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B de baca

por Miguel Bastos, em 03.03.21

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"O livro de deslembramento" ainda mal começou e já temos o Mogofores:
 
"o Mogofores tinha esse nome esquisito que eu até nunca perguntei quem lhe tinha castigado assim, e tinha uma mulher muito feia, que tinha vindo de Portugal e trocava algumas letras das palavras
na minha escola quando contei ninguém acreditou, mas em vez de vaca ela dizia «baca», e ainda dizia «dibertido» e «sobaco»
mas há uma palavra que ela dizia sempre e eu tinha de fingir que estava a rir de outra coisa: a mulher do Mogofores dizia «iágua» quando queria beber água
todos riam a disfarçar, um bocadinho, menos o Mogofores"
 
O livro, dizia eu, ainda mal começou e as personagens já nos parecem familiares. (E, sim, tenho familiares em Mogofores. E, não, não é o José Cid). Mas, o mais familiar de todos é, mesmo, o autor: Ondjaki é da casa. Por isso, estranho o selo da Caminho: "autores estrangeiros de língua portuguesa". Como assim, "estrangeiros"?

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No estrangeiro

por Miguel Bastos, em 08.01.18

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O estrangeiro, dizia alguém, é o país onde todos gostariam de viver. "No estrangeiro", dizem uns, "paga-se menos impostos". Talvez, se esse país for os Estados Unidos. "No estrangeiro", dizem outros, "temos melhores hospitais". Talvez, na Suécia. "No estrangeiro", acrescentam outros ainda, "as mães podem ficar com as crianças, em casa, até aos três anos". É verdade, na Alemanha. É verdade, e pode ser bom. Para quem gosta. A ex-ministra Constança Urbano de Sousa, descobriu, por experiência própria, que na Alemanha não havia creches. E não gostou. Está na entrevista da Notícias Magazine, deste fim de semana.

 

Na Alemanha (esse país estrangeiro e avançado!), a maioria das mulheres casadas deixa de trabalhar quando engravida. Como em Portugal, nos anos 40. O reverso de estar em casa com filhos, nos primeiros 3 anos, é não ter creches, nem carreira profissional. Nos Estados Unidos, os impostos são baixos, mas a qualidade da saúde pública também. E se a Suécia tem saúde, na hora de pagar impostos os suecos têm todas as razões para ficarem doentes.

 

Essa é a vantagem do estrangeiro. Podemos escolher o estrangeiro que quisermos, de acordo com as conveniências de cada momento. Só há um problema: o estrangeiro não existe. Mas, é melhor.

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