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"I will get Britain working again / Eu vou pôr o Reino Unido a funcionar, de novo", diz Liz Truss. Numa primeira impressão, soa-me a uma mistura de "Labour isn't working", um slogan de Margaret Thatcher, com "Make America great again", de Donald Trump. Um bom começo, portanto.
[Fotografia: John Sibley - Reuters]
A idade não é um posto. A política está cheia de gente nova, com ideias velhas. Mas, felizmente, também há exemplos do contrário.
“E, ali, estão os nossos inimigos”, terá dito Winston Churchill. “Na bancada dos trabalhistas?”, perguntou o jovem conservador. “Não, esses são os nossos adversários”.
Os britânicos são bons a sair. O Brexit é a prova disso mesmo. O antigo primeiro-ministro David Cameron saiu, antes mesmo da saída começar. Ontem, saíram o ministro do Brexit (David Davis) e o seu número 2 (Steve Baker). Hoje saiu Boris Johnson. Mas esta coisa de sair, ainda pode melhorar. Basta que os britânicos descubram porque é que saem, para quê, para onde e por onde…
Theresa May é a nova primeira ministra do Reino Unido. May foi contra a substituição de Tony Blair por Gordon Brown. Porque não houve eleições. Agora é primeira ministra, sem eleições. Porque mudou de opinião? Não, porque mudou de cargo. May chega ao cargo afirmando que “Brexit é Brexit”. May era eurocéptica. No entanto, fez campanha pela manutenção do Reino Unido na União Europeia. Agora, vai implementar o Brexit, na companhia de Boris Johnson. Johnson era o líder da ala conservadora que fez campanha pela saída. Agora, lidera a diplomacia do novo governo. Dá para perceber? Em teoria não. Na prática, sim. Percebe-se muito bem…
Quando Obama usou o slogan “Yes we can” lembrei-me da minha professora de inglês. Quando lhe que pedíamos licença para fazer alguma coisa usávamos a expressão “Can I?”. Ao que ela respondia “No, you can not. But, yes you may”. “May” é mais formal do que “Can”. Mas também tem menos força. O “Yes we Can", de Obama, sugeria capacidade de fazermos coisa juntos. Era sonho e utopia. Substituir “Can” por “May” não é só jogar com as palavras e com o sobrenome da nova primeira ministra. É substituir a utopia pela “realpolitik”. Mas, também, a convicção pela conveniência. E pela incerteza.
Dizem que Churchill foi um dos pioneiros da ideia de uma Europa unida. Era bom para a paz, para a economia, para a solidariedade. O projeto teria o apoio do Reino Unido, que, percebeu-se depois, não se incluía na Europa. Inclui-se, apenas, por exclusão de partes. Porque não é América, nem África, nem Ásia, nem Oceania. O Reino Unido sempre esteve com um pé dentro e outro fora da Europa. Por vezes, parece que faz bem. Quando, por exemplo, resiste à burocracia europeia que quer definir o tamanho das maçãs. Mas, outras vezes, é irritante. Quando faz valer o seu peso para negociar excepções, que não são permitidas a mais nenhum Estado.
Agora, a propósito da crise económica, da pressão migratória e do crescimento da direita radical, Cameron resolveu referendar a permanência do Reino Unido na europa. Vai-se votar “In ou “Out”. A coisa anda ao sabor da agenda mediática. Aparecem mais uns refugiados, cresce o “Out”. Fazem-as as contas ao impacto económico, sobe o “In”. Farage discursa de forma apaixonada e povo quer estar “Out”. Um louco mata uma deputada trabalhista, estamos “In”.
Independentemente do resultado ser “In” ou “Out”, já há um resultado que é certo. O Reino Unido está em tendência “down”, ou seja para baixo. E, com eles, descemos todos.