Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A pandemia está, permanentemente, a trocar-nos as voltas. Desde que regressei, fisicamente, à redação da rádio, tenho passado por vários programas e horários. Desde aquele em que saio "fora da caixa", às sete da manhã; até àquele em que saio "da minha zona de conforto" às 3 e meia da manhã, para termos notícias "no ar" às sete. Tenho assumido tantos desafios, que até já pensei em apresentar-me como "empreendedor".
Dia do Empreendedor. Um dia para valorizar o trabalho. Vejamos um caso concreto: trabalha muito, o Lionel - mas é Richie.
Tive um gato que adorava caçar moscas. Um dia viu uma, bem jeitosa, junto à janela. Não resistiu, apanhou balanço e lançou-se, entusiasmado. Só parou no rés-do-chão, depois de um voo, em queda livre, que durou seis andares. Mas esta é uma história com um final feliz. O meu gato viveu mais seis vidas, durante quase 20 anos. Moral da história: devemos ser como o meu gato? Não. Devemos ter cuidado com as janelas de oportunidade que nos abrem. Porque só temos uma vida, ao contrário do meu gato.
Sentado no lobby de um hotel de cinco estrelas, portátil no colo, fato e gravata - o jornalista foi surpreendido pela minha presença. Um problema de comunicação, entre profissionais de comunicação. Tentou disfarçar o incómodo e mostrar disponibilidade. À primeira pergunta responde-me que não entende a pergunta. À segunda pergunta responde com uma pergunta: “Só vai fazer perguntas gerais ou vai ser mais específico?”. Tento explicar-lhe que não trabalho para uma publicação especializada, mas para um público generalista. Propõe-me, então, falar sobre o tema da sua intervenção numa conferência.
“Bla, bla bla, o mercado global”; “bla, bla, bla o mercado competitivo”; “bla bla bla, inovar ou morrer”… Este homem fala como um homem de negócio, mas não é; fala como um empreendedor, mas não é; fala como um cientista, mas não é; fala como um político, mas não é. O homem, diz de si mesmo, que é jornalista, mas não consegue falar com outro jornalista.
O homem dorme em hotéis 5 estrelas; viaja em business class, come em restaurantes Michelin. Este homem é o jornalismo 5 estrelas: moderno, elegante, sofisticado, cosmopolita, globalizado. Resta saber se é jornalismo.
Eu sou um jovem muito cosmopolita e muito à frente. Só falo do futuro. E o futuro chama-se Web Summit. A Web Summit é uma Summit, onde cada CEO faz um pitch da sua startup. De acordo com o secretário de Estado da Indústria, as startups são empresas rockstars, que são financiadas por business angels, ou pelo programa Co-Invest with the Best, lançado por Tony Back, AKA António Costa.
Tony (ler com pronúncia americana, please!) também falou da Ventures Summit, uma summit, paralela à Web Summit, que, por sua vez, foi precedida pela Surf Summit. Tony é cool. Hard Barroso não é. Foi vaiado. Para mim, só foi vaiado porque apresentaram-no como, Durão Barroso, antigo presidente da Comissão Europeia. Se dissessem que ele era chairman da Goldman Sachs, que financia startups, ninguém se atreveria. O povo sacava do smartphone para tirar uma selfie, e ter likes no Facebook, enquanto se discutia o fim do roaming. O mais cool, veio a seguir: apanhou-se um Uber, para fazer networking, nos pub crawls. Só estranhei que se falasse tanto em empreendedorismo. Não se arranja uma palavra melhor? Tipo... entrepreneur.