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"Vocês ouviram o que o gajo disse, esta manhã?" Dissemos que sim, com a cabeça. "Vou ter que entalar o gajo". Estávamos nos incêndios. A nossa colega, jornalista veterana, estava indignada com as declarações do presidente da câmara. Já não me lembro o que é que o autarca tinha dito, mas eram críticas duras ao governo. Aguardávamos o presidente, que estava reunido com o ministro. Foi o primeiro a sair. "Lamento, mas vou ter que entalar o gajo". O presidente vinha a arrastar os pés, exausto. "Ai, coitado! Já viram como é que ele está?" Pediu-nos uns minutos. Quer aguardar pelo ministro, depois poderá fazer declarações. "Não tem que o fazer", diz a nossa colega. O presidente olha para ela, espantado. "O senhor não está bem." O autarca confirma: "Pois não. Não posso estar." "Há quantas horas não dorme?", insiste a colega. O autarca diz que vai dormindo: uma, duas horas - quando pode, onde pode. O seu município arde, há vários dias. "Pois, mas não pode ser. Tem que dormir, senão não chega ao próximo incêndio". "Talvez não", responde, "mas também não sei o que é que vai chegar. Já ardeu quase tudo." Chegou o ministro. Falou o ministro. Falou o presidente e ninguém o "entalou". A única pessoa que parecia entalada, era a nossa colega: "Vão por alguma coisa deste presidente, no ar? Eu não vou". E vai atrás dele, "Olhe que eu estou mesmo preocupada consigo. O senhor não está bem"...
Na minha opinião, a operação "Portugal Sempre Seguro" devia ser complementada pela campanha "Portugal Por Vezes Inseguro". Quem vive em países considerados dos mais seguros do mundo - como o Brasil ou o Paquistão - procura Portugal, precisamente, para vivenciar uma certa insegurança. Claro que existem países mais inseguros - como a Suíça ou a Suécia ou lá o que é - mas a ideia, aqui, é proporcionar algo que os faça sentir vivos, mas sem morrer. Essa é a grande vantagem competitiva de um país como o nosso. Numa fase seguinte, as duas campanhas poderiam convergir numa só "Portugal Seguro: Nem Sempre, Nem Nunca".
O ministro dos Negócios Estrangeiros não diz se o governo apoia, ou não, uma ida de António Costa para presidente da Comissão Europeia. O ministro considera que é preciso esperar pelo resultado das eleições e alerta: “quem entra papa, sai cardeal". Bom provérbio. Lembrei-me de outro: "com papas e bolos, se enganam os tolos".

Hoje, está a ser um dia estranho: ainda não choveu... ainda não saiu ninguém do governo...
Ganhar o tesouro, perder a secretaria.

[Fotografia: John Sibley - Reuters]

Claro que há um dado novo: o primeiro-ministro trava a decisão sobre o novo aeroporto, anunciada pelo ministro da tutela.
Quanto ao resto - a discussão do aeroporto tem 50 anos, com apresentações, contestações, localizações e demissões - nem por isso.
Lembram-se do novo normal? Não vai acontecer. Temos o normal, de novo. [Fotografia: Tiago Petinga/LUSA]