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O escritor David Machado e o ilustrador Paulo Galindro andam a enviar amor por correio. Fechados em casa, durante o confinamento, resolveram escrever sobre, e para, todos aqueles que estavam nas mesmas condições. A ideia foi crescendo e transformou-se em livro. Com a ajuda de todos (o livro foi financiado por "crowdfunding") trataram de tudo: texto, ilustração, edição, comunicação, distribuição. Esta semana, o livro chegou cá a casa. Numa altura em que usamos, cada vez mais, a tecnologia para encurtar distâncias e repor afetos, os autores de "Um dia de cada vez" acrescentaram artesanato. O livro chegou, na volta do correio. Vinha autografado, dentro de um envelope escrito e ilustrado à mão. Traz ideias muito úteis, para passar o tempo em casa: "organiza uma festa com os teus amigos imaginários"; "Abre um livro. Procura a frase que se parece mais com uma porta e entra" ou "...as lágrimas podem ser úteis de várias maneiras: regar as plantas, aromatizar o chá, tirar nódoas antigas de roupa, misturar nas aguarelas". Tão bonito. Apeteceu-me chorar, porque (no fundo) sou um pragmático.
Tinhas razão, meu filho, este livro não é para a tua idade. Fala de uma criança que foge de casa, carregando, aos ombros, uma culpa que lhe esmaga o peito. Nenhuma criança deveria carregar essa culpa. Nem ser ameaçada por adultos, que se aproveitam da sua solidão e do seu desespero. O livro parece um filme. Daqueles filmes-catástrofe, apocalípticos, de que eu nem costumo gostar. Mas - pensei - já que foste corajoso para ler as primeiras (e assustadoras) páginas e não paraste até chegar ao fim, não havia razão para eu não tentar a minha sorte. Ainda bem que tentei. Mais um livro maravilhoso de David Machado. Que fala da culpa, da coragem, da necessidade de correr riscos e de tomar decisões. Mas que fala, sobretudo, de amor e amizade. No fundo, as coisas que nos interessam: a ti a mim.