Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A minha rádio anda a passar canções da Kim Wilde. Que maravilha. A Kim é uma velha paixão, de quando eu era novo, muito novo. Era gira, loira, fresca, jovem, moderna, elegante, sensual. Adorei a energia de “Kids In America”. Parecia ser feita para miúdos como eu, apesar de eu não ser americano (com muita pena minha). Mas, gostei (ainda) mais de “Cambodia”: uma canção mais moderna e muito mais exótica. O vídeo (o "teledisco", como então se dizia) expandia o exotismo da canção (como os Duran Duran, nos vídeos de "Rio") e Kim estava (ainda) mais gira. Eu tinha uma paixão pela Kim Wild e tinha um plano (infalível) para a conquistar. Sim, eu era uma criança. Mas iria crescer e ser giro como o John Taylor dos Duran Duran. Infalível.
E, agora, a parte inesperada: eu e a Kim não chegámos casar. Eu sei, é difícil acreditar. Eu, próprio, não consigo encontrar uma explicação.
Casa de banho masculina, no museu dos ABBA, em Estocolmo.
É coisa de homem.
Este disco custou-me 1 650 escudos. Pouco mais de 8 euros, há mais de 30 anos. Uma fortuna, portanto. Nessa altura, a rádio não me pagava um salário - dava-me uma mesada, que eu trocava por joalharia rara. Neste caso, guitarras de filigrana; canções artesanais, sussurradas na voz e cosidas à mão. Imperfeitas. Rarefeitas. Três, de cada lado. Meia hora de música, apenas. Tempo que eu multiplicava, trocando de lado, tocando até à exaustão.
Em menos de 10 anos, os Felt editaram 10 discos. Uns, mais parecidos com os outros. Outros, mais diferentes dos outros. Todos bons. Este foi o primeiro deles. E foi, também, o meu primeiro. Raro, caro. E precioso, claro!
Música, aqui:
Como é que se diz David Bowie, em português? Ah, já me lembrei: Catarina Furtado.
- Estavas a falar de um disco chamado "Bach in Brazil"...
- Sim...
- Isso não existe, pois não?
- Existe, pois, tenho o disco e tudo!
- "Bach in Brazil"?! Qualquer dia, fazem um "Bach in Africa"!
- Já fizeram. E um "Mozart in Egypt"... Há de tudo...
- Como na farmácia?
- Não. Infelizmente, na farmácia não há música.
Em 1984, o espanhol Carlos Cano comprou um disco de Amália, em Lisboa. Apaixonou-se pela fotografia de Amália - olhos cerrados, pálpebras pintadas de azul, boca vermelha, cabelo negro. Depois, pela voz de Amália - de cor, também, "negra, quase mourisca, com uma capacidade de emocionar fora do comum". Inspirado, escreveu "Maria la Portuguesa", a pensar em Amália. De seguida, enviou-lhe uma primeira gravação da canção.
Amália telefonou-lhe de volta, para lhe dizer que, há muito tempo, não ouvia uma canção tão bonita. Então, Carlos Cano encheu-se de coragem e pediu-lhe para gravar a sua voz. Apesar de já não gravar, há cerca de dez anos, Amália acedeu. Gravaram em Lisboa. No entanto, a voz de Amália acabou por não entrar na canção, por motivos técnicos.
Em 2000, Carlos Cano voltou a gravar “Maria la Portuguesa”. Desta vez, Amália, apesar de ter morrido no ano anterior, apareceu na gravação. Já Carlos Cano desapareceu, nesse mesmo ano, levado por um aneurisma. O disco também estava desaparecido, desde a minha última mudança de casa. Apareceu agora, em boa hora.
A canção está aqui: