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- Então, porque é que os nossos produtos não a estão a vender? - perguntou o diretor.
- Estão vender, chefe. Menos, mas estão.
- Eu sei que estão, mas estamos muito longe da liderança. Alguém quer-me dizer porquê?
E, então, chegavam as justificações:
"por causa das importações diretas", "das promoções agressivas", "das regras da grande distribuição", do "dumping".
- Estamos a falar de coisas fora da lei? Se estamos, têm de ser denunciadas - continuava o diretor.
- Anda, para aí, muita trafulhice, chefe. Por isso é que os tipos estão a vender mais do que nós.
- Mas, nós já estivemos muitas vezes na liderança.
- Pois, chefe, mas agora...
- "Mas agora"... Acham, mesmo, que só há trafulhice quando estamos a perder? Ninguém acredita nisso.
- Acha que não?
- Só se for no futebol. Mas não lhes serve de nada.
Não podemos subestimar um país que nos deu Václav Havel, Franz Kafka, Milan Kundera, Antonín Dvořák e um autogolo. Não podemos, nem devemos. Gratidão, como agora se diz.
Há muito, muito tempo, era eu uma criança. Eramos todos, de resto. Fomos ver um jogo de basquetebol. Um Benfica - Barreirense ou um Benfica - Queluz, já não me lembro. A maioria nunca tinha visto um jogo de basquete. Alguns nem gostavam, apesar de nunca terem provado. Mas lá fomos. Não me recordo do resultado. Mas lembro-me da surpresa dos meus amigos com o resultado. Contavam com uma vitória esmagadora do Benfica - o que não aconteceu (ganhou por um ou dois pontos). E contavam ver os grandes jogadores do Benfica. "Como assim?", perguntei. "Então, o Bento, o Nené, o Chalana... ". Estranhei: "Mas esse são jogadores de futebol!". "Eu pensei que eram os jogadores do Benfica, mas a jogar basquete!". Ainda reclamei "Isso não faz sentido nenhum!". Mas o Paulinho, com a sabedoria dos seus cinco anos rematou: "Não admira que estivessem a perder, pouparam nos craques!". É isso, Paulinho. Dois pontos. Golo.
(Na imagem, o português Neemias Queta. Campeão da NBA, pelo Boston Celtics)
- Tens os papéis, para entregar ao treinador?
- Tenho, pai.
- Como é que ele se chama?
- Não sei.
- Não sabes?
- Não, pai, é novo. Nós chamamos-lhe "mister".
- Mas, aqui, são todos "mister" .
- Todos, pai?!
- Todos, não. O teu pai é um "senhor".
- Estamos a ganhar, pai?
- Acho que sim. Há pouco, estava 1-0.
- Porque é que não estás a ouvir o relato?
- Porque estou a ouvir música.
- Clássica, ainda por cima.
- E...?
- Não devíamos estar a apoiar Portugal?
- E estamos.
- Com música clássica!?
- Exato, do Joly Braga Santos.
Portanto, as pessoas estão indignadas com o encerramento da Feira do Livro de Lisboa, por causa dos festejos do Benfica. Eu confesso que também fui apanhado de surpresa. Afinal, este é o país que tem três jornais diários sobre livros e literatura. Mas, a verdade é que já não tenho paciência para os programas de debate sobre livros. É sempre a mesma receita: um adepto do Lobo Antunes, outro do Saramago e outro do Rodrigues dos Santos, aos gritos. Aquilo não tem utilidade nenhuma: discute-se a extensão da frase ou do parágrafo, analisa-se a densidade dos personagens, contam-se as figuras de estilo... credo! E as antevisões da narrativa?! E o balanço das edições, na sala de imprensa?! Haja paciência! Para mim, um intervalo para futebol é uma lufada de ar fresco.
"Shakira, Shakira!", dizia o rapper de gosto questionável, num tema de gosto questionável. "Devem ser duas", pensei. São duas. A primeira, conhecia-a algures nos anos 90 e achei-lhe graça. A segunda, não gostei nem um bocadinho. Era a cantora de "Whenever, Wherever". A canção pingava, várias vezes por dia, numa rádio inundada de azeite - que eu era obrigado a ouvir, por motivos profissionais. Uma dessas Shakira entrou, depois, na banda sonora do filme "O Amor nos Tempos de Cólera". Terá sido uma proposta do próprio Gabriel García Márquez. Na altura, o escritor afirmou que Shakira era uma das grandes cantoras da atualidade e um símbolo da nova sensualidade colombiana. "Coitado", pensei, "está velhinho"! Fui ouvir a banda sonora e... o velhinho tinha razão. Esta Shakira, é maravilhosa. A outra, não me interessa. Terá sido essa, que se separou do jogador de futebol e fez uma música sobre isso ("Fraquinha, fraquinha!"). Não gosto dessa, gosto desta. Ele há gostos... e Hay amores.