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Adeus, Hernâni Santos

por Miguel Bastos, em 14.01.23

hernani santos.jpg

- Estou a falar com o Miguel Bastos?
Ainda demorei um ou dois segundos a pensar de quem seria aquela voz da BBC, com um domínio perfeito da língua portuguesa: "Hernâni Santos?!"
- Fala Hernâni Santos, o seu formador...
- Não precisa de dizer quem é - atalhei - essa voz é inconfundível.
- Estou-lhe a ligar, porque estão a precisar de jornalistas para a Antena 1 e eu lembrei-me de si.
Não consegui esconder a minha excitação e lá fui eu a uma espécie de conversa que, afinal, não era uma entrevista de emprego. De modo que, sem emprego, resolvi fazer um conjunto de pequenas coisas: telefonei ao Hernâni Santos, voltei para a minha cidade, arranjei uma casa e um trabalho e casei-me. Poucos meses depois, o senhor jornalista - com voz de BBC e língua de Camões - voltou-me a ligar.
- Miguel Bastos?
- Bom dia, Hernâni Santos! Como está?
- Estou bem, obrigado. Já está a trabalhar?
- Sim, felizmente.
- Então, se calhar, já não tem interesse.
- Diga, diga...
- Sabe, voltaram-me a ligar da Antena 1. Parece que, desta vez, é a sério. Está interessado?
- Estou sempre interessado.
- Posso indicar o seu nome?
- Claro que sim. E obrigado por se lembrar de mim.
- Ora essa! Nunca me esqueço dos meus alunos.
- Ainda bem, mas ao fim deste tempo todo...
Ao fim deste tempo todo, estou na rádio. Continuo a estar. Com uma enorme gratidão a um senhor alto, forte, de postura militar e mau feitio. Mas, também, exemplar, rigoroso, solidário, atento, astuto. Hernâni Santos, um mestre - com voz de BBC e língua de Camões. Obrigado. Muito obrigado!
 
https://www.rtp.pt/noticias/pais/morreu-o-jornalista-hernani-santos_v1460048

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O mundo: dentro e fora

por Miguel Bastos, em 15.01.22
 
 20220115_100534.jpg

 

"(...) os homens não falam entre si. Nas famílias, as palavras estão entregues às mulheres. Os homens gerem silêncios, aqui e ali entrecortados." Apanho a frase, na revista do Expresso. É da semana passada. Já devia, portanto, ter ido para o lixo. Mas não foi. Demora-se sempre mais tempo do que é suposto: na secretária, na prateleira, ao lado da cama. A revista ficou, ali, aberta: pronta para ser lida. Às vezes, não chega a ser. Os jornais dão-nos mais, muito mais, do que conseguimos ler. São um caleidoscópio do mundo, que esperamos ordenar. Mas acabam, eles próprios, espalhados e desordenados: pela casa; pelo mundo.
A frase inicial é de Davide Enia - um escritor italiano, da Sicília, que desconheço e que não sei "se e quando" vou conhecer. Perguntaram-lhe se escrevia sobre os naufrágios de Lampedusa. Respondeu que tinha escrito o livro ("Notas de um naufrágio") para salvar a relação com o seu pai. É, os jornais dão-nos o mundo: por fora e por dentro.

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Expresso

por Miguel Bastos, em 07.01.22

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Ler o jornal devia ser isso mesmo: ler o jornal. Um ato banal, corriqueiro, quotidiano. Será, ainda, um direito e um dever. Mas, hoje, ler o jornal - este, em particular - pode ser, também, um ato de solidariedade e luta. Que não se esgote no dia de hoje.

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Jornais

por Miguel Bastos, em 13.07.21

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- Pai, tens jornais que me arranjes?
- Para quê?
- Para fazer um trabalho.
- Podes usar o Expresso da semana passada.
- Queres ver o que eu estou a fazer?
- Mostra lá.
- E obrigado pelos jornais. Já ninguém lê jornais, pois não?
- Algumas pessoas ainda leem, mas são poucas.
- Isso é um bocado triste, não é?
- É, porque, depois, os filhos não fazem artes plásticas.

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Partilhar

por Miguel Bastos, em 25.06.21

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Sempre incentivei os meus filhos a partilharem: livros, brinquedos, comida. Nunca gostei do "isso é meu", nem do "não mexas nisso, não é teu". Claro que a pandemia veio suspender o espírito de partilha. Ou, vai daí...

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Eu e o Salazar

por Miguel Bastos, em 08.06.20

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O novo livro de José António Saraiva chama-se "Salazar - A Queda de Uma Cadeira que Não Existia". Confesso, estou desiludido: depois de "Eu e os Políticos" e de "Eu e os outros" tinha a expectativa (mais do que legítima!) de que um livro de José António Saraiva sobre Salazar se chamasse "Eu e o Salazar". Não foi, no entanto, a escolha do antigo diretor do Expresso e do Sol. Fica a minha sugestão. Já que se propõe a desmistificar a queda de Salazar de uma cadeira, durante as férias deste no Forte de S. António do Estoril, José António Saraiva poderia chamar ao livro "As minhas férias com Salazar". É um título muito original e mais próximo do universo do autor. 

