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Jane B

por Miguel Bastos, em 16.07.23

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"Olhos azuis, cabelo castanho, Jane B., inglesa, sexo feminino, idade entre os 20 e os 21". Jane Birkin cantou-se, assim: escrita/descrita por Gainsbourg, deitada sobre um prelúdio de Chopin.
Serge Gainsbourg teria a palavra certa, na medida certa, para falar da morte de Jane. Mas, Serge morreu. Há muito. A exposição "Le mot exact" sobrevive no Centro Pompidou, na cidade que já foi dos dois.

Canção, aqui: https://www.youtube.com/watch?v=nNimEUTmQy8

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Dignidade no trabalho

por Miguel Bastos, em 11.07.23

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Um dia destes, farei um texto espetacular sobre a dignidade no trabalho. Será uma coisa como deve ser: bem pensada, bem escrita, com citações eruditas e notas de rodapé. Infelizmente, agora não tenho tempo. Tenho que pôr estas almofadas na cama, coitadas!

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Paris, sempre

por Miguel Bastos, em 14.03.23

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Gosto muito destes dois vizinhos: tão diferentes, tão iguais. Comecemos pelas capas. Parecem daqueles discos baratinhos, que se vendiam nas margens do Sena, a turistas apressados, na cidade dos clichés: "a cidade luz", "a capital do amor". "Ah, Paris!"; "Ah, o Arco do Triunfo!"; "Oh, a Torre Eiffel!". Na realidade, o disco original de Michel Legrand chama-se "I Love Paris" e não tem esta capa. Começa com o tema-título, o clássico de Cole Porter, e equilibra-se, ao longo do disco, entre visões "de fora" e "de dentro" sobre Paris. Os compositores vão de Jerome Kern a Offenbach. As orquestrações, de Legrand, respiram "jazz" e "chanson", em doses generosas.
 
Se a Paris, de Legrand, é moderna e cosmopolita, a Paris, de Dimitri from Paris, é pós-moderna. Não rejeita um só cliché. Pelo contrário, assume-os todos: absorve-os, acentua-os e devolve-nos os clichés, de forma diletante e divertida. Inventa um personagem: o sargento Bill T. Hawthorne que terá desembarcado na Normandia, para libertar Paris, onde uma tal Monique lhe prendeu o coração, em Montmartre. Mostra o "Monsieur Dimitri", na sua "pied à terre", na Riviera francesa. A música, entrecortada por vários interlúdios, mistura rimos latinos, "house" e "funk", com música de bar de hotel e filmes de espiões. Uma delícia. No final, ouve-se alguém a dizer: "Ah, Paris sera toujours Paris". Será. Paris será o que cada criador quiser. Será o que cada um de nós quiser.

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Compreender a guerra

por Miguel Bastos, em 22.04.22

guerra fria.jpg

Compreender não é sinónimo de aceitar, nem de concordar, nem de justificar. Por exemplo, ao longo dos anos, tenho tentado "compreender" como é que foi possível Hitler conquistar tantos países europeus, em tão pouco tempo. Chamar-lhe ditador (que era), louco (sim), racista (claro), criminoso (pois), etc. não explica tudo. A verdade é que Hitler beneficiou do medo de uns e da indiferença de outros, da ingenuidade de uns e da cumplicidade de outros. Quando invadiu metade da Polónia, já tinha acordado, com Estaline, que a União Soviética invadiria a outra metade. Muitos dos países que a Alemanha invadiu, tinham largas fatias de população que simpatizava com o nazismo: fosse em França ou na Ucrânia. A União Soviética só mudou de ideias sobre o pacto de não-agressão, assinado com Hitler, quando já tinha tropas nazis no seu território. Os Estado Unidos só perceberam que tinham de entrar na Guerra, quando a guerra lhes entrou em casa. Nada disto "branqueia" o nazismo. Serve só para lembrar que o mal gosta de silêncios e de andar de mãos dadas.
Olhando para a Ucrânia: cem anos depois, a extrema-direita é um problema, sim; o nacionalismo é um problema, sim; a Rússia é um problema, sim. Na Segunda Guerra, os ucranianos, oprimidos pelos vizinhos de leste, acharam que, talvez, os invasores nazis fossem menos maus. Não eram. Foram agredidos antes, durante e depois da Segunda Guerra, por uns e por outros. O povo ucraniano não devia ser obrigado a escolher entre um mal e outro. Tem sido. Repetidamente.
A Europa democrática está ameaçada por movimentos de extrema-direita: autoritários e iliberais. França, que esteve dividida entre a heroica resistência e o regime colaboracionista de Vichy, vai a votos este fim de semana, dividida ao meio. De um lado, está a candidata, Marine, que herdou o nome e o partido de Le Pen pai - um colaboracionista. Marine é próxima do italiano Salvini, do húngaro Órban, do russo Putin. O russo, que quer "desnazificar" a Ucrânia, apoia líderes, partidos e movimentos conotados com a extrema-direita. Parece que há bons e maus nazis. Não há. Diz-se, muitas vezes, que a "história não se repete". Talvez não. Eu diria, porém, que se imita muito bem a si própria.
[Na fotografia: "A Guerra Fria", de Odd Arne Westad]

