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O coelho, o lobo mau e os pássaros do sul. A campanha está na rua. E está na rádio. "É o bicho!", dizem, "É o bicho!" Para devorar, aqui.
- Olha, um peru!
- Como é que lhe chamaste?
- Peru. Em português, este animal tem o nome do teu país.
- Não acredito!
- Acredita, que é verdade.
O Peru volta a estar em crise. Estou chateado que nem um peru.
A Consuelo não vai perceber a expressão, mas, talvez, acredite.
"Não falo espanhol nem portunhol". Foi desta forma que o candidato Jair Bolsonaro resolveu responder à pergunta do jornalista Pedro Sá Guerra. O Pedro falou-lhe em português - a língua oficial do Brasil - o candidato fingiu não perceber a sua própria língua. Quis-se mostrar arrogante, mas acabou por se mostrar analfabeto. "Quem diz é que é" - uma das frases mais sábias que guardo da infância - pode ser aplicada aqui.
A reportagem pode ser vista aqui:
Antonietta (Sophia Loren) acorda numa casa cheia de filhos. É dona de casa, diríamos nós. Um nome que se dá (ironicamente) a quem não é dono de nada: nem si próprio. Para ela, vai ser mais um dia como os outros. Para a família, que prepara com zelo, será "Um Dia Inesquecível". O dia em que Mussolini irá receber Adolf Hitler, com pompa e circunstância. O filme de Ettore Scola, não vai mostrar, no entanto, a Roma imperial em festa. Adivinham-se paradas militares, banhos de multidão, encontros palacianos. Mas, da festa, chega apenas o som, emitido pelos altifalantes. O som rodeia os únicos personagens que ficam em casa, num prédio, agora vazio: Antonietta e Gabrielle (Marcello Mastroianni). O som vai-se desvanecendo, à medida que os personagens vão mergulhando, um no outro e dentro de si próprios. No final do dia, "inesquecível", Antonietta irá voltar à algazarra que lhe esvazia a vida; Gabrielle irá partir, escoltado pela polícia, para o que, na melhor das hipóteses, será um exílio. Está visto, a história (não vou contar detalhes) não acaba bem. A Itália (sabemos, da história) não acabou bem. A Itália acorda, hoje, com saudades não sei de quê.
Estou a ver o noticiário, na televisão. Em rodapé, anuncia-se o novo filme de António Pedro Vasconcelos, sobre o tema do divórcio. Olho para ecrã. Sóbrio e elegante, um casal de meia idade senta-se, frente a frente. Discutem os problemas que os apoquentam. Separam-nos umas mesinhas, pequenas, e um mundo, imenso: as contas do gás, da eletricidade, a economia doméstica, e a russa que se meteu entre eles. "Eu sou uma mulher livre", diz ela. "Pronto, está consumada a separação", penso em voz alta. Mas, subitamente, pinta um clima. Sim, um clima. "Quem lá ver...", penso, de novo, em voz alta. "Você é uma climo-cética!", atira ele. "E você é um climo-hipócrita", responde ela. O ambiente não está nada bom. Desligo o televisor.
A "questão dos chamados 'votos desperdiçados'", escreve Ribeiro e Castro, hoje no DN, "Não é uma questão nova". O nome histórico do CDS explica porque é que há sempre votos que não são convertidos em mandatos. Pedagogicamente, aborda as vantagens e desvantagens dos sistemas maioritários e dos sistemas proporcionais. No primeiro caso, quem ganha, ganha tudo - mesmo que seja por 1% - o quer dizer que pode haver 49% (ou 56% ou 75%) de "votos desperdiçados". No segundo, a questão, sendo atenuada, não desaparece. Isso deve-se a dois fatores: a matemática ("inexorável", escreve o autor) e a democracia ("onde há uns que ganham; e outros que perdem"). Para além da representatividade, Ribeiro e Castro está preocupado com a governabilidade, que seria posta em causa com uma excessiva dispersão dos votos: "Nesse caso, não seriam só os votos que iriam 'para o lixo', mas talvez toda a democracia".
Portanto, se bem percebi: são insondáveis os caminhos deste senhor.