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Aprendi, no Peru, que os Incas não conseguiam perceber a obsessão dos espanhóis com o ouro. Vejamos, eles também gostavam. Usavam ouro, em adornos e objetos. O ouro brilhava e estava associado ao deus sol, que veneravam. Mas daí até perseguir, massacrar, destruir, escravizar um povo e arrasar um império inteiro, vai uma grande distância. Contaram-me que os Incas chegaram a colocar a questão: será que os espanhóis comem ouro? Antes comessem. Mas não. Era só para tirar, roubar, acumular, transportar, vender, enriquecer. Depois inventavam-se umas coisas como “civilizar os povos” ou “converter as almas”.
Quando alguém já não precisa de mais dinheiro para comer, para comprar casa ou carro, para educar os filhos, ou para se educar a si próprio. Quando alguém ganha o que nenhum cidadão comum ganha. Quando tem uma ou mais reformas. Quando tem cargos, estatuto e papel; lugares em assembleias e conselhos gerais; comendas, presidências honorárias e doutoramentos honoris causa. Porque é que, mesmo assim, precisa de mais ouro Inca?
Para o comer. Só pode ser…
“O que na política é impensável, no futebol é o normal”, escreve Luís Osório no i.
O futebol é muitas coisas: é desporto, é competição, é espetáculo, é negócio, é poder. É é difícil encontrar jornalistas com capacidade para falar, com a mesma profundidade, sobre todos estes assuntos.
Acrescenta o diretor interino do i (e futuro diretor executivo do Sol): “No futebol, quando um jornalista faz uma pergunta mais agressiva (…), corre o risco de ser destratado e poucos ou nenhuns se questionam quando isso acontece.” É verdade. Basta pensar no que é que aconteceria se um partido, um grupo parlamentar ou um governo entrasse em “blackout”.
Um dos problemas que o jornalismo tem com o futebol é um excesso de identificação entre o observador e o objecto. Muitos jornalistas de futebol falam a mesma língua, vestem-se da mesma forma que os jogadores. Não há distanciamento (algo que também se passa com os jornalistas de economia).
Será que isto explica que a corrupção no futebol não seja devidamente escrutinada, pelos jornalistas? Talvez não explique, mas ajuda.