Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
É dos Trovante, chama-se "Beirute". Não foi um grande sucesso, mas é uma grande canção. A dada altura, o refrão diz assim:
É mais quente que o ar do deserto!
É mais escuro que um buraco aberto
Na memória de uma terra ainda morna,
Que já não torna
A ser Beirute...
Já agora, esta canção faz parte do mesmo disco que tem "Timor" - canção tornada hino e que fala de um pequeno país esmagado pelos grandes interesses.
Uma exposição imersiva, dedicada ao artista Salvador Dalí. Ao todo, serão mais de 150 obras projetadas no Edifício da Alfândega.
Para ouvir, aqui:
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/salvador-dali-em-exposicao-imersiva-no-porto_a1604519
No sábado, vai haver uma tainada na aldeia de Melo. Põem-se umas mesas, cá fora na rua, e come-se e bebe-se com os escritores. Vai ser uma festa. Parece que os escritores gostam tanto da terra de Vergílio Ferreira, que começam a chegar hoje.
Para ouvir, aqui:
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/festival-dedicado-ao-escritor-vergilio-ferreira_a1604065
Hoje é Dia da Música e eu lembrei-me de José Cid, na festa da aldeia da minha mãe, a cantar "Música, eu nasci prá música" - em cima do palco, frente a uma multidão. Eu também estava em cima do palco. Pensaram que eu era filho do artista e deixaram-me ficar: olhos abertos de encantamento, ouvidos pasmados com o "Zé da Anita", a "cabana junto à praia" e a canção do "dia em que o rei faz anos" - que era a que mais se adequava a esse dia de "arraial e foguetes no ar". Mas, "A minha música" - a tal do "música, eu nasci prá música" - era a minha preferida. E, ali, estava eu, a ouvi-la: em cima do palco, confundido com um filho de artista, num elegante fato azul "dégradé", camisa branca e laçarote. Uma criação do meu pai, alfaiate, feita para a criação lá de casa: eu e dois irmãos. Foi estreado para o casamento de uma prima e repetido em dias especiais, como a festa da terra da minha mãe, perto da terra de José Cid. Como eramos três, vestido de igual - de fato e de laço - começaram a chamara-nos Trio Odemira. Que disparate! Nós que até passávamos por filhos de Cid; nós, que não nos identificávamos com a música do Trio, nem usámos bigode. De resto, continuamos a não usar - nem mesmo a minha irmã, apesar de, entretanto, ter desenvolvido, uma estranha fixação por Frida Kahlo. Hoje, é Dia da Música. "A minha música" escolheu-me, pela manhã. E eu fique com vontade de vestir o fato azul, em "dégradé".
Barbeiro de Sevilha. Rossini. Coliseu do Porto.
Para ouvir, aqui:
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/o-barbeiro-de-sevilha-sobe-ao-palco-no-coliseu-do-porto_a1602986
Piotr + Leonard = Amor
Por norma, não gosto de sequelas. Mas desta gostei. O "Namoro II", dos Trovante, é uma sequela do "Namoro", do Fausto, que eu conhecia dos concertos, do Godinho. "Aí, Benjamim", gritávamos nós, da plateia, para que o Sérgio, no palco, nos ouvisse. Para perceber melhor a letra do "Namoro II", ouvi, vezes sem conta, o "Namoro" que o Godinho gravou (com o Fausto na guitarra, curiosamente) no álbum "De pequenino se torce o destino". Finalmente, 3 anos depois do "II", eis que Fausto grava, finalmente, o "seu Namoro", no álbum "A preto e branco" - o mais africano dos seus discos. Em vez de escolher um namoro, em vez de afirmar que não há amor como o primeiro, fico com os três. Fico com um tríptico, ao gosto de Fausto.
No dia da morte de Fausto, recupero este texto, com cerca de ano e meio.
"Não se deve confundir", diz a expressão, "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras". "Por este rio acima" é uma obra-prima e acaba de fazer 40 anos. Baseado nas viagens de Fernão Mendes Pinto, as letras do disco são um mergulho nas profundezas dos descobrimentos. Por vezes, o mergulho exige apneia: cheira a morte, a doença, a carne queimada e esventrada. Não há, aqui, qualquer exaltação ao lado bravo, guerreiro e conquistador - apenas, o lado escuro dos descobrimentos. A riqueza das letras é tão grande que acabou por secundarizar, involuntariamente, a riqueza das canções, dos arranjos, dos instrumentos. As percussões tradicionais portuguesas, mas também as tablas e as baterias; a guitarra portuguesa e o cavaquinho, tal como o alaúde e a viola de gamba; o piano acústico e os sintetizadores; as cordas e os instrumentos de sopro. Tantos instrumentos que acompanham a voz e a viola acústica de Fausto, omnipresentes, que, ora nos levam para paisagens exóticas e longínquas; ora nos trazem de volta a Portugal, com ritmos e melodias que nos são familiares. Obra-prima.
"Por este rio acima" é um álbum duplo, denso, conceptual, com um pequeno "libreto" ilustrado no interior. A viagem cresceu para trilogia, de forma tão avassaladora que (porventura) acabou por se sobrepor à obra integral de Fausto, que pode/deve ser (re)descoberta. Estamos perante um caso em que não se confundiu "a obra-prima do mestre, com a prima do mestre-de-obras", mas em que, por causa da obra-prima, se poderá ter deixado de reconhecer, devidamente, o mestre que a criou.