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É a loucura

por Miguel Bastos, em 09.01.24

- Porque é que a nossa rádio está a passar esta música? Não faz sentido nenhum.
- Porquê?
- Música francesa! Ninguém conhece bandas francesas!
- Eu conheço.
- Ai sim? E como é que se chama esta banda?
- The Stranglers. Mas, estes, são ingleses.
- Estás a brincar!
- Não estou, não.
- Então porquê é que o gajo está a cantar em francês?
- Porque "o gajo" chama-se Jean-Jacques Burnel. Nasceu em Inglaterra, mas é filho de pais franceses.
- Não sabia, mas isto não é música comercial, nós precisamos de música que venda, estás a perceber?
- Estou. Este é o disco dos Stranglers que mais vendeu.
- A sério?
- A sério. O "La folie" é o álbum de "Golden Brown".
- Tu sabes umas coisas.
- Sei, mas isso é muito pouco, numa rádio em que há tanta gente que sabe tudo.

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Offshorezinho

por Miguel Bastos, em 08.01.24

"Ai, queridos, estou tão triste. O meu Balsemãozinho vai-nos vender a todos!" A nossa camarada tinha todas as razões para estar triste. O último grande patrão dos media preparava-se, na altura, para vender todas as revistas do grupo Impresa. "Sabe-se lá, para quem é que vamos trabalhar..." Esse era, de facto, um grande problema. E continua a ser. Para o melhor e para o pior, sabia-se de quem eram as revistas. Quem era o "patrão". A quem é que se devia dirigir os elogios. A quem é que se podia fazer críticas, pedir responsabilidades e exigir explicações. Os grandes patrões dos media têm vindo a ser substituídos pela mão invisível do capitalismo financeiro. Sem rosto. Cada vez mais, os jornalistas, essenciais para o escrutínio da democracia, trabalham para organizações que são muito pouco escrutinadas e muito pouco escrutináveis. São fundos, que detêm empresas, que controlam outras empresas, que se dizem donos das empresas de media. O que poderão dizer, atualmente, os jornalistas com a vida em suspenso: "Ai, a minha "comparticipadazinha", com capitais de risco, vai-nos vender a todos" ou "Ai, o meu "offshorezinho" vai-me despedir"?

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Dar a ver

por Miguel Bastos, em 07.01.24

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"A rádio dá a ver. Pode parecer obsceno, mas muitas vezes a rádio consegue dar a ver com maior eficácia, com maior verdade, do que a televisão." Fernando Alves, no Público. Estou a ver a rádio, no jornal.

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Rádio Titanic

por Miguel Bastos, em 30.12.23

O líder do PSD responde a uma pergunta. Depois, responde a uma segunda. E, finalmente, responde a uma terceira. Três perguntas feitas, inevitavelmente, por três jornalistas da televisão. Depois, o líder do PSD faz um movimento para trás, em direção ao microfone: "e um bom ano para todos". "Bom ano!", ouço alguém a responder. Reconheço-lhe a voz. É de um camarada da rádio. A rádio: um meio que a generalidade dos políticos teima em ignorar. Mesmo agora, numa altura em que uma delas se está a afundar, perante a estupefação de tantos. Claro que esta é a altura de arregaçar as mangas, pegar num balde e tirar a água do convés. Mas nada nos impede de pensar, como é que chegámos aqui.

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Acidente de rádio

por Miguel Bastos, em 16.11.23

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Depois de um chorrilho de insultos, ainda ouvi as palavras "traidores" e "corruptos", já em "fade", com a voz do moderador (será que moderou?) a sobrepor-se, para anunciar o fim do debate. Fique aliviado por ter chegado no fim. Mas, eis que, depois de um "jingle" de estação e um bloco publicitário, anuncia-se um espaço de opinião. Entra uma batida "hip-hop" e uma voz coloquial pergunta "o que é que nos trazes hoje?" e o "opinador" começa a desenrolar um discurso contra o oportunismo, o socialismo, o chavismo, e volto a ouvir as palavras "traição" e "corrupção" e um locutor / jornalista a anunciar que "vale a pena ouvir as pessoas na rua" e ouvem-se palavras de ordem (ou serão de desordem?) e regressa a conversa informal com o "opinador" que traz mais acusações ao som de batidas "hip-hop". E, depois, novos "jingles", e "spots" e, agora, "a história de uma mulher que foi morta, assassinada, à porta de casa". E segue-se uma descrição pormenorizada, com um "jornalista criminal" ao telefone: a senhora teria mais de 60 anos e uma relação sentimental com o assassino, e estaria a recuperar de uma operação, e o agressor encostou-lhe uma arma na nuca, e ele descreve a arma do agressor, e o local onde a bala terá entrado, e como o sangue escorreu sobre os corpos dos dois. "Que horror!", exclama o locutor / jornalista. E a rádio, dinâmica, passa para outros sons das manifestações, intercaladas com vozes que me parecem ser de políticos (em assembleia, em entrevistas, em comícios), e palavras de ordem ("crime", "justiça", "corrupção", "política") - desta vez na voz colocada de um locutor. E, depois, entra mais um "opinador" que resolveu falar diretamente para mim "Escuta, se tu queres...". Mas eu - esperto - desliguei-lhe o rádio na cara.
 
