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À semelhança de milhares de portugueses, também eu fui levantando os olhos em direção aos ecrãs de televisão. Presumo, no entanto, que, enquanto muitos procuravam imagens de Mourinho, eu procurei Santana Lopes. Lembram-se? Eu vou recordar. Há uns anos, Santana Lopes foi à televisão, falar do futuro do país e do PSD, mas foi interrompido para um direto. Mourinho estaria a chegar a Portugal, a bordo de uma aeronave, vindo do planeta Chelsea. Fez-se o direto e voltou-se à entrevista. Quer-se dizer: tentou-se. Porque Santana aproveitou a deixa, para ensaiar uma postura de Estado. "Está tudo doido?", perguntou. E perguntou bem. Enquanto ex-primeiro-ministro, impunha-se essa pedagogia. Eu próprio tentei esquecer-me que, antes de ser primeiro-ministro, Santana foi presidente... do Sporting. E que evitou (sempre e com todas as suas forças!) a mediatização da política. E nunca permitiu que a imprensa cor-de-rosa invadisse o seu coração cor-de-laranja.
Entretanto, o mundo mudou muito. As televisões deixaram de interromper ex-primeiros ministros, porque optaram por transmitir interrupções, ininterruptamente. Olho para os ecrãs e vejo tudo aos quadradinhos (as televisões, agora, têm mais quadradinhos do que a banda desenhada): imagens de comentadores no estúdio, em casa e no carro; imagens dos jornalistas em estúdio e no exterior; imagens do selecionador em ação e a sair de cena; imagens de carros e autocarros e aviões. Muitas, ao mesmo tempo. Sabemos que, na modernidade, o salvador não vem numa manhã de nevoeiro; vem num jato privado. "É assim que o país anda para a frente?", perguntava Santana Lopes. Bem perguntado. Santana, que, entretanto, voltou à Figueira da Foz, devia fazer a pergunta, de novo. Eu acho, sinceramente, que o país anda para a frente. Tem andado: sempre ou quase sempre. O problema é que somos demasiado bons a andar às voltas. E isso, nem sempre ajuda.
Portugal. Não tive tempo para lamentar o afastamento da seleção. As responsabilidades do pai, sobrepuseram-se aos desejos do adepto. Não vi o jogo. Ouvi-o, em intermitência, até à morte. O mais velho gemia e suspirava no banco de trás. Percebi que tudo estava perdido, quando juntou as mãos em sinal de oração. Quando nos resta a vontade divina, para resolver um jogo pagão, estamos perdidos. Perdemos. Entrámos, cabisbaixos, na casa de Deus. Que diferença! "A igreja estava toda iluminada", como na canção, com dezenas de crianças e jovens à nossa espera. Tinham um concerto de Natal para nos oferecer. Muitos deles, gostariam de ter estado a ver o jogo. Mas não viram, por nossa causa. Enquanto a comunicação social debatia os méritos e deméritos da seleção, os meninos cantavam canções de Natal. Enquanto as redes sociais se incendiavam, com acusações ao selecionador e aos jogadores, o acordeonista bailava Piazzolla e um quarteto de cordas seguia o ritmo do tango. Enquanto Portugal se vestia de luto, as flautistas - andorinhas penduradas no coro alto - faziam esvoaçar melodias barrocas. Portugal perdeu na mesma. Eu também. Mas não perdi tudo, longe disso. Muito longe disso.
Hoje, o grande objetivo de Portugal é chegar aos quartos.
O meu também. E o dia mal começou.
Força Portugal!
Força eu
Olá! Alguém me sabe dizer há quanto tempo é que ganhámos o Euro 2016? (Peço desculpa, é que eu sou de letras...)
[Foto: Gerardo Santos / Global Imagens]