Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Como a maioria dos jovens da sua geração, José Mário Branco não gostava de fado. Era uma questão de idade mas, também, de orientação ideológica. O fado era visto como coisa antiga, bolorenta, salazarenta. Mais tarde, (ó ironia!) José Mário tornou-se um dos nomes mais importantes do fado: primeiro, com Carlos do Carmo; depois, com Camané. Escreveu letras, melodias e arranjos, produziu discos. Camané lembra que produziu todos os seus discos e só deixou de produzir porque a morte (velhaca, como sempre) o levou. Esta homenagem é (obviamente) mais do que merecida. Mas é (sobretudo) muito bonita. Obrigado, a ambos.
Passaram mais de 15 anos, desde o último disco, e quase 35, desde "Desintegration" - o último disco relevante dos The Cure. Depois de várias aventuras sonoras (umas mais bem sucedidas do que outras), o álbum "Desintegration" foi encarado, na altura, como um regresso à sonoridade de Faith (1981) e Pornography (1982) - com músicos mais competentes, em termos técnicos, e arranjos mais sofisticados. Por sua vez, o novo disco dos The Cure ("Songs of a Lost World ") tem sido comparado a "Desintegration". Desta vez, porém, a maior diferença está no quase alheamento da estrutura tradicional da canção pop. Neste disco, não há canções que se aproximem de "Lullaby", "Pictures Of You" ou "Lovesong". Em compensação, os temas são muito bem cuidados, em termos instrumentais, podem estender-se para lá dos 10 minutos e parecem condensar o melhor dos The Cure, ao longo dos anos, e dos grupos ao seu redor. As letras sobre perda e abandono remetem para os Joy Division; a tensão e raiva, para Siouxie and The Banshees; a sonoridade melancólica para os Cocteau Twins ou Durutti Column. "This is the end", canta Robert Smith no início do disco - que termina com "It's all gone" (...) "Left alone with nothing". Sim, “tudo isto é triste", "tudo isto existe" e, até, parece fado. Bem bonito, este "Songs of a Lost World".
Vá lá, meninos, ponham-se aí… um chorozinho para a fotografia. Já está, obrigado.
"As delícias do mar levam caranguejo?!", perguntei intrigado. Devolveram-me um "Sim", irónico, e uma contra pergunta: "Porquê, achavas que eram feitas com lavagante?". "Não", confessei, "achava que eram 100% artificiais". Pensei nesta conversa, porque o João Gobern tem um novo livro, sobre a indústria musical. O João traça - com rigor, mas, também, com uma certa mágoa - o retrato da decadência desta indústria, marcada pela perda de importância do disco - uma consequência do "download" e do "streaming". No entanto, acabei o livro (em dia de reflexão nacional) com algum otimismo: "Com que então, ainda há indústria... ". Nada mau. Ah, e o livro é (naturalmente) uma delícia.
"Esse disco está a 33 rotações! É de propósito?", perguntei. "É", respondeu-me o Zé Rui. E depois, com um ar professoral, explicou-me "os LP rodam a 33 rotações. Os singles e os maxis é que são a 45". "Pois, mas esse é diferente", insisti eu, "esse toca a 45". O Zé Rui olhou para mim desconfiado e, uns minutos depois de o ter passado na rádio a 33, ouve, em pré-escuta, o disco na rotação que lhe indiquei. Olha para mim com um ar maravilhado: "Uau, que diferença".
Em "Victorialand", os Cocteau Twins prescindem, praticamente, dos sons de bateria e, como habitualmente, a voz de Elizabeth Fraser exala sons que não permitem o reconhecimento de palavras. Por isso, não admira que o Zé Rui não se tivesse apercebido que o disco estivesse na rotação errada. É o disco mais onírico, o mais poético, o mais etéreo dos Cocteau Twins. É o meu preferido. E do Zé Rui, que, na altura, me agradeceu o disco novo. Ouvi-o, esta manhã, na rotação certa. E, ainda, é novo.