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A Madalena saiu da ginástica. Fez bem. Toda a gente sabia que os russos, comunistas, raptavam os melhores atletas para os levarem aos Jogos Olímpicos. A Madalena não era das melhores. Mas, antes que viesse a ser, levantou-se, de mansinho, do banco sueco e nunca mais voltou. Esperta! Até porque, se fosse malsucedida nos Jogos Olímpicos, não se iria livrar de uma estadia prolongada na Sibéria. Isto, claro, se as coisas começassem por correr bem. Porque, o mais certo, é que fosse, de imediato, comida ao pequeno-almoço. A Madalena era criança, coitada! Pior, nós também. Que arrepio! Tínhamos que agir depressa. Pensámos nas várias hipóteses. Decidimos aplicar a velha máxima: "o ataque é a melhor defesa". Ou seria ao contrário?! Bem, não interessa. O certo é que partimos em bando, para nos podermos proteger. Uns aos outros. Fomos comer russos, para a pastelaria em baixo da sede dos comunistas. Resultou. Afinal, quem é que come quem? Ah, a vingança nunca foi tão doce!
O treino foi em terra, que havia tempestade no mar. O barulho da chuva - ora vai, ora vem - lembrava o som das ondas. Tudo se tornou monótono. "Vou pôr música, para animar", disse-nos o nosso capitão. A música dos Clash espalhou-se pelo pavilhão. Senti a metamorfose: de "índio da meia-praia", a "punk" da meia-idade.
Esta moda dos homens andarem, por aí, de licra é deprimente. Espero que percebam: as camisolinhas, que vincam a protuberância abdominal, e os calçõezitos, que vincam a protuberância infra-abdominal, são peças de roupa muito, muito feias. Metam isto na cabeça, de uma vez por todas: o "maillot" pode ser bonito, para as meninas dançarem "O Lago do Cisnes"; mas não é bonito para os latagões de meia-idade pedalarem na marginal. Dito isto, se um dia destes me virem a andar, por aí, vestido de licra, podem ter a certeza: não sou eu.
Sempre que possível, ande a pé. Evite engarrafamentos.
Menino de Ouro [Foto: Diego Azubel-Epa]
Remar, remar / Forçar a corrente [Tiago Petinga / Lusa]
As fadas não existem. São seres mitológicos. São belas, voam, e têm poderes especiais. As fadas não existem. [Foto: AFP]
"És lindo", grito-lhe, do outro lado da rua. "Tu é que és!", responde-me o Arsénio, com um sorriso de orelha a orelha. Sempre lhe invejei o sorriso, e não só: o porte, o estilo, a elegância, a pinta, a ginga. O Arsénio tinha o ar de quem conseguiria sacar as miúdas mais jeitosas do liceu. Era só querer. Mas não quis. Tanso. Sacou uma e casou com ela. Sempre na moda, começou a usar fatos de estilista, de bom corte, que combinava, impecavelmente, com peças mais descontraídas, de bom gosto. Mais tarde, começou a descobrir a sua negritude e a usar, também, peças de inspiração africana. Chamávamos-lhe o Arsénio Sexual e brincávamos com a sua boa figura: "Nunca te acusaram de Arsénio Sexual?" "Não, que eu sou um rapaz bem-comportado", respondia, sempre a sorrir. O Arsénio é uma figura. É tipo eu: só que mais alto, mais negro, mais musculado, mais charmoso, mais tudo. Fora isso, quase que somos parecidos. Ah, ele é parecido com o Jorge Fonseca.
[Foto: Jeon Heon Kyun-Epa]
Este fim-de-semana joguei à bola. Perdi, em toda a linha. Perdi o fôlego, perdi 10-7 e perdi o amor à camisola. É do Fernando Pessoa. Vou tentar transferir-me para o Álvaro de Campos. Pode ser que me saia melhor.