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Este disco custou-me 1 650 escudos. Pouco mais de 8 euros, há mais de 30 anos. Uma fortuna, portanto. Nessa altura, a rádio não me pagava um salário - dava-me uma mesada, que eu trocava por joalharia rara. Neste caso, guitarras de filigrana; canções artesanais, sussurradas na voz e cosidas à mão. Imperfeitas. Rarefeitas. Três, de cada lado. Meia hora de música, apenas. Tempo que eu multiplicava, trocando de lado, tocando até à exaustão.
Em menos de 10 anos, os Felt editaram 10 discos. Uns, mais parecidos com os outros. Outros, mais diferentes dos outros. Todos bons. Este foi o primeiro deles. E foi, também, o meu primeiro. Raro, caro. E precioso, claro!
Música, aqui:
Hoje, vim para o trabalho a ouvir a voz e a guitarra mágica de Tom Verlaine, nos Television. Ouvi o disco "Marquee Moon" e repeti a sensação de frescura e familiaridade que tive, quando o ouvi pela primeira vez. Cheguei aos Television, pela mão dos seus descendentes - um pouco à semelhança do que tinha acontecido com os Velvet Underground. Ouvi "Marquee Moon", com a voz de Verlaine (aguda e repleta de vibrato) e a guitarra rendilhada e virtuosa (mas isenta de virtuosismos estéreis) e pensei nas bandas que marcaram a minha adolescência: dos Felt aos Go-Beetweens, de Lloyd Cole and The Commotions a Siouxie and The Banshees, dos Echo and The Bunnymen aos Cocteau Twins. Pareciam que já estavam todos, ao mesmo tempo, em "Marquee Moon". O disco surgiu em 1977 - o ano seminal do punk. Não é, no entanto, uma herança datada. Quando ouvi, pela primeira vez, os Arcade Fire, senti que a herança dos Television estava lá. Tom Verlaine nunca alcançou a respeitabilidade de Lou Reed, nem foi tão inventivo como David Bowie (que o chegou a cantar), mas deixa um legado importante. Mesmo naqueles que nunca ouviram: nem o seu nome, nem a sua música.