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George Friedman faz-me lembrar Durão Barroso. A dada altura, Durão disse que iria ser primeiro-ministro - só não sabia quando. Friedman disse que iria haver guerra na Europa - só não sabia onde. Mas deu várias hipóteses. Chamou-lhes "Focos de Tensão". Um dos focos identificados foi "A Rússia e as suas fronteiras", com o autor a descrever uma Ucrânia composta por uma população dividida entre as influências russa e ocidental. Afirma o autor: "Divisões como esta tornam a Ucrânia um terreno fértil para manipulações por parte de quem estiver interessado nela. Os russos estão cientes desta vulnerabilidade porque há muito que eles próprios têm vindo a manipular a Ucrânia. Por isso, os russos interpretarão qualquer envolvimento exterior como manipulação e ameaça potencial aos interesses fundamentais naquele país." Friedman parece que é bruxo. Mas, garantem-me que não é.
Fim-de-semana. TPC. Revisão da matéria dada.
15% dos professores nunca deviam ter entrado no sistema de ensino. 25% são excepcionais. 60% são bons/razoáveis. Quem fala assim não é Gago. Esse já faleceu. Quem fala assim é Justino. O ex-ministro da educação - nos duros tempos de Durão - diz, ainda, que é preciso tratar melhor os professores. Pois...
Eu sou um jovem muito cosmopolita e muito à frente. Só falo do futuro. E o futuro chama-se Web Summit. A Web Summit é uma Summit, onde cada CEO faz um pitch da sua startup. De acordo com o secretário de Estado da Indústria, as startups são empresas rockstars, que são financiadas por business angels, ou pelo programa Co-Invest with the Best, lançado por Tony Back, AKA António Costa.
Tony (ler com pronúncia americana, please!) também falou da Ventures Summit, uma summit, paralela à Web Summit, que, por sua vez, foi precedida pela Surf Summit. Tony é cool. Hard Barroso não é. Foi vaiado. Para mim, só foi vaiado porque apresentaram-no como, Durão Barroso, antigo presidente da Comissão Europeia. Se dissessem que ele era chairman da Goldman Sachs, que financia startups, ninguém se atreveria. O povo sacava do smartphone para tirar uma selfie, e ter likes no Facebook, enquanto se discutia o fim do roaming. O mais cool, veio a seguir: apanhou-se um Uber, para fazer networking, nos pub crawls. Só estranhei que se falasse tanto em empreendedorismo. Não se arranja uma palavra melhor? Tipo... entrepreneur.
Já temos, finalmente, uma explicação para o caso Barroso. O antigo presidente da Comissão Europeia perdeu o direito à passadeira vermelha. Paulo Rangel tem a explicação: a Comissão Europeia está a tentar prejudicar a candidatura de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas. Rangel (que foi braço direito de Rui Rio, candidato à liderança do PSD e é eurodeputado e vice-presidente do PPE) não encontra outra explicação para a forma como Durão Barroso está a ser tratado. É verdade, eles não querem saber de Durão Barroso. Nem querem saber da Goldman Sachs. Eles querem é prejudicar Guterres. Eles querem é prejudicar Portugal.
Eu iria mais longe. Depois de terem dado o Mundial 2018 à Rússia, em vez de Portugal, eles não querem a selecção portuguesa no Mundial. E eles sabem que nós somos favoritos. E ninguém me tira da cabeça que esta história foi tornada pública na véspera do Benfica - Besiktas (reparem no empate). Parece que gostam mais dos Turcos e de Erdogan, do que de nós e o nosso Guterres. E esta semana há Real Madrid - Sporting e Porto - Copenhaga. Estão a ver a ligação? Querem-nos atirar para fora da Europa e do mundo, é o que é. Durão é só um pretexto. E o mais incrível, é que Rangel é o único a ver isso.
“Durão Barroso deixa de ter tratamento VIP”. “Durão Barroso perde o direito a Passadeira Vermelha”. Os títulos poderiam ser sexy, mas são só hilariantes. Tratar o antigo presidente da Comissão Europeia como uma estrela de Hollywood (ou como uma estrela de reality shows) é ridículo. Diz muito da situação em que Durão Barroso se colocou , mas também diz muito do quadro de análise dos media.
O que se passa é que, ao deixar a Comissão Europeia, Durão Barroso optou por ir trabalhar para o banco de investimento Goldman Sachs. E o actual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, diz que, por isso, Durão Barroso vai ser tratado enquanto funcionário da empresa e não como ex-presidente. Parece razoável. E óbvio. Devia ter sido óbvio, para Durão Barroso, que a sua entrada para Goldman Sachs iria levantar muitas questões: sobre as instituições europeias; sobre as relações entre a política e o poder económico; sobre incompatibilidades e conflitos de interesses; e sobre o seu papel, no meio de tudo isto. A forma como é recebido é uma questão lateral.
E reduzir a situação a uma questão de “passadeira vermelha” é deixar a política nas mãos da imprensa cor de rosa.
Olho para a capa da Visão. Vejo Guterres: de olhar vivo e sorriso rasgado e de bigode. Foi o bigode que deixou crescer, para homenagear Salvador Allende. O (excelente) artigo da revista dá-nos uma boa ideia de quem tem sido Guterres e porque é que ele está na posição de se tornar no senhor ONU. Ao longo dos anos, o antigo primeiro-ministro (à semelhança da generalidade da classe política) foi alvo da ironia e do desdém dos intelectuais que se passeiam nos media portugueses. Não é a crítica que me incomoda, é o snobismo aristocrático.
Portugal, país pequeno e periférico, tem conseguido gerar políticos de elevada projeção internacional: Freitas do Amaral, Mário Soares, Durão Barroso, António Guterres. E, no entanto, a "aristocracia" que vagueia entre os media e a academia, persiste em falar da falta de qualidade dos nossos políticos. Claro que o desempenho de Durão Barroso na Europa e a sua entrada para o Goldeman Sachs não ajudam a defender a classe política. Ou o caso Sócrates. E há muito mais exemplos. Mas, também, há Guterres.
Vasco Pulido Valente chamou-lhe picareta falante. Quando Vasco fala, os media portugueses ouvem. Mas é Vasco que fala demais e, apenas, para uma pequena paróquia de acólitos. Guterres segue o seu caminho, indiferente. Guterres dá-lhes um bigode.