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Nem me tinha apercebido, mas este maroto acabou de fazer 30 anos. Os Depeche Mode estavam no pódio das maiores bandas do mundo, quando editaram "Songs of Faith and Devotion". O mundo pop-rock tinha mudado muito, desde o anterior "Violator": grande parte da pop eletrónica virara-se para as pistas de dança e o rock voltava a ser fresco, com os Nirvana e o "grunge". Os U2 refletiram os ares do tempo, na obra-prima "Achtung baby". Para muitos, faltava saber se, depois de "Violator", os Depeche Mode fariam o seu "Achtung baby". Tentaram. Nunca os Depeche Mode tinham ido tão longe. Na verdade, nunca mais foram. "Songs of Faith and Devotion" é um disco ambicioso, grandioso, magistral. A banda carregou, ainda mais, nas guitarras e nas texturas rítmicas (com a forte presença da bateria). Mas, também, nos acordes poderosos e nos refrões orelhudos. Abordaram o rock, os blues, o gospel, a soul, a música ambiental e industrial. As canções são de "fé e devoção", de amor e sexo. Os temas habituais, com o negrume característico da banda. Nessa altura, os Depeche Mode já eram a maior banda alternativa de estádio. Partem para uma digressão que os vai levar ao colapso. Usam e abusam dos clichés do "rock and roll", até se tornarem num. Dave parecia um drogado, porque era um drogado. Martin abusava no álcool. Andrew teve um esgotamento. Alan deixou a banda, no final da digressão. Nunca mais voltou. De resto, a música dos Depeche Mode (que me perdoem os fãs) nunca mais voltou a ser tão relevante. Entrou em queda livre. E "Songs of Faith and Devotion" não chegou a ser "Achtung baby". Que pena.
No fundo, no fundo, um livro é um conjunto de letras pretas imprensas em papel branco. Claro que precisa de conteúdo. Claro que precisa de ser bem escrito. E de ser revisto e paginado. E de (...), e de. Mas, se compararmos com o cinema, por exemplo, necessita de recursos muito escassos. Quando vou ao cinema, gosto de ver a ficha técnica para ver a quantidade de pessoas envolvidas: realizador, atores, produtores, figurantes, aderecistas, caraterizadores, carpinteiros, eletricistas, iluminadores, câmaras, iluminadores, engenheiros de som, sonoplastas... São dezenas e dezenas - às vezes, centenas e centenas - de pessoas. Eu fico, ali, a ver: por respeito e curiosidade, e, também, porque a banda sonora vem sempre no fim. Mas, há livros que parecem filmes de Hollywood, como "A Guerra Fria", de Odd Arne Westad. O livro é uma obra de fundo com mais de 700 páginas, divididas por mais de 20 capítulos. É uma grande produção espalhada pelos vários continentes, com investigadores, tradutores ou revisores de texto nesses/desses países. O autor precisou de 5 páginas, para agradecimentos, 15 para índice remissivo, mais de 30 para acomodar cerca de 600 referências. Claro que li tudo até ao fim, como no cinema. E (também aqui) a banda sonora chegou no fim. A última referência do livro é a citação de uma canção dos Depeche Mode - "Two Minute Warning" - que é, também, o título de um filme de Hollywood. Já agora, a canção - marcada pela ameaça da guerra nuclear - é das poucas canções que Alan Wilder escreveu nos Depeche Mode (uma banda que escolheu o nome de uma revista de moda francesa). Acho que já tinha feita a referência: gosto de fichas técnicas.