ao Estado, as expropriações, os monopólios, a corrupção, o crime organizado, as oligarquias, o terrorismo de Estado. A utilização das forças de segurança, como arma política. A guerra, como arma política. A guerra, como projeto político. Se não fosse tão credível, o livro de David Satter era, apenas, um retrato grotesco e apocalíptico. Assim, é só inqualificável. Ainda pensei se, depois de uma leitura tão avassaladora, seria boa ideia passar para o livro seguinte: "Na cabeça de Putin", de Michel Eltchaninoff. Hesitei. Depois, fiz como no poema de Cesariny: "fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício". A estreia da editora Zigurate, de Carlos Vaz Marques, também se faz à beira do precipício. Com dois livros, que são "livrinhos" por fora", mas muito densos por dentro.
George Friedman faz-me lembrar Durão Barroso. A dada altura, Durão disse que iria ser primeiro-ministro - só não sabia quando. Friedman disse que iria haver guerra na Europa - só não sabia onde. Mas deu várias hipóteses. Chamou-lhes "Focos de Tensão". Um dos focos identificados foi "A Rússia e as suas fronteiras", com o autor a descrever uma Ucrânia composta por uma população dividida entre as influências russa e ocidental. Afirma o autor: "Divisões como esta tornam a Ucrânia um terreno fértil para manipulações por parte de quem estiver interessado nela. Os russos estão cientes desta vulnerabilidade porque há muito que eles próprios têm vindo a manipular a Ucrânia. Por isso, os russos interpretarão qualquer envolvimento exterior como manipulação e ameaça potencial aos interesses fundamentais naquele país." Friedman parece que é bruxo. Mas, garantem-me que não é.
Brejnev morreu em 1982, depois de ter governado a União Soviética durante 18 anos. Há muito, que estava velho e cansado. O sucessor foi Andropov. Mas, este, estava velho e doente. Morreu, dois anos depois. Seguiu-se Chernenko. Morreu, passado um ano. Parece uma história, fantasiada por García Márquez; mas é a História, sintetizada por Odd Arne Westad (A Guerra Fria, 2017). Escreve o historiador: "Um amigo meu que vivia em Moscovo na altura contou que o filho de seis anos se habituou de tal maneira a ouvir a marcha fúnebre de Chopin na televisão que julgou ser o hino nacional soviético". Chopin não era soviético. Morreu novo.