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António Variações morreu no dia de Santo António. E de Fernando Pessoa. E cantou Fernando Pessoa, a partir de um poema chamado "Canção". Sempre que ouço a "Canção", sinto um nó, na garganta, e um arrepio, na espinha. Escreve o Fernando e canta o António: "Mal oiço, e quase choro / E porque é que eu choro, não sei". A voz é sofrida, a melodia é fúnebre. É difícil não pensar na morte de Variações. Estaria, ele, consciente da chegada da sua própria morte, quando compôs ou cantou a "Canção"?
O programa "Portugueses no Mundo" está no ar, há vários anos, na Antena 1. Durante vários anos, a jornalista Alice Vilaça costumava perguntar: "De que é que tem mais saudades do nosso país?" As respostas variavam pouco: "da família", "dos amigos", "do sol", "do mar", "do bacalhau". Percebo, é difícil resistir ao bacalhau. Mas, e a língua? Falo da portuguesa, não a do bacalhau. A resposta "da língua" não era habitual. É estranho porque, quando saio de Portugal (basta uma semana), fico cheio de saudades da língua portuguesa, que está ligada ao bacalhau, mas é (ainda) mais saborosa. A minha pátria é a língua de Caetano a roçar na língua de Camões. Hoje, é dia de a celebrar.
Este fim-de-semana joguei à bola. Perdi, em toda a linha. Perdi o fôlego, perdi 10-7 e perdi o amor à camisola. É do Fernando Pessoa. Vou tentar transferir-me para o Álvaro de Campos. Pode ser que me saia melhor.
A binha bátria é a lígua burtuguesa (Fernando Pessoa, um bugadinho gunstipado). Hoje celebra-se, pela primeira vez, o Dia Mundial da Língua Portuguesa.
Deixem-me citar o jornalista Nuno Pacheco. Escreve ele, hoje, no Público: "Citar substitui a leitura [...]". E depois, cita o "Livro do Desassossego", de Pessoa, para falar de contexto. Isto, sem citar a polémica que estalou na CPLP. Pessoa, recorde-se, foi acusado por jornais angolanos e cabo-verdianos de ser um perigoso racista e um apoiante da escravatura. Falta o resto da frase de Pacheco "[...] tal como a vaga ideia substitui o pensamento". Fim de citação.