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Esta manhã, acordei com as palavras de Donald Trump: "este é o momento do nosso país se unir, sejam republicanos ou democratas". "Muito bem", pensei. Mas, logo a seguir, Trump classificou Joe Biden (democrata) como "o pior presidente de sempre" e retomou o habitual discurso anti-imigração: "o nosso país está a ser invadido por terroristas que vêm de prisões, de países que ninguém conhece".
Os líderes populistas têm esta capacidade, rara, de unir as pessoas.
Mesmo quando vêm de países que ninguém conhece. Os Trump vêm do Reino da Baviera (depois integrado no Império Alemão, atual Alemanha ou, por extenso, República Federal da Alemanha).
Mesmo quando casam com mulheres de países que ninguém conhece. A primeira mulher, Ivana Zelníčková, veio da Morávia (antiga Checoslováquia, depois República Checa, atual Chéquia). A terceira mulher, Melania Knauss, veio da Eslovénia (antiga Federação Jugoslávia, que juntava a Eslovénia com a Croácia, a Bósnia-Herzegovina, a Macedónia do Norte, a Sérvia e o Montenegro).
Ainda aí estão? É que isto dos "países que ninguém conhece" dá uma trabalheira!
Mesmo quando, eles próprios, lidam com acusações criminais, na justiça... americana.
"I will get Britain working again / Eu vou pôr o Reino Unido a funcionar, de novo", diz Liz Truss. Numa primeira impressão, soa-me a uma mistura de "Labour isn't working", um slogan de Margaret Thatcher, com "Make America great again", de Donald Trump. Um bom começo, portanto.
"A 'maskirovka' (dissimulação) é uma técnica desenvolvida pelo exército russo que pode resumir-se em três palavras: engano, negação e desinformação." A invasão da Ucrânia, em 2014, e a técnica utilizada (com um grupo não identificado, formado por veteranos soviéticos, agentes russos, ucranianos pró-russos e mercenários) surpreenderam os líderes dos Estados Unidos e de vários países europeus. Angela Merkel não foi surpreendida, escreve Kati Marton, na biografia "A chanceler", que dedica um capítulo à guerra na Ucrânia. Educada (como Vladimir Putin) na fé soviética, Merkel não tinha ilusões: sabia que Putin era um antidemocrata e que estava empenhado em minar as democracias e alargar a sua influência. A Ucrânia fazia parte do plano.
A eternização de Putin no poder, foi um dos motivos pelo qual Merkel se candidatou a mais um mandato. Mas não foi o único. O nacionalismo continuava a crescer: não só na Rússia, mas também na China, no Reino Unido, na Polónia, na Hungria, na Turquia e, até, na própria Alemanha. Mais, nos Estados Unidos também - com a chegada de Donald Trump. Enquanto Putin mantinha uma guerra em lume brando, na Ucrânia, os Estados Unidos escolheram um presidente incendiário. "Sabe, a Alemanha não fez quase nada por vocês", disse Trump no primeiro encontro com Volodomyr Zelensky. Também não foi surpreendente. Trump é especialista no insulto, na fanfarronice e, sobretudo, na ignorância. No final do primeiro encontro, com Trump, na Casa Branca (em que o novo presidente americano defendeu que "A UE é pior do que a China, só que mais pequena"), Angela Merkel afirmou, aos jornalistas: "A próxima década nos dirá se aprendemos com o passado". Fez uma pausa e acrescentou: "Ou não". Já antevíamos a resposta. Agora temos a certeza. Infelizmente, é "Ou não".
Vejam lá, como ela é moderna! Que nem precisa "de ver a RTP, a SIC, porque, com o Twitter, ficamos a par do que se está a passar, e com mais rigor do que quando é filtrado por alguém". Portanto, Zita Seabra só lê coisas à roda dos 140 carateres, mas gosta do expor o ego ao Sol, em 6 longas páginas. Um ego fresco e jovem, que anuncia a morte do PCP, do PSD e do CDS. E que exaspera com um Portugal envelhecido, que parece um museu. Zita sabe do que fala, porque ela também já foi muito velha. Lembro-me dela, em comícios e debates, com o seu ar de professora de liceu, de saquinho de cabedal a tiracolo, a apontar o dedo a jovens reformistas, como Mário Soares e Cavaco Silva. Mas, entretanto, Cavaco deu-lhe a mão e Zita aproveitou para fazer um "reset". E, depois, um "restyling" completo, com muito liberalismo e Vox e Chega e Salvini e os tweets de Donald Trump. Que bonita, a mocidade Zita!
Pence, logo existe.
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/pence-recusa-invocar-25a-emenda-para-destituir-trump_n1289016
"O populismo faz parte da democracia?", perguntou o jornalista António Jorge, esta manhã, na Antena 1. "Faz", respondeu António Costa Pinto, "A maioria das democracias não são derrubadas por golpes de estado e revoluções. São derrubadas a partir de dentro". E deu os exemplos recentes dos regimes autoritários e populistas da Polónia, da Hungria e da Turquia. O historiador e politólogo não teve dúvidas: a invasão do Capitólio não foi uma ação folclórica de um grupo de radicais de extrema-direita, foi organizada a partir da presidência. E isso, justificará a falta de reação das forças de segurança. Afinal, Trump ainda é presidente e, como tal, responsável máximo das forças armadas. Trump, como todos os líderes populistas, gosta de lei e ordem: mas só quando lhe convém. Já agora, uma coincidência trágico-cómica: a invasão do Capitólio decorreu no mesmo dia em que Marcelo Rebelo de Sousa e André Ventura debatiam as diferenças entre a direita social e a direita securitária.
Com a derrota nas eleições, toda a gente fala mal dos trompistas. Não concordo. São gente boa. Merecem ser ouvidos.
António Costa fala à meia noite, Joe Biden à uma da manhã. Os discursos políticos são a nova Febre de Sábado à Noite. O divertimento possível, em tempos de pandemia.
Esta noite, fui para a cama banhado em lágrimas. Ouvi Donald Trump, a queixar-se, com razão, do grande capital. Esses milionários que não apoiam gente pobre, como ele, que qualquer dia não tem dinheiro para pagar as despesas - água, luz, gás - da sua pequena torre em Manhattan.
Quem diria que iríamos ter o Autoproclamado Estado Americanico? Custa a dizer, eu sei. Mas, se tiver de ser, a gente habitua-se.