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Divórcio

por Miguel Bastos, em 21.04.22

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Estou a ver o noticiário, na televisão. Em rodapé, anuncia-se o novo filme de António Pedro Vasconcelos, sobre o tema do divórcio. Olho para ecrã. Sóbrio e elegante, um casal de meia idade senta-se, frente a frente. Discutem os problemas que os apoquentam. Separam-nos umas mesinhas, pequenas, e um mundo, imenso: as contas do gás, da eletricidade, a economia doméstica, e a russa que se meteu entre eles. "Eu sou uma mulher livre", diz ela. "Pronto, está consumada a separação", penso em voz alta. Mas, subitamente, pinta um clima. Sim, um clima. "Quem lá ver...", penso, de novo, em voz alta. "Você é uma climo-cética!", atira ele. "E você é um climo-hipócrita", responde ela. O ambiente não está nada bom. Desligo o televisor.

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Autoestrada da comunicação

por Miguel Bastos, em 16.02.22

autoestrada pequena.jpg

Estava eu a preparar-me para ultrapassar um camião, na autoestrada, quando este resolve passar para a faixa da esquerda. Percebo que tenta ultrapassar outro camião. Reduzo a velocidade, enquanto sopro para as narinas. O camião à minha frente leva materiais de construção, o da direita leva uns automóveis franceses bem bonitos. Vai atrás de um terceiro camião, que leva galinhas e pintainhos. O camião à minha frente não consegue ganhar velocidade, para ultrapassar os outros dois e encostar. Mantenho-me atrás dele, enquanto se forma uma fila de carros atrás de mim. Olho para o camião ao meu lado - o que leva os automóveis - e faço um gesto de apreciação com o polegar para o motorista, que me responde esfregando o polegar e o dedo médio - como que diz "quer comprar?" Digo que sim, com a cabeça, e ele responde fingindo que assina o contrato de compra e venda. Volto a dizer que sim com o polegar, mas, entretanto, o camião que levava as galinhas entra para a área de serviço e o camião à minha frente consegue, finalmente, encostar. Faço um gesto ao motorista que leva o camião com os automóveis, a pedir desculpa, apontando para a fila de carros atrás de mim. O senhor acena, compreendendo a situação. O negócio foi com os pitos.

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Os meio e os fins

por Miguel Bastos, em 03.12.21

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Este é o novo sobressalto da democracia europeia: chama-se Eric Zemmour. O candidato à presidência do país da "Liberdade, igualdade, fraternidade" é um conhecido ex-jornalista e comentador da televisão. Zemmour é um judeu de extrema-direita, simpatizante de Pétain - símbolo máximo do colaboracionismo nazi. Um antimuçulmano, que já foi condenado por racismo, e que conta com o apoio de Le Pen pai. Zemmour anunciou que era candidato, num vídeo publicado no Youtube. Não é surpreendente. Os defensores das ideias mais antigas não hesitam em recorrer às tecnologias mais modernas, para espalharem a sua mensagem. Não é uma invenção do populismo de hoje. É uma invenção do populismo de sempre. Os "modernos", admiradores do teórico dos media Marshall McLuhan, continuam encantados com os "meios que são mensagem". Os "antigos" não olham a meios, para atingirem os fins.

[Foto: Joel Saget / AFP]

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Jovem centenário

por Miguel Bastos, em 09.07.21

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António Sampaio da Nóvoa deixou de ser representante de Portugal na UNESCO. Foi exonerado, pelo Presidente da República, por limite de idade. Sampaio da Nóvoa, que chegou a ser adversário político de Marcelo Rebelo de Sousa, está velho: tem 66 anos. O jovem que o exonera tem 72.
 
Entende-se, portanto, que 66 anos é uma idade excessiva para trabalhar na Organização das Nações Unidas, sediada em Paris, que esta semana está a homenagear, com entusiasmo, os 100 anos de Edgar Mourin.
 
Revejo a capa, de ontem, do jornal francês "Liberation": o jovem Mourin interpela-nos “ne baissez pas le bras / não baixem os braços”. Não sei, querido Edgar, isto está difícil. Estamos cansados. Já não temos a sua idade. Enfim, só quem cá chega é que sabe...

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Tiago Rodrigues

por Miguel Bastos, em 05.07.21

https://www.rtp.pt/noticias/cultura/tiago-rodrigues-e-o-novo-diretor-do-festival-davignon_n1333070

Não será coincidência. No dia em que "O cerejal" é apresentado em Avignon, Tiago Rodrigues é confirmado como o novo diretor do Festival. Um cerejal no topo do bolo.

https://www.rtp.pt/noticias/cultura/tiago-rodrigues-e-o-novo-diretor-do-festival-davignon_n1333070

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Comprar livros

por Miguel Bastos, em 11.02.21

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Leio esta manhã: "Marcelo Rebelo de Sousa abre a porta à venda de livros". Pelo que percebi, as pessoas não andam a ler, porque a venda de livros tem estado limitada. A partir de hoje, as pessoas vão desligar as novelas e os futebóis, para se dedicarem (finalmente) àquilo que mais gostam: velejar na epopeia grega, desbravar o existencialismo francês, mergulhar no romantismo alemão. Cuidado Cristina, não abordes a lírica camoniana, no programa da manhã, e vais ver as audiências a cair a pique! Ou é isto, ou não estou a ver bem o problema. Excesso de Camões.

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