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"Ai, queridos, estou tão triste. O meu Balsemãozinho vai-nos vender a todos!" A nossa camarada tinha todas as razões para estar triste. O último grande patrão dos media preparava-se, na altura, para vender todas as revistas do grupo Impresa. "Sabe-se lá, para quem é que vamos trabalhar..." Esse era, de facto, um grande problema. E continua a ser. Para o melhor e para o pior, sabia-se de quem eram as revistas. Quem era o "patrão". A quem é que se devia dirigir os elogios. A quem é que se podia fazer críticas, pedir responsabilidades e exigir explicações. Os grandes patrões dos media têm vindo a ser substituídos pela mão invisível do capitalismo financeiro. Sem rosto. Cada vez mais, os jornalistas, essenciais para o escrutínio da democracia, trabalham para organizações que são muito pouco escrutinadas e muito pouco escrutináveis. São fundos, que detêm empresas, que controlam outras empresas, que se dizem donos das empresas de media. O que poderão dizer, atualmente, os jornalistas com a vida em suspenso: "Ai, a minha "comparticipadazinha", com capitais de risco, vai-nos vender a todos" ou "Ai, o meu "offshorezinho" vai-me despedir"?
"A rádio dá a ver. Pode parecer obsceno, mas muitas vezes a rádio consegue dar a ver com maior eficácia, com maior verdade, do que a televisão." Fernando Alves, no Público. Estou a ver a rádio, no jornal.
O líder do PSD responde a uma pergunta. Depois, responde a uma segunda. E, finalmente, responde a uma terceira. Três perguntas feitas, inevitavelmente, por três jornalistas da televisão. Depois, o líder do PSD faz um movimento para trás, em direção ao microfone: "e um bom ano para todos". "Bom ano!", ouço alguém a responder. Reconheço-lhe a voz. É de um camarada da rádio. A rádio: um meio que a generalidade dos políticos teima em ignorar. Mesmo agora, numa altura em que uma delas se está a afundar, perante a estupefação de tantos. Claro que esta é a altura de arregaçar as mangas, pegar num balde e tirar a água do convés. Mas nada nos impede de pensar, como é que chegámos aqui.
Quando fez 60 anos, a norte, a minha RTP escreveu o nome dos seus trabalhadores na parede. O meu nome está lá. E não está só, está bem acompanhado. Tenho orgulho de ter o meu nome escrito naquela parede, no local onde trabalhei quase 8 anos. Vou continuar a trabalhar na Rádio e Televisão de Portugal, apenas mais longe desta parede. Portanto, não há motivo para dramas. Eu é que sou um lamechas, agarrado às pessoas e aos locais onde habito. Onde tenho habitado. Trabalhado. Se pensar bem, a minha casa continua a ser a mesma - a Rádio Pública - só mudo de turma. Já nos encontramos, no recreio. Até já.
"Isto é muito estranho", disse a convidada, "porque eu estou a falar com o João Gobern, mas ele não está aqui". "Estou, estou", disse o João, "garanto-lhe que estou". "Eu vou explicar aos ouvintes", continuou a convidada, "eu estou no estúdio, em Lisboa, com a Margarida à minha frente, mas o João está no Porto. E eu tenho de ter uns auscultadores, na cabeça, para o ouvir. Isto é surreal!". "Não é nada surreal", pensei, "é rádio". A rádio convive, desde sempre, com vozes à distância. A pandemia trouxe a democratização/banalização (riscar o que não interessa) das vozes à distância. Mas elas fazem parte da história e da paisagem sonora da rádio. E, no caso português, da prática diária das rádios do serviço público. Esta semana, tenho "contracenado" com o André Santos, na Antena 3. Hoje, juntámo-nos, pela primeira vez, em estúdio. Aliás, nunca tínhamos estado juntos, fisicamente, no mesmo espaço. É "surreal"?! Não, não: é rádio.