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Foi-se embora
O mês de agosto
Logo agora
Que lhe tomara o gosto
A "silly season" é injustamente desvalorizada. Escrito, há dois anos:
Mais velho - Mas, afinal, como é que é essa praia do Meco?
Pai - Oh filho, é uma praia igual às outras. Tem, apenas, uma diferença...
Mais velho - Qual?
Pai - É conhecida por ser uma praia de nudistas.
Mais velho - Como assim?
Pai - As pessoas não usam roupa. Portanto, quando chegarmos, vamos ter que tirar os calções.
Mais velho - Ai não vou, não!
Mais novo - Eu tiro! Eu tiro!
Mais velho - Estás maluco, ou quê?
Mais novo - Tu é que estás. Nem penses que nos vais estragar as férias, por causa das tuas vergonhinhas!
... e eu ando a dizer isto há anos, senhor Queiroz. Só que a mim ninguém me ouve. Eça é que é Eça.
Andei a dormir mal. Não posso alegar desconhecimento. Afinal, o autor tinha avisado: "Quanto menos soubermos, melhor dormimos". Mesmo assim, quis saber. Comecei a ler o livro (e a dormir mal). Resolvi parar. As férias estavam à porta, havia demasiado cansaço acumulado, e, se andava a dormir mal, passei a dormir pior. Mas, não dá para fechar os olhos, indefinidamente. Voltei ao livro de David Satter, com a queda da União Soviética e tudo o que se levantou a seguir. Nada bonito de se ver: o assalto ao Estado, as expropriações, os monopólios, a corrupção, o crime organizado, as oligarquias, o terrorismo de Estado. A utilização das forças de segurança, como arma política. A guerra, como arma política. A guerra, como projeto político. Se não fosse tão credível, o livro de David Satter era, apenas, um retrato grotesco e apocalíptico. Assim, é só inqualificável. Ainda pensei se, depois de uma leitura tão avassaladora, seria boa ideia passar para o livro seguinte: "Na cabeça de Putin", de Michel Eltchaninoff. Hesitei. Depois, fiz como no poema de Cesariny: "fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício". A estreia da editora Zigurate, de Carlos Vaz Marques, também se faz à beira do precipício. Com dois livros, que são "livrinhos" por fora", mas muito densos por dentro.
Os portugueses foram até ao fim do mundo. Ainda vão. E continuam a deixar fins do mundo, atrás de si. No outro dia, estive num fim do mundo. Foi lá, a sul, numa varanda sobre o rio, que conhecemos Judy (chamemos-lhe assim): a serpentear por entre as mesas, a espalhar sorrisos e a sussurrar sotaque. Perguntamos-lhe pela origem do sotaque. Pergunta-nos pela origem do nosso. Respondemos. "Então, somos todos do norte", diz a sorrir, enquanto nos leva até à dona da varanda, "mas ela é da mesma terra que vocês". E, assim, recordamo-nos que o mundo é uma pequena aldeia. Uma aldeia repleta de fins do mundo.
A Sofia chegou esta semana. Acaba de reparar que não trouxe os seus produtos de higiene e limpeza. "Não faz mal", digo eu, "não faltam produtos por aí". "Mas eu gosto muito dos meus", responde, "são naturais". A Sofia preocupa-se muito com o ambiente. De modo que, depois de uma consulta rápida na internet, vai até à localidade mais próxima, comprar os produtos que lhe fazem falta. Como não encontra o que procurava, acaba por ter que ir à localidade seguinte. Regressa, passados 80 quilómetros. Para ela faz sentido: o ambiente merece e agradece. Não vale a pena tecer muitas considerações sobre a opção da Sofia. Até porque - uns mais, outros menos - somos todos sofias.
Queridos pés,
Peço desculpa por interromper, mas acabam de me dizer que está na hora de dar corda aos sapatos.
Obrigado
Miguel
Limpar o congelador. A Sierra Nevada dos pobres.