Chego a casa, depois de uma passagem, não programada, pela Onda Curta - há muito abandonada em Portugal. E, ainda, não estou em mim.

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Jornalismo e jornalistas

por Miguel Bastos, em 10.10.23

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O livro "4 3 2 1", de Paul Auster, está cheio de referências ao jornalismo e aos jornalistas.
 
"Ser jornalista significava que nunca podíamos ser a pessoa que atirava pela janela o tijolo que começava a revolução. Podíamos ver o homem a atirar o tijolo, podíamos tentar perceber porque é que ele tinha atirado o tijolo, podíamos explicar aos outros a importância do tijolo no início da revolução, mas nós próprios nunca podíamos atirar o tijolo ou mesmo fazer parte da multidão que incitava o homem a atirá-lo. Por temperamento, Ferguson não era uma pessoa inclinada a atirar tijolos. Era, esperava ele, uma pessoa mais ou menos razoável, mas as agitações daquele tempo eram tais que os motivos para não atirar tijolos começavam a parecer cada vez menos razoáveis, e quando finalmente chegasse o momento de atirar o primeiro, a simpatia de Ferguson estaria com o tijolo e não com a janela."

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 Até já

por Miguel Bastos, em 15.09.23

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Quando fez 60 anos, a norte, a minha RTP escreveu o nome dos seus trabalhadores na parede. O meu nome está lá. E não está só, está bem acompanhado. Tenho orgulho de ter o meu nome escrito naquela parede, no local onde trabalhei quase 8 anos. Vou continuar a trabalhar na Rádio e Televisão de Portugal, apenas mais longe desta parede. Portanto, não há motivo para dramas. Eu é que sou um lamechas, agarrado às pessoas e aos locais onde habito. Onde tenho habitado. Trabalhado. Se pensar bem, a minha casa continua a ser a mesma - a Rádio Pública - só mudo de turma. Já nos encontramos, no recreio. Até já.  

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Ouço vozes

por Miguel Bastos, em 08.09.23

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"Isto é muito estranho", disse a convidada, "porque eu estou a falar com o João Gobern, mas ele não está aqui". "Estou, estou", disse o João, "garanto-lhe que estou". "Eu vou explicar aos ouvintes", continuou a convidada, "eu estou no estúdio, em Lisboa, com a Margarida à minha frente, mas o João está no Porto. E eu tenho de ter uns auscultadores, na cabeça, para o ouvir. Isto é surreal!". "Não é nada surreal", pensei, "é rádio". A rádio convive, desde sempre, com vozes à distância. A pandemia trouxe a democratização/banalização (riscar o que não interessa) das vozes à distância. Mas elas fazem parte da história e da paisagem sonora da rádio. E, no caso português, da prática diária das rádios do serviço público. Esta semana, tenho "contracenado" com o André Santos, na Antena 3. Hoje, juntámo-nos, pela primeira vez, em estúdio. Aliás, nunca tínhamos estado juntos, fisicamente, no mesmo espaço. É "surreal"?! Não, não: é rádio.

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Audição

por Miguel Bastos, em 30.05.23

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- Ó pai, tens um livro do António Sala?
- Tenho, foi a avó que me deu.
- A sério?
- Sim. Sabes, o António Sala é uma grande figura da rádio.
- Eu sei, tem muita audição.
- Audiência, filho. Diz-se audiência. O programa dele tinha muita audiência.
- Não, pai, audição. Aaauuudição Activaaaa!

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Energia

por Miguel Bastos, em 29.05.23

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- Hoje é Dia Mundial da Energia.
- Ai é?
- É. Temos que voltar a falar do tema. Nomeadamente, da crise energética.
- Achas?!
- Acho. Nos últimos tempos, com outras crises, deixou de ser assunto. Mas é um tema fundamental.
- Certo.
- Tens alguma sugestão, quanto ao tipo de abordagem?
- Tenho: "Quem é que ligou à crise energética?"; "A que horas ligou?"; "Informou a chefe de gabinete?".

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