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A coisa que eu mais gosto, num dia de greve, é a quantidade de vezes que se ouve a palavra "inalienável".
Ljubomir Stanisic é um cozinheiro que enriqueceu a cozinhar, para ricos; e a fazer televisão, para pobres. Há uma semana, resolver estacionar à porta da Assembleia da República para fazer uma greve de fome e insultar os representantes da República, com a cobertura dos media, que adoram pessoas "fora da caixa". Hoje, depois de ter sido atendido pelo SNS (que, coitados, andam com pouco que fazer) resolveu comparar o primeiro-ministro português a Milošević. Algumas pessoas acharão graça à comparação com o ex-presidente sérvio, esquecendo, talvez, que este foi preso pelo Tribunal Penal Internacional, sob a acusação de crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Esta manhã, disse à imprensa que "há 17 anos, passámos 21 dias de fome e derrubámos o filho da p***". Não disse que está em Portugal, há 23 anos.
Há qualquer coisa de inexplicável, nesta greve da função pública. O governo anunciou que ia repor o horário de trabalho semanal de 35 horas.Os sindicatos anunciaram greve. Porque estão contra as 35 horas? Não. Porque estão solidários com o setor privado, que trabalha 40? Também não. Apenas, porque o governo pretende implementar a medida no próximo semestre . Os sindicatos exigem que seja já: hoje, agora, de preferência ontem.
Não está em causa se a medida é justa ou não (se bem que gostava de a ver discutida, com seriedade). Pelos vistos, governo e sindicatos acham que sim. É uma questão de tempo. E de modo. Pensei num exemplo prático. Imaginem que um pai tinha retirado a motorizada ao filho. Porque tinha tirado más notas, ou porque, simplesmente, não havia dinheiro. No momento em que o pai anuncia que vai buscar a motorizada, que está guardada numa garagem, o filho anuncia uma greve. “Mas já não queres a mota?”, pergunta o pai. “Quero”, responde o filho, “mas tem que ser já”. “Mas, se não for já, deixas de querer?”. “Continuo a querer”, responde o filho. “Então, qual é o problema?”, pergunta o pai. “O problema é que tem que ser já”.
Talvez o exemplo não seja o melhor. Talvez ande a pé. Como eu.