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- Ai, ai, ai!
- O que foi, filho? A rebolar no chão?!
- Ahhh...
- Dói assim tanto?
- Dói. O mano bateu-me no ombro.
- Mas estás a agarrar o joelho!
- Eu sei, pai.
- Isso não faz sentido.
- Faz, sim, pai.
- Não percebo.
- Eu sou jogador de futebol, pai. Estou a praticar.
Ruben Amorim resolveu mudar-se para Manchester. Não percebo o entusiasmo. Assim, de repente, não me ocorre nada de interessante em Manchester.
- Então, porque é que os nossos produtos não a estão a vender? - perguntou o diretor.
- Estão vender, chefe. Menos, mas estão.
- Eu sei que estão, mas estamos muito longe da liderança. Alguém quer-me dizer porquê?
E, então, chegavam as justificações:
"por causa das importações diretas", "das promoções agressivas", "das regras da grande distribuição", do "dumping".
- Estamos a falar de coisas fora da lei? Se estamos, têm de ser denunciadas - continuava o diretor.
- Anda, para aí, muita trafulhice, chefe. Por isso é que os tipos estão a vender mais do que nós.
- Mas, nós já estivemos muitas vezes na liderança.
- Pois, chefe, mas agora...
- "Mas agora"... Acham, mesmo, que só há trafulhice quando estamos a perder? Ninguém acredita nisso.
- Acha que não?
- Só se for no futebol. Mas não lhes serve de nada.
Não podemos subestimar um país que nos deu Václav Havel, Franz Kafka, Milan Kundera, Antonín Dvořák e um autogolo. Não podemos, nem devemos. Gratidão, como agora se diz.
Há muito, muito tempo, era eu uma criança. Eramos todos, de resto. Fomos ver um jogo de basquetebol. Um Benfica - Barreirense ou um Benfica - Queluz, já não me lembro. A maioria nunca tinha visto um jogo de basquete. Alguns nem gostavam, apesar de nunca terem provado. Mas lá fomos. Não me recordo do resultado. Mas lembro-me da surpresa dos meus amigos com o resultado. Contavam com uma vitória esmagadora do Benfica - o que não aconteceu (ganhou por um ou dois pontos). E contavam ver os grandes jogadores do Benfica. "Como assim?", perguntei. "Então, o Bento, o Nené, o Chalana... ". Estranhei: "Mas esse são jogadores de futebol!". "Eu pensei que eram os jogadores do Benfica, mas a jogar basquete!". Ainda reclamei "Isso não faz sentido nenhum!". Mas o Paulinho, com a sabedoria dos seus cinco anos rematou: "Não admira que estivessem a perder, pouparam nos craques!". É isso, Paulinho. Dois pontos. Golo.
(Na imagem, o português Neemias Queta. Campeão da NBA, pelo Boston Celtics)
- Tens os papéis, para entregar ao treinador?
- Tenho, pai.
- Como é que ele se chama?
- Não sei.
- Não sabes?
- Não, pai, é novo. Nós chamamos-lhe "mister".
- Mas, aqui, são todos "mister" .
- Todos, pai?!
- Todos, não. O teu pai é um "senhor".
- Estamos a ganhar, pai?
- Acho que sim. Há pouco, estava 1-0.
- Porque é que não estás a ouvir o relato?
- Porque estou a ouvir música.
- Clássica, ainda por cima.
- E...?
- Não devíamos estar a apoiar Portugal?
- E estamos.
- Com música clássica!?
- Exato, do Joly Braga Santos.