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Arrumar as botas

por Miguel Bastos, em 30.05.19

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“Estou longe de arrumar as botas”, diz Jerónimo de Sousa, à SIC. Não sei como é que Jerónimo é com sapatos e sapatilhas. Mas, se fosse mais novo, poderia ser meu filho.

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Um arquiteto que é pessoa

por Miguel Bastos, em 28.12.17

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O arquiteto Manuel Aires Mateus foi distinguido com o Prémio Pessoa 2017. A entrevista, deste fim de semana, no Expresso, é uma delícia. Gosto da forma como fala da sua família (o avô, os pais): entre o pragmatismo e o espírito artistico; entre o salazarismo e a extrema-esquerda. Da forma como fala do seu irmão Francisco, que também é arquiteto, mas possuidor de vários talentos. É impossível separar a sua vida, da sua arquitetura ligada à terra: tem muita obra no estrangeiro, mas a sua obra, diz o arquiteto, é sempre "daqui".

 

E a sua vida também é aqui. "O que é que verdadeiramente lhe interessa na vida?", pergunta-lhe o jornalista Valdemar Cruz. "A vida", responde, "Adoro viver". E acrescenta: "Mas sou uma pessoa de uma banalidade extrema. Cresci, estudei, casei aqui, tive os meus filhos aqui." Num país mediano, onde todos querem ser excecionais, há um arquiteto, que é dos melhores do mundo, que diz "Adoro tudo aquilo que as pessoas adoram, mas ao mesmo tempo adoro sentar-me aqui e ficar aqui a pensar".      

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Eu Saraiva

por Miguel Bastos, em 29.09.16

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O ego de “Eu Saraiva” é enorme. Pesa mais do que o Expresso. Muito mais do que o Sol: o jornal, claro. Mas, talvez “Eu Saraiva” não rejeite a comparação com o próprio sol. A última edição do Sol tem “Eu Saraiva” na capa e uma entrevista de 11 páginas a “Eu Saraiva”. Mas, “Eu Saraiva” acha que a entrevista não chega e escreve mais umas centenas de caracteres sobre o livro que tem dado que falar.

 

“Eu Saraiva” queixa-se que os críticos não leram o livro e dos que dizem que nem sequer vão ler o seu livro. Sabendo isso, resolve falar das suas motivações para escrever o livro: “relacionei-me com quase todos os políticos”; “acumulei um património único”. E, de seguida, faz uma crítica, isenta e distanciada, ao seu próprio livro: “Este livro abriu um tempo novo”; “Na literatura há um antes e um depois dele”; “Inaugura um género que ninguém cultivara”; “Vai ficar como um clássico da literatura”. E conclui: “Ainda bem que tive coragem de o escrever”.

 

“Eu Saraiva” faz lembrar os cantores pimba que fazem trocadilhos brejeiros e depois dizem que a culpa é nossa, que temos uma mente perversa. O livro de “Eu Saraiva” tem uma fechadura na capa e um aviso:“O livro proibido”. E fala de sexo, mas só o estritamente necessário. E, apesar de saber, de antemão, que é um clássico, “Eu Saraiva” quer que o livro passe despercebido. Está quase a conseguir.

 

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O riso de Marcelo

por Miguel Bastos, em 21.01.16

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José Miguel Júdice diz, hoje, no i, que "Marcelo teve de controlar a boa disposição". E acrescenta: “Os portugueses gostam pouco disso”. Pois é, somos o país do “muito riso, pouco siso”. Até porque, como dizia o meu pai, “não se brinca com coisas sérias”. Eu, que sempre gostei de brincar com coisas sérias, tentava argumentar que era divertido. Mas, o meu pai não achava graça nenhuma.

 

Os adversários implicam com o riso de Marcelo. Ri muito, porque não é um homem sério; porque diz uma coisa e o seu contrário; porque sempre foi de intrigas e partidas. Tudo para se rir. E Marcelo faz um esforço para se rir menos. Nota-se. Claro que, a chegar perto dos 70 anos, Marcelo já não pode ser o jovem traquinas dos tempos do Expresso ou da candidatura a Lisboa. Mas, é evidente que  teve de controlar a boa disposição”.

 

Portugal ainda tem um Presidente que não ri. Os portugueses, como “gostam pouco disso”, votaram nele. Mas, afinal, não gostaram assim tanto. Por isso, acho que o riso de Marcelo não é nem defeito, nem feitio. É uma alegria.

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