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- Tu não tens de estudar, filho?
- Não.
- Mas sabes que tens teste de português?
- Sei.
- E então?
- Aquilo é chegar lá e inventar uma “escrevinhatura” qualquer.
- Sabes que “escrevinhatura" não existe, não sabes?
- Sei. Estava só a ser “engraçoso”.
"Como está a carteira dos portugueses?", pergunta a Antena 1. A minha está assim: velhinha. Sei que vou ter de a trocar, mas custa-me. Custa-me sempre, mas, desta vez, custa-me ainda mais. Aquele autocolante, colado no lado esquerdo da minha velha carteira, é do mais novo, quando era mais novo. Quando era tão novo, tão novo, que ainda não era nascido. Nesse dia, em que se preparava para nascer, colei o mais novo na carteira. É onde está, até hoje. Na velha carteira, do mais velho. Eu.
- Ai, ai, ai!
- O que foi, filho? A rebolar no chão?!
- Ahhh...
- Dói assim tanto?
- Dói. O mano bateu-me no ombro.
- Mas estás a agarrar o joelho!
- Eu sei, pai.
- Isso não faz sentido.
- Faz, sim, pai.
- Não percebo.
- Eu sou jogador de futebol, pai. Estou a praticar.
Portanto, foi uma manhã como as outras. Acordei cedo, ainda era de noite. Preparei o pequeno-almoço, enquanto tirava a louça da máquina. Tomei o pequeno almoço, ao som do primeiro noticiário da manhã. Estendi uma máquina de roupa, ao romper da aurora. Acordei os miúdos, ao som do segundo noticiário da manhã. Tomei banho, enquanto se arranjavam. Deixei-os à mesa e despedi-me. Entrei no carro, ao som do terceiro noticiário. Depois de vários quilómetros, cheguei à redação. Devia estar a trabalhar, mas resolvi fazer uma pausa. Não quero parecer ofegante, que esta vida é um sopro.
- Vamos acordar, filho?
- Estou acordado, pai.
- Então, porque é que não desligas o despertador?
- Estava a ver se ele desistia.
- Parece-me que não vais ter sorte.
- Pois, parece que não. Ainda dizes que eu é que sou teimoso!
- Sabes, pai? Comprámos-te uma prenda!
- Ai, sim?
- Sim, é uma tenda de campismo. Mas não digas a ninguém...
- Está bem, eu prome...
- Chuuuu, é segreeedo!