Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Já era tempo do CDS voltar a ter um líder com dois apelidos. É uma condição importante, para um partido que se quer afirmar à direita. Estou, até, convencido que os problemas recentes do CDS não têm origem na ideologia, mas sim na antroponímia. [Foto: Paulo Novais - Lusa]
"Abel Matos Santos quer “romper” com os últimos 25 anos do CDS", escreve, hoje, o jornal Público. Abel Matos Santos é candidato à liderança do partido que, há 25 anos, rompeu com o CDS de Freitas do Amaral. Nessa altura, Lucas Pires já tinha rompido com o CDS e o Partido Popular Europeu já tinha rompido com o CDS, expulsando-o da família europeia de centro-direita. Há 25 anos, o CDS tinha acrescentado o sufixo "PP", que muitos associavam a Paulo Portas. O jornalista-ideólogo apoiava a ruptura de Manuel Monteiro, mas, depois, rompeu com Monteiro num congresso, em Braga. De seguida, Manuel Monteiro rompeu com o CDS, para fundar um novo partido. Foram muitas rupturas, para um partido conservador que Abel Matos Santos quer voltar a “romper”. Já agora, Abel Matos Santos é porta-voz da Tendência Esperança em Movimento. Pelo vistos, o Movimento quer regressar a 1994.
Escrevi este texto, em 2017, por altura da morte de Mário Soares. Achei que fazia sentido voltar a este texto, no dia da morte de Freitas do Amaral.
Foi uma grande campanha eleitoral: Soares contra Freitas, nas Presidenciais de 1986. Freitas fez uma campanha à americana: jovem, moderna, com um slogan irresistível, com a sua mulher bonita ao lado. A malta do liceu andava muito excitada com o Freitas. Eu também estava fascinado, com o antigo líder do CDS. Os cartazes, os autocolantes, as bandeiras. "Prá frente portugal?", claro que sim!
Mas, depois, a minha irmã chegou a casa, toda "Soares é Fixe!", com uns autocolantes que faziam lembrar o "Nuclear não, obrigado!", e o meu coração vacilou. Eu achava que o "bochechas" estava velho. Mas a minha irmã dizia que não, que o outro era mais novo mas tinha ideias velhas. Freitas, dizia ela, era um reaccionário de direita e só os fascistas é que gostavam dele. Além do slogan, a música de apoio a Soares do Rui Veloso também era fixe, e o MASP (Movimento de Apoio Soares à Presidência) crescia de dia para dia, com o apoio de gente fixe. Depois, os comunistas taparam a cara de Soares; Soares ganhou; Freitas perdeu mais do que seria admissível e a política foi ficando mais tecnocrática e cinzenta. Cavaco teve culpas no cartório. Soares, o rei-republicano, também. E nunca mais houve uma campanha, como a de 1986.
Mas, sim, Soares foi (mesmo) fixe.
Kristalina Georgieva pediu folga ao patrão para ir para a ONU. O patrão deu folga e, até, encorajou Kristalina… Angela Merkel apoia. Portugal espanta-se. Guterres já venceu cinco batalhas, mas arrisca-se a peder a guerra. Marcelo diz que Kristalina parece uma atleta que entra para a maratona, a 100 metros do fim. Mas lembra que Guterres é um "maratonista natural". Felizmente, Portugal tem tradição na maratona.
Mas anda batota no ar, lembrou-nos Freitas do Amaral - homem que percebe de ONU. Kristalina veio substituir a candidatura de Irina Bokova, a anterior búlgara de serviço, que perdeu todas as votações. Na segunda-feira, Kristalina vai ser ouvida na ONU. Não se sabe para que é que serviram as votações informais anteriores. Só se "votação informal" significar “votar, até vencer o que eu quero”.
Antigamente, havia a Cristalina. Uma laranjada honesta: xarope de açúcar, ácido citrico e sumo de fruta. Era uma refrefrigerante hidro-carbo-gaseificado… Não era sumo detox. Nós sabíamos isso. Era claro como a água. A candidatura de Georgieva não é Kristalina. É turva.
Olho para a capa da Visão. Vejo Guterres: de olhar vivo e sorriso rasgado e de bigode. Foi o bigode que deixou crescer, para homenagear Salvador Allende. O (excelente) artigo da revista dá-nos uma boa ideia de quem tem sido Guterres e porque é que ele está na posição de se tornar no senhor ONU. Ao longo dos anos, o antigo primeiro-ministro (à semelhança da generalidade da classe política) foi alvo da ironia e do desdém dos intelectuais que se passeiam nos media portugueses. Não é a crítica que me incomoda, é o snobismo aristocrático.
Portugal, país pequeno e periférico, tem conseguido gerar políticos de elevada projeção internacional: Freitas do Amaral, Mário Soares, Durão Barroso, António Guterres. E, no entanto, a "aristocracia" que vagueia entre os media e a academia, persiste em falar da falta de qualidade dos nossos políticos. Claro que o desempenho de Durão Barroso na Europa e a sua entrada para o Goldeman Sachs não ajudam a defender a classe política. Ou o caso Sócrates. E há muito mais exemplos. Mas, também, há Guterres.
Vasco Pulido Valente chamou-lhe picareta falante. Quando Vasco fala, os media portugueses ouvem. Mas é Vasco que fala demais e, apenas, para uma pequena paróquia de acólitos. Guterres segue o seu caminho, indiferente. Guterres dá-lhes um bigode.
Estamos na campanha para as presidenciais. Tenho tentado seguir os debates na televisão. É difícil. São mais de 20. Ontem, até ouvi o debate, na rádio, com 10 candidatos. Isso mesmo, dez. Enchiam o estúdio da Antena 1. Falou-se do cargo de presidente, de governação, de demitir governos, do Banif. Tino de Rans adaptou António Variações para dizer que “quando os bancos não têm juízo, o povo é que paga”. Foi um debate e pêras!
À noite, Miguel Sousa Tavares considerava que há candidatos que procuram, apenas, publicidade. São as presidenciais ao serviço dos 15 minutos de fama, de Andy Warhol. Freitas do Amaral reforçou o óbvio: ninguém deve começar uma carreira política pela Presidência da República. Maria de Belém já tinha dito o mesmo. Mas Maria é candidata a Belém. Freitas já foi e não volta a ser.
A democracia é de todos e para todos. Mas, ao ver tantos e tão estranhos candidatos, pergunto-me se deve ser um albergue espanhol. Com todo o respeito pelo setor hoteleiro e pelos espanhóis.