Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Portugal viveu, ontem, um Estado de Exceção sem nome. Não foi o Estado de Emergência (que bem conhecemos e para onde - julgava eu - não queríamos voltar), nem o Estado de Sítio (que só é declarado em casos extremos - por exemplo, num cenário de guerra). Não há nada, mesmo nada, que justifique a Exceção. Milhares de pessoas resolveram desligar o bom senso, por um dia, para fazerem uma festa de massas, em tempo de pandemia. Andamos a contar, a dedo, as pessoas que podem estar num evento de família, numa instituição de saúde, numa padaria, numa cerimónia religiosa ou política, e depois permitimos - permitimo-nos - a concentração de milhares de pessoas, num Estado de Exceção ao avesso, em que tudo se pode fazer. Depois, voltamos a ligar o interruptor para criticar opções políticas, planos de vacinação, capacidade hospitalar, cercas sanitárias. Não é admissível, nem é desculpável.
Estado de Calamidade
O fim do Estado de Emergência é quase certo. Estejamos prontos a celebrar, com alegria, a chegada da calamidade.
Ai, este menino, está tão grande! Um ano, hem? Quem diria! Parece que foi ontem que chegou, o grande maroto, que nunca mais tivemos sossego! E pôs-nos em casa, e pôs-nos de máscara, sempre ao telefone e no computador... não é, meu malandro? Tão redondinho, sai ao pai. Olhem, só, para estas bochechinhas! E em Estado de Alerta e de Emergência, raça do cachopo. Só de emergência vão 12, já viram? Depois do 12.º, vai para a Universidade, o espertalhão! Espero que sim, e que não volte para casa. Calão...
"Inoculação". Já se estão a afeiçoar à palavra? Eu reconheço que "pica" é uma designação muito infantil. Mas, "injeção" não serve? "Vacina" não é suficiente? Eu não sei como é que é convosco, mas, pessoalmente, a palavra "inoculação" tira-me a pica toda.
Versalhes. Acho ridículo terem posto o nome de uma pastelaria a uma cidadezinha nos arredores de Paris. Enfim, só mesmo os franceses. Ah, já agora, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a recandidatura a Belém.
Esta manhã, fui ao estendal buscar uma máscara. Como muita gente passou o confinamento à lareira, cheirava a fumeiro. Acho que vou passar o dia a pensar em chouriça com grelos. Pensem nisto, senhores empreendedores: podem vender máscaras com aroma a enchidos. São saborosas e não fazem mal ao colesterol. Podem, até, vender aos pares. A outra deverá ter aroma a vinho tinto. Não precisam de agradecer.
O primeiro-ministro ficou muito surpreendido, porque os portugueses estavam mais preocupados em explorar as exceções do que em cumprir as regras. Já tinha acontecido isso, há uns anos. E, nessa altura, os romanos também ficaram surpreendidos. [Foto: Tiago Petinga/Lusa]
António Costa fala à meia noite, Joe Biden à uma da manhã. Os discursos políticos são a nova Febre de Sábado à Noite. O divertimento possível, em tempos de pandemia.