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A Susana andava louca pela Madonna. Elogiava-lhe o estilo, a dança, o ritmo, as melodias, as letras. "As letras, Susana?!", perguntei-lhe. "Sim", respondeu-me, "ela tem letras espetaculares". Eu tentava a minha melhor imitação do "Like a virgin" e desdenhava da Madonna a imitar a Marilyn Monroe no "Material girl". "Já ouviste o novo disco?", perguntou-me. "Ainda não, mas também não tenho pressa". E ela: "Tens que ouvir o 'Papa don't preache'". "Ai, sim?". "Sim, fala de uma miúda que engravidou e quer ficar com o bebé. É uma mensagem muito importante para as raparigas". "Certo", concedo. Nem todas as raparigas são como a Susana: forte, decidida, senhora do seu nariz. Senhora do seu corpo todo. "Sabes, Susana, podias ouvir outro tipo de raparigas: a Siouxsie (Susan / Susie) Sioux, por exemplo. Para além de ter o teu nome, é muito mais parecida contigo". E era: o cabelo preto, a postura, a garra, a atitude. "Eu não gosto muito dessas coisas: gótico, punk e não-sei-quê". A pouco e pouco, a Susana foi desaparecendo. Não a voltei a ver. Contaram-me que o pai a encontrou, à noite, no quarto, com um bebé sobre a barriga.
- Pai, não vai perguntar como é que correram a aulas?
- Vou. Como é que correram?
- Correram bem, sobretudo a aula de xadrez.
- Que bom! - Não queres saber porquê?
- Claro que sim. Porquê
- Porque o professor faltou.
- Ahhh...
- Ai, credo, eu sou tão engraçado!
"Pago já", dizia o cartaz, "ou é melhor pedir um orçamento?" Todos se riram, menos eu. Não percebi a piada. Explicou-me um dos candidatos da lista C: o atendimento, no bar do liceu, estava cada vez pior; os preços estavam sempre a mudar; o pré-pagamento obrigatório era uma descriminação. Daí a piada: "percebeste"? "Mais ou menos", respondo. Faltava-me perceber a palavra "orçamento". "Acho que é a fatura", dizia o Zé. "Não, acho que é a senha", dizia o João. "Não é a mesma coisa?" "Não, porque a fatura pagas depois". "E a senha?", insistia o Zé. "A senha pagas antes". "E o orçamento?", perguntei. "Então, o orçamento..." Continuava sem perceber o significado, mas já dava para ver que não era o único. "A ideia", insistia a consciência política do grupo, "é gozar com a burocracia do bar, percebeste?" "Acho que sim", disfarcei. Agora, tinha mais uma palavra para descobrir no dicionário: "burocracia". Agora, que é como quem diz. Agora, estava demasiado entretido com um pastel de carne, ainda quente, acabado de sair do forno. Continuava sem saber o que era o orçamento. Mas percebi, logo, que era algo que não se devia decidir a quente.
O governo quer acabar com os exames e as provas em papel. Uma boa medida para estimular a utilização das ferramentas digitais. Já não era sem tempo. Com tantos telefones, tablets e computadores, os miúdos passam o tempo agarrados a livros e cadernos! Se eu os apanhar, um dia destes, a escrever poemas num caderninho, ou a ler um romance numa paragem de autocarro, vou-lhes dizer das boas: "Olha lá, meu menino, é assim que tu achas que vais passar nos exames, é?!"
Filho - Sabes, pai, hoje um menino pôs-se debaixo da mesa e começou a chamar "Ó professora, professora, está-me a ver?" E a professora: "Não". E ele: "Oh, devo estar com problemas na câmara!"
Pai - A sério?
Filho - Sim. E, depois, uma menina começou a fazer sinais e a professora perguntou-lhe "O que é?" e ela começou a apontar para a folha. Sabes o que é que ela tinha escrito?
Pai - Não.
Filho - Dizia "Professora, fiquei sem microfone".
Com humor, as crianças estão a aprender a lidar com as novas tecnologias. Chamam-se aulas presenciais.
Gosto pouco de ficção científica. Porém, dei por mim a imaginar uma coisa que se enquadra no género. Num futuro distante, as crianças deixam de ir à escola para terem aulas, à distância, através de uns dispositivos sem fios que lhes permitem ter aulas de matemática ou geografia, enquanto vagueiam pela casa. Fica o aviso, George Lucas, se quiser fazer um filme sobre isto, vai ter que me pagar os direitos.