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Há muito, muito tempo, era eu uma criança. Eramos todos, de resto. Fomos ver um jogo de basquetebol. Um Benfica - Barreirense ou um Benfica - Queluz, já não me lembro. A maioria nunca tinha visto um jogo de basquete. Alguns nem gostavam, apesar de nunca terem provado. Mas lá fomos. Não me recordo do resultado. Mas lembro-me da surpresa dos meus amigos com o resultado. Contavam com uma vitória esmagadora do Benfica - o que não aconteceu (ganhou por um ou dois pontos). E contavam ver os grandes jogadores do Benfica. "Como assim?", perguntei. "Então, o Bento, o Nené, o Chalana... ". Estranhei: "Mas esse são jogadores de futebol!". "Eu pensei que eram os jogadores do Benfica, mas a jogar basquete!". Ainda reclamei "Isso não faz sentido nenhum!". Mas o Paulinho, com a sabedoria dos seus cinco anos rematou: "Não admira que estivessem a perder, pouparam nos craques!". É isso, Paulinho. Dois pontos. Golo.
(Na imagem, o português Neemias Queta. Campeão da NBA, pelo Boston Celtics)
- Tens os papéis, para entregar ao treinador?
- Tenho, pai.
- Como é que ele se chama?
- Não sei.
- Não sabes?
- Não, pai, é novo. Nós chamamos-lhe "mister".
- Mas, aqui, são todos "mister" .
- Todos, pai?!
- Todos, não. O teu pai é um "senhor".
A Madalena saiu da ginástica. Fez bem. Toda a gente sabia que os russos, comunistas, raptavam os melhores atletas para os levarem aos Jogos Olímpicos. A Madalena não era das melhores. Mas, antes que viesse a ser, levantou-se, de mansinho, do banco sueco e nunca mais voltou. Esperta! Até porque, se fosse malsucedida nos Jogos Olímpicos, não se iria livrar de uma estadia prolongada na Sibéria. Isto, claro, se as coisas começassem por correr bem. Porque, o mais certo, é que fosse, de imediato, comida ao pequeno-almoço. A Madalena era criança, coitada! Pior, nós também. Que arrepio! Tínhamos que agir depressa. Pensámos nas várias hipóteses. Decidimos aplicar a velha máxima: "o ataque é a melhor defesa". Ou seria ao contrário?! Bem, não interessa. O certo é que partimos em bando, para nos podermos proteger. Uns aos outros. Fomos comer russos, para a pastelaria em baixo da sede dos comunistas. Resultou. Afinal, quem é que come quem? Ah, a vingança nunca foi tão doce!
O treino foi em terra, que havia tempestade no mar. O barulho da chuva - ora vai, ora vem - lembrava o som das ondas. Tudo se tornou monótono. "Vou pôr música, para animar", disse-nos o nosso capitão. A música dos Clash espalhou-se pelo pavilhão. Senti a metamorfose: de "índio da meia-praia", a "punk" da meia-idade.
Esta moda dos homens andarem, por aí, de licra é deprimente. Espero que percebam: as camisolinhas, que vincam a protuberância abdominal, e os calçõezitos, que vincam a protuberância infra-abdominal, são peças de roupa muito, muito feias. Metam isto na cabeça, de uma vez por todas: o "maillot" pode ser bonito, para as meninas dançarem "O Lago do Cisnes"; mas não é bonito para os latagões de meia-idade pedalarem na marginal. Dito isto, se um dia destes me virem a andar, por aí, vestido de licra, podem ter a certeza: não sou eu.
Sempre que possível, ande a pé. Evite engarrafamentos.