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Nem na doença sou "cool". Sempre fui assim. Lá em casa, por exemplo, a televisão a cores demorou a chegar. Quando, finalmente, chegou, tentei partilhar a minha excitação com os meus amigos. Mas, não vi ninguém. Estava tudo a alugar filmes no videoclube. Quando cheguei ao VHS, estavam todos a migrar para o DVD. Quando cheguei ao DVD estavam todos no "streaming". Comprava vinil, quando todos compravam CD. Compro CD, quando o vinil volta a ser "cool", mesmo que continuem a ouvir música no telefone. Ah, estou com Covid. Eu sei, cheguei atrasado. Uma vez mais. Tenho a certeza de que já há doenças muito mais "cool", por aí.
Olha, um "vai ficar tudo bem"!
"Guerra" é a Palavra do Ano, de 2022. Numa altura de abundância de palavras (ditas, escritas, gritadas, escarrapachadas), em que se usa e abusa das palavras, escolher uma palavra - uma só - por ano, soa a tarefa hercúlea. Quando a iniciativa da Porto Editora começou, perguntei-me se fazia sentido elaborar um "top" de palavras, submetê-las a votação e eleger uma só palavra. Porque a escolha pode refletir, apenas, a espuma dos dias. Mas, também é verdade que pode servir de barómetro, que ajuda a perceber os assuntos que mais preocupam os portugueses. No ano de 2022, marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a palavra escolhida foi "guerra". As palavras relacionadas com a Covid-19, que tinham dominado os dois últimos anos (no ano passado foi "vacina"), desapareceram. Se passarmos por 2017, ano dos grandes incêndios, a palavra do ano foi, precisamente, "incêndios". Em 2011, o ano da chegada da troika, a palavra escolhida foi "austeridade". Uma palavra - uma só - pode dizer muitas coisas. Pode dizer muito.
Oh, mau tempo! Dá vontade de ir para casa, deitar no sofá, com uma mantinha, e ver epidemiologistas na televisão. Como antigamente. Ah, bons tempos!
No início, era a pandemia: o confinamento, o isolamento. O último disco dos Arcade Fire parte daí: da ansiedade ("Age of Anxiety"), da toca de cada um ("Rabbit Hole"). Começa centrado no "eu", mas evolui para um "nós". É um disco de introspeção, mas também de catarse, de redenção e de conexão. Um disco fotografia; mas, também, um disco cartão-postal: "Espero que este postal te encontre bem de saúde" / "Nós, por cá, tudo bem". No fundo, é o disco que eu estava a precisar de ouvir, por estes dias. Um disco que me faz regressar à minha adolescência: quando achava que as canções podiam salvar-me; quando achava que as canções podiam salvar o mundo. Por esta ordem, ou pela ordem inversa.
Passei, agora, pelo Tio. Foi no telemóvel. O Tio deixou-nos, há poucos meses. Foi levado pela Covid. Quando o visitei, estava meio constipado. Mas não, não era uma constipação. Já não vendia saúde (é certo) mas, ainda, não estava doente (tinha, apenas, doenças - quem as não tem?). Claro que já não era o Tio que pegava o carro e, a caminho dos 90 anos, fazia um caminho de 250 quilómetros. Já não era o Tio, de há muito pouco tempo. O Tio tinha nome, claro. Tinha mulher, sim. Tinha filhos e netos. Tinha irmãos. Era, portanto, muitas coisas, ao mesmo tempo. Mas, para mim, era sobretudo o Tio: o meu Tio. O que juntava a família; o que telefonava, sempre, nos dias certos e, sempre, nos dias que lhe pareciam certos. O que não trocava datas, nem nomes, nem factos. O que me beijava em público. O que me que me contava histórias, de ontem e de hoje. O me perguntava sobre as histórias de hoje e dos próximos dias : "O que é que pensas disto?"; "O que é que achas daquilo?"; "O que é que pode acontecer?" Ao passar pelo Tio, no telemóvel, apeteceu-me falar dele. Das saudades dele. Está na letra "T". Para mim, foi Tio, antes de tudo. É Tio, antes de tudo.
Claro que há um dado novo: o primeiro-ministro trava a decisão sobre o novo aeroporto, anunciada pelo ministro da tutela.
Quanto ao resto - a discussão do aeroporto tem 50 anos, com apresentações, contestações, localizações e demissões - nem por isso.
Lembram-se do novo normal? Não vai acontecer. Temos o normal, de novo. [Fotografia: Tiago Petinga/LUSA]
Mais álcool. Mais tabaco. Mais peso.
São consequências da pandemia, que afetaram, sobretudo, os jovens - refere um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Eu - que não fumo e quase não bebo - devo celebrar a minha perda de peso, ou lamentar a minha perda de juventude?
Que interessante, tanta gente a falar de Vangelis. Julgava-o esquecido. Lembro-me de gostar (e de deixar de gostar) de "Friends of Mr. Cairo" - o disco que fez com Jon Anderson, dos Yes. Lembro-me da música da série "Cosmos", de Carl Sagan. Lembro-me da banda sonora de "Blade Runner", filme que só vi muitos anos mais tarde. Lembro-me de o achar parecido com o Demis Roussos, e só depois descobrir que tinham pertencido à mesma banda. Lembro-me do hino de Guterres, claro. Um ovo de Colombo. Mais, recentemente, lembro-me de "Momentos de Glória" / "Chariots of Fire" interpretada pela London Symphony Orchestra, dirigida pelo maestro Simon Rattle, nos Jogos Olímpicos de 2012. Tem uma "performance" hilariante de Rowan Atkinson, como Mr. Bean. Já a vi várias vezes com os meus filhos. Eles adoram. Serve para lhes mostrar que a música orquestral pode ser popular. Que um dos maiores maestros do mundo pode ser divertido. Que os britânicos são os maiores a fazer humor e a fazer espetáculos. Que Rowan Atkinson ficou com a parte mais chata. Que a música é bonita. Que a música é de Vangelis. Vangelis morreu com Covid-19. Tinha 79 anos.