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Ontem, foi Dia da Dança. Hoje, é Dia do Jazz. Em vez de estar a fazer dias às pinguinhas, devíamos apostar em grande e fazer tudo num só dia. O Dia da Dança Jazz. Fica a sugestão.
- Olá, Vítor, estou a chegar!
- Ótimo, eu também estou a chegar.
- Calculei. Tenho ideia que acabei de o ver.
- A sério?
- Sim, ali na esquina do mercado.
- Vinha a comer uma banana?
- Acho que sim.
- Então, era eu.
Que bela forma de começar o encontro com o coreógrafo Vítor Roriz, que veio para o Festival. Serpenteámos as ruas da pequena localidade de Pujaut, até encontrar a correta. Subimos a pé, até ao local onde iria apresentar a sua performance, sob o som, ensurdecedor, das cigarras e o sol, inclemente, de Avignon. Ao todo, a atividade demora 7 horas, com pausa para o almoço. Mas eu tenho, apenas, um minuto e meio para contar a história, sem pausa para jantar.
"Também se pode coreografar o silêncio?", pergunta Aldina Duarte, a fadista-conversadora da minha rádio. Olga Roriz recorda-se de si própria - coreógrafa em construção: "A minha visão da dança não precisava de música. Eu não precisava da música para dançar". "Que interessante", pensei, porque tendo (penso que todos tendemos) a pensar que não se dança sem música. Mas descubro, na conversa, que cada vez se dança menos. Até em espaços como as discotecas. O que leva as duas conversadoras a refletirem sobre a perda, progressiva, de contacto com o corpo. E, sim, chegam à sexualidade. Uma delícia, este "Fado Cravo". Um programa de corpo inteiro.
www.rtp.pt/play/p9839/e682802/fado-cravo
- Afinal, o que é isso das "raves"? - perguntou-me o Joaquim.
- São festas com música de dança, noite fora.
- Música de dança, como? Danças de salão? Disco? Samba?
- Basicamente, música eletrónica: house, techno.
- Então, é uma noite de discoteca normal.
- Acaba por ser. Mas, muitas vezes, as "raves" são feitas em sítios diferentes.
- Tipo…
- Zonas industriais, monumentos, praias...
- Ah. E depois, ficam na praia?
- Não, depois as pessoas estão estoiradas e vão para casa dormir.
- Que pena. Quando eu vivia em Angola, também fazíamos festas para dançar a noite toda.
- A sério?
- É. Eu e os meus amigos pretos das cubatas. Depois, íamos comprar pão e ficávamos na praia, a dormir.
O Joaquim viveu em Angola, até 1975. África está-lhe entranhada na pele. De tal forma que, apesar de ser branco, muita gente chama-lhe "preto": o "Quim Preto". Lembrei-me dele, porque fui a uma festa, num teatro, que parecia uma "rave". Parecia, mas não foi. Porque acabou, ao fim de hora e meia. Enfim, coisas de Branko.
- Parabéns, D. Rosa, já sei que fez anos de casada!
- É verdade!
- E, então, como é que comemoraram?
- Ah, foi maravilhoso. O Armando trouxe-me um ramo de rosas vermelhas...
- Oh, rosas para uma Rosa!
- ... foi o que ele disse, e depois fomos jantar fora...
- Que bem!
- ... eu levei um vestido vermelho, ele uma gravata da mesma cor... depois, levou-me a dançar...
- Sim, senhor!
- É, eu adoro danças latinas.
- Bem, esse senhor Armando é um romântico!
- Acha?! Foi um dia igual aos outros.
- Ahhh...
- Não me diga que acreditou, que o Armando me levou a dançar?
Acreditei, por um Shegundo, confesso que acreditei. Teria sido bonito, para terminar o ano.
Um tango argentino, de Piazzolla; na voz de uma jamaicana, modelo em Paris e cantora em Nova Iorque. Diz que são precisos dois, para dançar Libertango.
"O meu pai trabalhava nos estaleiros de Viana do Castelo, mas eu já gostava muito de dançar. Então, os meus pais decidiram que eu devia ir para Lisboa, para seguir a minha vocação." "E que idade tinha nessa altura?", perguntei. "Tinha pouco mais de 3 anos". Cito, de memória, uma entrevista que lhe fiz, há mais de 10 anos. Olga Roriz: bailarina e coreógrafa; precoce e longeva. [Foto: Bruno Raposo/Global Imagens]