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Eu sou um jovem muito cosmopolita e muito à frente. Só falo do futuro. E o futuro chama-se Web Summit. A Web Summit é uma Summit, onde cada CEO faz um pitch da sua startup. De acordo com o secretário de Estado da Indústria, as startups são empresas rockstars, que são financiadas por business angels, ou pelo programa Co-Invest with the Best, lançado por Tony Back, AKA António Costa.
Tony (ler com pronúncia americana, please!) também falou da Ventures Summit, uma summit, paralela à Web Summit, que, por sua vez, foi precedida pela Surf Summit. Tony é cool. Hard Barroso não é. Foi vaiado. Para mim, só foi vaiado porque apresentaram-no como, Durão Barroso, antigo presidente da Comissão Europeia. Se dissessem que ele era chairman da Goldman Sachs, que financia startups, ninguém se atreveria. O povo sacava do smartphone para tirar uma selfie, e ter likes no Facebook, enquanto se discutia o fim do roaming. O mais cool, veio a seguir: apanhou-se um Uber, para fazer networking, nos pub crawls. Só estranhei que se falasse tanto em empreendedorismo. Não se arranja uma palavra melhor? Tipo... entrepreneur.
Os taxistas são brutos. Os motoristas da Uber são cultos. Os táxis estão imundos. Os Uber brilham. Os taxis dão musica pimba. Os Uber oferecem jazz. Os táxis são passado. A Uber é o futuro. Os táxis são caros. A Uber é barata. Desculpem, mas não acredito. A discussão taxis versus Uber, não se pode colocar sobre estereótipos. Nem sobre preços. Vejo, à minha volta, uma quase unanimidade de gente a apoiar a Uber. E, no entanto, a UBER não existe. É só uma aplicação, detida por empresas multinacionais de capitais de risco. Dessas, que se gosta de apontar o dedo. O que temos, depois, são motoristas “freelance”, sem qualquer tipo de regulamentação.
É mais barato? Poderá ser. Mas o tabaco de contrabando também é e não vejo ninguém a defender que é assim que deve ser. A Uber deve ter regras, como qualquer outra actividade. Deve ter motoristas com formação, seguros adequados, pagar licenças, pagar impostos. As empresas devem concorrer, num quadro de igualdade. E isso, não tem acontecido. O que tem acontecido é um setor que tem regras e obrigações, ameaçado por um novo negócio que não tem regras nenhumas. Se os taxistas perderem o emprego, ficam sem vida de gente. Se a Uber falhar, a Goldman Sachs investe noutro negócio qualquer.
Já temos, finalmente, uma explicação para o caso Barroso. O antigo presidente da Comissão Europeia perdeu o direito à passadeira vermelha. Paulo Rangel tem a explicação: a Comissão Europeia está a tentar prejudicar a candidatura de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas. Rangel (que foi braço direito de Rui Rio, candidato à liderança do PSD e é eurodeputado e vice-presidente do PPE) não encontra outra explicação para a forma como Durão Barroso está a ser tratado. É verdade, eles não querem saber de Durão Barroso. Nem querem saber da Goldman Sachs. Eles querem é prejudicar Guterres. Eles querem é prejudicar Portugal.
Eu iria mais longe. Depois de terem dado o Mundial 2018 à Rússia, em vez de Portugal, eles não querem a selecção portuguesa no Mundial. E eles sabem que nós somos favoritos. E ninguém me tira da cabeça que esta história foi tornada pública na véspera do Benfica - Besiktas (reparem no empate). Parece que gostam mais dos Turcos e de Erdogan, do que de nós e o nosso Guterres. E esta semana há Real Madrid - Sporting e Porto - Copenhaga. Estão a ver a ligação? Querem-nos atirar para fora da Europa e do mundo, é o que é. Durão é só um pretexto. E o mais incrível, é que Rangel é o único a ver isso.
“Durão Barroso deixa de ter tratamento VIP”. “Durão Barroso perde o direito a Passadeira Vermelha”. Os títulos poderiam ser sexy, mas são só hilariantes. Tratar o antigo presidente da Comissão Europeia como uma estrela de Hollywood (ou como uma estrela de reality shows) é ridículo. Diz muito da situação em que Durão Barroso se colocou , mas também diz muito do quadro de análise dos media.
O que se passa é que, ao deixar a Comissão Europeia, Durão Barroso optou por ir trabalhar para o banco de investimento Goldman Sachs. E o actual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, diz que, por isso, Durão Barroso vai ser tratado enquanto funcionário da empresa e não como ex-presidente. Parece razoável. E óbvio. Devia ter sido óbvio, para Durão Barroso, que a sua entrada para Goldman Sachs iria levantar muitas questões: sobre as instituições europeias; sobre as relações entre a política e o poder económico; sobre incompatibilidades e conflitos de interesses; e sobre o seu papel, no meio de tudo isto. A forma como é recebido é uma questão lateral.
E reduzir a situação a uma questão de “passadeira vermelha” é deixar a política nas mãos da imprensa cor de rosa.