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"Por uma arrepiante coincidência", sublinha Isabel Allende, "os aviões sequestrados nos Estados Unidos despedaçaram-se contra os seus objectivos numa terça-feira, 11 de Setembro, exatamente o mesmo dia da semana e do mês - e quase à mesma hora da manhã - em que ocorreu o golpe militar do Chile, em 1973. Este último foi um acto terrorista orquestrado pela CIA contra uma democracia. As imagens dos edifícios a arder, do fumo, as chamas e o pânico, são semelhantes em ambos os cenários."
O 25 de Abril é "nosso", foi um dos argumentos utilizados para questionar ou, mesmo, repudiar a presença do presidente do Brasil, em Portugal. É "nosso", sim. Mas, será só nosso? Dei por mim a reler partes deste livro do historiador britânico Kenneth Maxwell (especialista em Portugal, Espanha e Brasil). O livro aborda "A construção da democracia em Portugal", centrando a sua análise no período entre 1974 e meados da década de 1980 - com a entrada na CEE, a eleição presidencial de Mário Soares e as maiorias absolutas de Cavaco Silva. Mas contextualiza este período, de pouco mais de 20 anos, com a história de Portugal: desde a sua fundação, até ao período do Estado Novo. O livro do historiador termina com Ciência Política, evocando a "terceira vaga de democratização", de Samuel Huntington. De acordo com esta teoria, o 25 de Abril foi o precursor da transição democrática nos países da América Latina e da Europa de Leste, na transição dos anos 80 para os anos 90. Fomos, portanto, uma inspiração para o mundo. Mas, pelos vistos, há quem prefira que sejamos os maiores da nossa aldeia.
Quando um livro é adaptado para um filme, no cinema, ou para uma série, na televisão, é costume ouvir-se dizer que se gostou mais do livro. Neste caso, antes de ser livro, este conjunto de entrevistas, da Anabela Mota Ribeiro, foi um programa na RTP. Tenho as entrevistas gravadas, mas, confesso, não as vi. Muitas vezes, chego mais depressa aos livros do que aos ecrãs. Foi, uma vez mais, o caso. Os "Filhos da Madrugada" são 25 entrevistas com 25 pessoas nascidas depois da "manhã clara", procurada por José Afonso, e confirmada no "O dia inicial inteiro e limpo", descrito por Sophia de Mello Breyner Andresen. São homens e mulheres, de esquerda e de direita, e de idades, origens, profissões e convicções muito diversas. É possível, no entanto, identificar um chão comum, neste caleidoscópio que concretiza e enriquece a história e as conquistas de Abril: o da liberdade e da democracia. A adaptação para livro é maravilhosa. Qualquer dia, vejo a série original. Depois comparo.
Depois do discurso sobre a "democracia amordaçada" e o "cinquentenário da Revolução de Abril", resolvi regressar às páginas deste livro de Cavaco Silva. É, sem dúvida, o seu livro mais interessante.
"O populismo faz parte da democracia?", perguntou o jornalista António Jorge, esta manhã, na Antena 1. "Faz", respondeu António Costa Pinto, "A maioria das democracias não são derrubadas por golpes de estado e revoluções. São derrubadas a partir de dentro". E deu os exemplos recentes dos regimes autoritários e populistas da Polónia, da Hungria e da Turquia. O historiador e politólogo não teve dúvidas: a invasão do Capitólio não foi uma ação folclórica de um grupo de radicais de extrema-direita, foi organizada a partir da presidência. E isso, justificará a falta de reação das forças de segurança. Afinal, Trump ainda é presidente e, como tal, responsável máximo das forças armadas. Trump, como todos os líderes populistas, gosta de lei e ordem: mas só quando lhe convém. Já agora, uma coincidência trágico-cómica: a invasão do Capitólio decorreu no mesmo dia em que Marcelo Rebelo de Sousa e André Ventura debatiam as diferenças entre a direita social e a direita securitária.
O novo livro de José António Saraiva chama-se "Salazar - A Queda de Uma Cadeira que Não Existia". Confesso, estou desiludido: depois de "Eu e os Políticos" e de "Eu e os outros" tinha a expectativa (mais do que legítima!) de que um livro de José António Saraiva sobre Salazar se chamasse "Eu e o Salazar". Não foi, no entanto, a escolha do antigo diretor do Expresso e do Sol. Fica a minha sugestão. Já que se propõe a desmistificar a queda de Salazar de uma cadeira, durante as férias deste no Forte de S. António do Estoril, José António Saraiva poderia chamar ao livro "As minhas férias com Salazar". É um título muito original e mais próximo do universo do autor.
"Pensem como demorou tempo e foi custoso pôr de pé uma democracia e como é fácil destruí-la", disse o Presidente da República de Portugal, no dia da tomada de posse do Presidente do Brasil.
Oscar Niemeyer desenhou Brasília, para a democracia. Mas a cidade foi colonizada pela ditadura. E Oscar recusou, sempre, qualquer forma de ditadura. Até, a do ângulo reto. Niemeyer morreu há 6 anos. A sua obra ainda está aí: para as curvas.
É um país da América Latina. Ora dominado pelo capital dos estrangeiros, que se instalam no país para trabalhar e enriquecer. Ora dominado pelos movimentos de libertação nacional, que se revoltam contra a miséria do povo e tomam o poder. Uns contra os outros, uns atrás dos outros. Nem uns, nem outros, hesitam em recorrer à violência, para impor o seu domínio numa sucessão de ditaduras. Nem uns, nem outros, hesitam em agitar a defesa do bem comum, em benefício próprio.
Joseph Conrad, um polaco que se aventurou nos mares para descobrir o mundo inteiro, transformou-se num escritor britânico lido no mundo inteiro. Escritor brilhante, observador atento, pessimista e provocador. Em “Nostromo”, Conrad inventou um país chamado Costaguana. Mas é evidente que este país é baseado numa história verídica. Uma história que se repete: no mesmo país, noutros países semelhantes. Uma história que se repete, até aos dias de hoje. Como prova o dia de hoje.