Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Este fim de semana, há festival da Eurovisão. Este ano, é na Suécia. A terra dos ABBA. Quero que saibam que o assunto não me diz nabba. Desculpem, nada.
Morreu o poeta Joaquim Pessoa. Gostava de conhecer melhor o seu trabalho poético. Vou adiando para "um dias destes", que é um local habitado por muitos poetas e escritores. Conheço Joaquim Pessoa, das canções. A rádio e os jornais destacam (bem) a "Amélia dos olhos doces" (Carlos Mendes) e "Lisboa, menina e moça" (Carlos do Carmo). Mas é curto. Ele tem tantas canções! Só no disco "Uma canção para a Europa", que corresponde às canções do Festival de 1976, Carlos do Carmo canta três poemas seus: "Lisboa Menina e Moça" (em parceria com Ary dos Santos), Cantiga de Maio (não confundir com a canção de José Afonso) e "Onde é Que Tu Moras?" (uma das canções da minha vida). Só essa, já era muito. Mas há mais, muitas mais.
Os Quatro e Meia. Não sei de onde veio o nome da banda. Mas, quando apareceram, lembrei-me logo do anúncio da "Cola-Cola Light". A música do grupo também é "light", o que não é, necessariamente, um defeito. A canção "Amanhã" é das melhores propostas para o Festival da Canção, dos últimos anos: leve, despretensiosa, com uma melodia irresistível e belíssimas harmonias vocais. Passou a 1.ª Semifinal. Hoje, à noite, chegam mais canções. Amanhã, logo se verá.
Os ABBA estão de regresso. É, apenas, uma informação que vos dou - que o assunto não me interessa nada. Não me identifico (de todo!) com música de festival. Só se for de festival de música eletroacústica, experimental, avant-gard. A única canção dos ABBA que vale a pena, é o tema que dedicaram ao Pierre Boulez - o Boulez-bous.
Uma semana depois, o Festival da Eurovisão continua na minha cabeça. Apesar das explosões de luz e cor, e de todos os excessos de botox, silicone, laca, maquilhagem, tatuagens, cabeleiras, purpurinas, lantejoulas e bailarinos, a verdade é que (pasme-se!) havia ali canções. A nossa, por exemplo, é muito boa. A minha preferida - a francesa "Voilá" - é um arrepio. O cantor suíço é muito interessante. E, mesmo, a canção italiana - que me tinha parecido, apenas, um glam/hard rock estereotipado - cresceu com as audições seguintes.
Curiosamente, poucos repararam na canção da Bélgica ("The Wrong Place"), que me tem acompanhado por estes dias. Os Hooverphonic são uma banda muito respeitável, que teve algum sucesso na segunda metade dos anos 90. São contemporâneos e próximos de bandas como os Portished, Air ou Goldfrapp. Bandas que misturavam uma certa pop dos anos 60; com bandas sonoras de John Barry ou Ennio Morricone; uns toques de dub, jazz, bossa nova e easy listening; e o recurso a ritmos hip-hop, eletrónica e "samples". Por estes dias, tenho andado a (re)ouvir os Hooverphonic e arredores. Nunca pensei que o fizesse, por causa do Festival da Eurovisão. E a canção é muito boa. Terá sido a canção certa para o local errado?
Quando eu era mais novo, gostava muito de desfolhar livros. Mas, depois, chegaram os talibãs a dizer "isso não se diz" e mais não-sei-quê. Passei, então, para as canções. Andei anos a traulitar a "Folheada", da Simone. Ainda gosto.
"De novo vieste em flor / Te desfolhei"
Hoje, lembrei-me desta canção da Dora - que é fresca que nem uma alface e boa para afastar a depressão. Mas não chega. O tempo está mau: com geada no interior; neve nas terras altas; mar encrespado na orla costeira; chuva e vento fortes, em todo o país. Precisamos, todos, de ter um comportamento responsável e fazer a nossa parte: vestir um casaquinho.
Faltava o frente a frente, o cara a cara, o "Mano a mano". Finalmente, vi (e, sobretudo, ouvi) o Salvador Sobral ao vivo. Confirma-se, é um dos melhores artistas portugueses, de que tenho memória: cantor, músico, "entertainer", intérprete, criador, compositor. Tanto talento, num jovem que se estreou num concurso de marionetes e se tornou conhecido no Festival da Canção. Salvador tem música no coração e tem música à flor da pele. Respira música: expira-nos música e, com isso, inspira-nos vida.
Obrigado Salvador: por nos mostrares que o mundo pode ser melhor.
Obrigado Eurovisão: por nos mostrares que o mundo é o que é.