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Nem me tinha apercebido, mas este maroto acabou de fazer 30 anos. Os Depeche Mode estavam no pódio das maiores bandas do mundo, quando editaram "Songs of Faith and Devotion". O mundo pop-rock tinha mudado muito, desde o anterior "Violator": grande parte da pop eletrónica virara-se para as pistas de dança e o rock voltava a ser fresco, com os Nirvana e o "grunge". Os U2 refletiram os ares do tempo, na obra-prima "Achtung baby". Para muitos, faltava saber se, depois de "Violator", os Depeche Mode fariam o seu "Achtung baby". Tentaram. Nunca os Depeche Mode tinham ido tão longe. Na verdade, nunca mais foram. "Songs of Faith and Devotion" é um disco ambicioso, grandioso, magistral. A banda carregou, ainda mais, nas guitarras e nas texturas rítmicas (com a forte presença da bateria). Mas, também, nos acordes poderosos e nos refrões orelhudos. Abordaram o rock, os blues, o gospel, a soul, a música ambiental e industrial. As canções são de "fé e devoção", de amor e sexo. Os temas habituais, com o negrume característico da banda. Nessa altura, os Depeche Mode já eram a maior banda alternativa de estádio. Partem para uma digressão que os vai levar ao colapso. Usam e abusam dos clichés do "rock and roll", até se tornarem num. Dave parecia um drogado, porque era um drogado. Martin abusava no álcool. Andrew teve um esgotamento. Alan deixou a banda, no final da digressão. Nunca mais voltou. De resto, a música dos Depeche Mode (que me perdoem os fãs) nunca mais voltou a ser tão relevante. Entrou em queda livre. E "Songs of Faith and Devotion" não chegou a ser "Achtung baby". Que pena.
- Afinal, o que é isso das "raves"? - perguntou-me o Joaquim.
- São festas com música de dança, noite fora.
- Música de dança, como? Danças de salão? Disco? Samba?
- Basicamente, música eletrónica: house, techno.
- Então, é uma noite de discoteca normal.
- Acaba por ser. Mas, muitas vezes, as "raves" são feitas em sítios diferentes.
- Tipo…
- Zonas industriais, monumentos, praias...
- Ah. E depois, ficam na praia?
- Não, depois as pessoas estão estoiradas e vão para casa dormir.
- Que pena. Quando eu vivia em Angola, também fazíamos festas para dançar a noite toda.
- A sério?
- É. Eu e os meus amigos pretos das cubatas. Depois, íamos comprar pão e ficávamos na praia, a dormir.
O Joaquim viveu em Angola, até 1975. África está-lhe entranhada na pele. De tal forma que, apesar de ser branco, muita gente chama-lhe "preto": o "Quim Preto". Lembrei-me dele, porque fui a uma festa, num teatro, que parecia uma "rave". Parecia, mas não foi. Porque acabou, ao fim de hora e meia. Enfim, coisas de Branko.
Olá, Tom! Tinha saudades tuas. E nem sabia.
Se quiserem saber mais sobre Tom Verlaine, leiam aqui o Nuno Galopim, que ele explica estas coisas muito bem.
- Vais trabalhar?
- Vou.
- Dou-te boleia?
- Não vale a pena.
- Deixa-te de coisas. Cantamos pelo caminho.
- Obrigado, boss.
Gosto de me colocar no lugar do outro. Pelo menos, tento. E se eu fosse o outro? E se eu estivesse no lugar do outro? E se o outro estivesse no meu lugar? A língua inglesa tem a expressão "in my shoes / in your shoes" - à letra, "nos meus sapatos / nos teus sapatos". Hoje, apeteceu-me estar nos sapatos do Zeca. Melhor dizendo, nas tamanquinhas.
(O disco "Com as minhas tamanquinhas", de José Afonso acaba de ser reeditado. Depois de vários anos sem edição discográficas, a obra integral de José Afonso está a ser reeditada).
No início, era a pandemia: o confinamento, o isolamento. O último disco dos Arcade Fire parte daí: da ansiedade ("Age of Anxiety"), da toca de cada um ("Rabbit Hole"). Começa centrado no "eu", mas evolui para um "nós". É um disco de introspeção, mas também de catarse, de redenção e de conexão. Um disco fotografia; mas, também, um disco cartão-postal: "Espero que este postal te encontre bem de saúde" / "Nós, por cá, tudo bem". No fundo, é o disco que eu estava a precisar de ouvir, por estes dias. Um disco que me faz regressar à minha adolescência: quando achava que as canções podiam salvar-me; quando achava que as canções podiam salvar o mundo. Por esta ordem, ou pela ordem inversa.